\ A VOZ PORTALEGRENSE: Crónica de Nenhures

terça-feira, maio 25, 2010

Crónica de Nenhures

Desperdícios

Vive-se por toda a Europa uma grave crise financeira. Essa crise é mais acentuada nuns países do que em outros.
Portugal, graças à classe dirigente, Governo, Partidos e Sindicatos, está por uma vez no denominado ‘pelotão da frente' da União Europeia. Todavia, esse lugar no dito ‘pelotão da frente’ não é por boas razões, mas sim pelas piores, Portugal está à beira da bancarrota, facto que só acontecera no século XIX!
O problema do défice das finanças públicas é muito grave, e a falta de competitividade da economia portuguesa mais acentua os vários desequilíbrios económicos, pelo que a resolução desta crise passa mais por cortes na despesa no que no aumento dos impostos.
Mas a actual classe dirigente desta Terceira República é altamente predadora de bens e benesses públicas. Desde o tempo do Segundo Liberalismo, com os Devoristas, que não se via coisa assim!
A diminuição da despesa pública através do corte nos salários da função pública é uma medida falaciosa. Em tempo algum essa medida resultou, embora os funcionários públicos vejam o seu salário diminuir e a consequentemente baixa do seu poder de compra. Não é através da diminuição das remunerações da função pública que o Estado pode resolver o astronómico défice público.
O actual défice público resultou de políticas económicas erradas. Mas há factos que agravaram, e em muito, essa dívida.
Os ciclos eleitorais são sempre geradores de aumento da despesa pública, mas o aumento continuado de gente a receber do Orçamento de Estado através da partidocracia, vulgo jobs for de boys, a par do desperdício de dinheiros públicos não são factores despiciendos para o forte agravamento da despesa pública.
Damos em seguida três exemplos, um nacional e dois locais, que comprovam o nefasto desperdício de dinheiros públicos, dinheiros provindos das contribuições e dos impostos pagos pelos cidadãos.
Em primeiro lugar, e recorrendo à primeira página do semanário Expresso do passado dia 15 de Maio de 2010, fica-se a saber do desperdício de dinheiros públicos que é feito na Assembleia da República. A subsidiodependência tem tentáculos em toda a parte, e é ver o presidente da AR e os partidos de extrema-esquerdas a querem ‘pagar’ à sua clientela através de uma peça de teatro, e, ainda por cima, através do gerador de corrupção que é o ‘ajuste directo’. Também a construção de uma ‘sala de fumo’, a custos escandalosos, é mais um elemento que prova as mordomias que aquela ociosa gente usufrui.
Em segundo lugar, é hoje inquestionável que o Poder Local é grande responsável pelo défice público. Parece uma Hidra insaciável na busca de fontes de receita, aumentando tudo o que lhe é possível para desespero dos munícipes, e suspirando por transferências financeiras vindas do Poder Central.
Hoje, o Poder Local substituiu-se à indústria, ao comércio e aos serviços na criação de empregos. Tal facto leva a que o ‘cartão do Partido’ seja condição fundamental para se ter emprego. E isto acontece em todos os Municípios do país.
Recentemente em Portalegre, a Câmara Municipal, com o acordo de todos os elementos da Vereação, abriu dois concursos ‘feitos por medida’.
Questionou-se então, e volta-se a questionar, se a CMP necessitaria daqueles dois funcionários. Mas o certo é que a despesa com salários aumenta desreguladamente, e a CMP está já a pagar juros de empréstimos bancários sobre anteriores empréstimos numa espiral financeira suicidária.
Tempos atrás, em plena campanha eleitoral autárquica, recebemos um mail que denunciava um dos tais concursos ‘feitos por medida’. Este facto político era verdadeiro, e veio depois também a ser denunciado pela comunicação social local.
Contudo, na altura espantara-nos o facto do primeiro emissor do mail, chegou-nos reencaminhado, não ter feito a denúncia publicamente, e ter querido que terceiros o fizessem. Mais tarde viemos a saber que tinha ‘telhados de vidro’, familiar próximo usufruíra da mesma ‘benesse’ que agora criticava aos outros… Daí se compreender mais tarde a unanimidade acima referida na reunião de Vereação. É que publicamente não podia dizer que não concordava…
O terceiro exemplo de desperdício de dinheiros públicos tem novamente ‘palco’ em Portalegre.
A Escola de Hotelaria e Turismo tinha um Director, nomeado por quem de direito, mas cuja indigitação se devia não a currículo mas sim a interesses partidários, um clássico job for de boy.
Porém, a dita nomeação fora ‘de fora’, e irritara profundamente a nomenclatura local. E desde o primeiro momento em que se conheceu o nome do Director, que uma campanha foi de imediato desencadeada contra a pessoa em causa.
Curiosamente, o seu desempenho no cargo não ofereceu reparos de maior, pelo que seria natural que terminasse no tempo certo a comissão, sem sobressaltos de maior.
Mas assim não podia acontecer. E numa política que em certos aspectos se poderia classificar de ‘política de alcova’, e também de mediocridade pessoal, o Director foi demitido, quiçá por ‘conveniência de serviço’, e substituído por outro, este já do agrado da dita nomenclatura local. Pelo meio existiram simulacros de concursos e quejandos.
Agora, o tal Director exonerado tem, e com toda a justiça, que ser indemnizado pelo incumprimento do contrato que as partes assinaram. Desta forma, o Estado irá pagar uma indemnização, e mais dinheiros públicos serão gastos apenas para satisfazer ‘clientelas políticas locais’.
Estes três exemplos de desperdícios de dinheiros públicos têm que ser multiplicados por todo o país. Portalegre não está ‘sozinha’ nestes casos. Só que nos últimos anos os exemplos de má gestão crescem por aqui exponencialmente.
Mário Casa Nova Martins
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