Desabafos, 2014/2015 - XIII
Burt Lancaster, D. Fabrício Corbera,
em Il Gattopardo, de Luchino Visconti, 1963
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Nós fomos os
leopardos, os leões: os que hão-de substituir-nos os chacais, as hienas;…
D. Fabrício, Príncipe de Salina
in, O Leopardo, Tomasi di Lampedusa,
Círculo de Leitores, Setembro de 1974, página 183
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Um cidadão, na
qualidade de trabalhador independente, não sabia que tinha que prestar contas à
Segurança Social.
Estando-se em
Portugal, em pleno século XXI, parece difícil de acreditar, e muito menos de
aceitar, tratando-se no caso em questão de alguém com qualificação académica
superior, logo, pensa-se, com um determinado grau de cultura e principalmente
de conhecimento de como funciona a sociedade.
Mas tal acontece, ou,
melhor, ainda acontece nos tempos que correm.
Quando um
primeiro-ministro sabe que esteve em dívida para com a Segurança Social, mesmo
sabendo que o processo dessa dívida prescrevera, só tinha que no momento em que
soube do facto ter tido a ética, mesmo tendo prescrito, de ter voluntariamente
liquidado a verba em falta, e não esperar que o caso fosse público para então
fazer esse pagamento.
Como diz o ditado
popular, «à mulher de César não basta ser séria, tem também que o parecer!».
São acontecimentos
destes, que dado quem neles está envolvido, os torna casos públicos, maculando
o currículo de quem os pratica. Diga-se o que se disser, ou quiser, a imagem
pública do actual primeiro-ministro de Portugal ficou diminuída quer interna,
quer externamente, e logo num tempo em que o governo que lidera se pretende
afirmar como cumpridor de todos os compromissos assumidos perante os
portugueses e face à comunidade internacional.
A não oportunidade
política deste acontecimento é notória. Enfraquece o governo e o partido a que
pertence.
As oposições
aproveitam este momento de fraqueza política do primeiro-ministro para o
achincalhar na praça pública, em vez de tomarem atitudes construtivas com o
objectivo de casos destes não terem lugar. É, como o povo chama, «a porca da
política».
in, Rádio Portalegre, Desabafos, 09/03/2015
Mário Casa Nova Martins
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