Convento de Santa Clara de Portalegre - III
DOS
MONUMENTOS ÀS PESSOAS - III
O Distrito de Portalegre, N.º 5781, 14 de Maio de 1982
O
CONVENTO DE SANTA CLARA
Fundado em 1376, o Convento de Santa Clara teve a
sua vida normal – pelo menos assim o cremos – até à extinção das ordens
religiosas decretada em 1833. A extinção teve esta nota humana que devemos
registar: o Estado não tomava conta dos conventos femininos senão depois da
morte da última religiosa existente, no Convento, no momento do Decreto de
extinção.
Assim, grande parte dos nossos Conventos de
religiosas sobreviveu até fins do século XIX. Entretanto, no de Santa Clara de
Portalegre, e é possível, e cremos que, certo, noutros Conventos, o espaço
livre ia sendo ocupado por Senhoras – ao jeito dos nossos lares de terceira
idade. Aliás as pessoas mais idosas ainda se lembram dessa fase do Convento e
das senhoras que nele habitavam e nele criaram as tão famosas amêndoas de
Portalegre, além doutra doçaria cujas receitas se perderam.
No caso concreto de Santa Clara, ainda são do nosso
tempo umas pequenas casas construídas para habitação de algumas dessas senhoras
– casas que foram destruídas quando das obras de restauro, ou melhor, modesta
adaptação do Convento para sede da «Obra de Protecção e Amparo de Nossa Senhora
das Dores», que muitos de nós conhecemos ainda em pleno funcionamento. O
Convento de Santa Clara hoje, apesar do seu estado ruinoso, é sede de várias
obras, de assistência, cultura e arte.
Obras de adaptação acabaram por facilitar o
alargamento da Rua de Elvas.
Mas a transição de imóvel em ruínas para sede da «Obra
de Protecção e Amparo de Nossa Senhora das Dores» não se fez sem difíceis
diligências e grandes sobressaltos.
Contaram-nos que, após a cedência, mais ou menos
oficializada, do Convento para essa benemérita instituição, que deu as mãos a
tantas raparigas despistadas, ou apenas em perigo moral, e que se ficou devendo
ao grande coração da magnânima Senhora, (uma das figuras mais distintas de
todos os tempos, da nossa cidade), D. Olinda Heitor Esperança Sardinha, a
Câmara, não concordando, de sua iniciativa, como, aliás estaria no seu âmbito,
se não houvesse má fé e não se tratasse de um monumento nacional, ordenou que
se deitasse abaixo a parte do Convento que limitava com a Rua de Elvas. Como
essas obras viessem pelo menos embaraçar a iniciativa da Senhora D. Olinda
Sardinha, em vias de lançamento, feito um apelo ao Governador Civil, este
mandou parar a demolição.
Assim nos foi dito, mas porque as actas da Câmara se
nem tudo incluem, nos merecem fé de documentos imprescindíveis, para
conhecimento da história dos burgos, lá fomos rebuscar as actas que vieram
confirmar o que ouvíramos.
Realmente a ordem expressa do Governador Civil, ao
tempo, tenente-coronel Gaudêncio José Trindade, para que a Câmara desistisse da
demolição foi motivo do pedido de demissão do Presidente e restantes membros da
Comissão Executiva da Câmara Municipal.
Mas isto fica para o próximo número, pois tem o seu
interesse.
Padre Anacleto Martins
_______.
Convento de Santa Clara de Portalegre - II
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