\ A VOZ PORTALEGRENSE: Convento de Santa Clara de Portalegre - III

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Convento de Santa Clara de Portalegre - III

DOS MONUMENTOS ÀS PESSOAS - III
 
O Distrito de Portalegre, N.º 5781, 14 de Maio de 1982
 
O CONVENTO DE SANTA CLARA

Fundado em 1376, o Convento de Santa Clara teve a sua vida normal – pelo menos assim o cremos – até à extinção das ordens religiosas decretada em 1833. A extinção teve esta nota humana que devemos registar: o Estado não tomava conta dos conventos femininos senão depois da morte da última religiosa existente, no Convento, no momento do Decreto de extinção.
Assim, grande parte dos nossos Conventos de religiosas sobreviveu até fins do século XIX. Entretanto, no de Santa Clara de Portalegre, e é possível, e cremos que, certo, noutros Conventos, o espaço livre ia sendo ocupado por Senhoras – ao jeito dos nossos lares de terceira idade. Aliás as pessoas mais idosas ainda se lembram dessa fase do Convento e das senhoras que nele habitavam e nele criaram as tão famosas amêndoas de Portalegre, além doutra doçaria cujas receitas se perderam.
No caso concreto de Santa Clara, ainda são do nosso tempo umas pequenas casas construídas para habitação de algumas dessas senhoras – casas que foram destruídas quando das obras de restauro, ou melhor, modesta adaptação do Convento para sede da «Obra de Protecção e Amparo de Nossa Senhora das Dores», que muitos de nós conhecemos ainda em pleno funcionamento. O Convento de Santa Clara hoje, apesar do seu estado ruinoso, é sede de várias obras, de assistência, cultura e arte.
Obras de adaptação acabaram por facilitar o alargamento da Rua de Elvas.
Mas a transição de imóvel em ruínas para sede da «Obra de Protecção e Amparo de Nossa Senhora das Dores» não se fez sem difíceis diligências e grandes sobressaltos.
Contaram-nos que, após a cedência, mais ou menos oficializada, do Convento para essa benemérita instituição, que deu as mãos a tantas raparigas despistadas, ou apenas em perigo moral, e que se ficou devendo ao grande coração da magnânima Senhora, (uma das figuras mais distintas de todos os tempos, da nossa cidade), D. Olinda Heitor Esperança Sardinha, a Câmara, não concordando, de sua iniciativa, como, aliás estaria no seu âmbito, se não houvesse má fé e não se tratasse de um monumento nacional, ordenou que se deitasse abaixo a parte do Convento que limitava com a Rua de Elvas. Como essas obras viessem pelo menos embaraçar a iniciativa da Senhora D. Olinda Sardinha, em vias de lançamento, feito um apelo ao Governador Civil, este mandou parar a demolição.
Assim nos foi dito, mas porque as actas da Câmara se nem tudo incluem, nos merecem fé de documentos imprescindíveis, para conhecimento da história dos burgos, lá fomos rebuscar as actas que vieram confirmar o que ouvíramos.
Realmente a ordem expressa do Governador Civil, ao tempo, tenente-coronel Gaudêncio José Trindade, para que a Câmara desistisse da demolição foi motivo do pedido de demissão do Presidente e restantes membros da Comissão Executiva da Câmara Municipal.
Mas isto fica para o próximo número, pois tem o seu interesse.
Padre Anacleto Martins
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Convento de Santa Clara de Portalegre - II
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