\ A VOZ PORTALEGRENSE: Convento de Santa Clara de Portalegre - I I

sexta-feira, dezembro 07, 2012

Convento de Santa Clara de Portalegre - I I

DOS MONUMENTOS ÀS PESSOAS - II
 
O Distrito de Portalegre, N.º 5780, 7 de Maio de 1982
 
Clara e Francisco «loucos»
 
Prometemos, a propósito do Convento de Santa Clara, falar desta mulher que, em Assis, se apresenta ao «louco» Francisco e lhe oferece a tesoura para que ele lhe corte as belas tranças, com que se teria entretido e ocupado os outros, na intenção de atrair olhares, de chamar atenções.
Foi um gesto simbólico, como foi real e simbólico o gesto de Francisco, despindo-se nos aposentos do Bispo, depois de estranho diálogo com o pai, atirando para os braços do rico mercador as vestes que dele recebera, tendo o Bispo de lhe cobrir a nudez com a sua capa. Assim nu, Francisco sente-se livre. De tranças deixadas, nas mãos de Francisco, e certa do seu apoio, para se lançar nos caminhos da sua «loucura» Clara não hesita – responde o sim ao apelo para gritar às raparigas de Assis, como Francisco aos rapazes, que há riquezas maiores do que o dinheiro e o prazer, que a única força libertadora é o Amor.
E desta Clara de Assis, nasce o 2.º Ramo da «Família Franciscana» - chamado das «Clarissas», indicando, assim, o nome da fundadora.
O apelo de Clara tem retumbante eco. Santa Maria dos Anjos para Francisco – São Damião para Clara e suas Irmãs. Mas, de Assis o fogo avança por toda a Itália, Europa Meridional e reinos cristãos da Península. O primeiro convento fundado, em Portugal, foi o de Lamego – fundado em 1258, cinco anos após a morte de Santa Clara. Entretanto, quase de imediato, se transfere para Santarém. Mas outros conventos surgem entre nós. O apelo à Paz que no interior destas casas se respirava, tocava o coração de Raparigas e Senhoras das mais famosas famílias – ficando abertas as suas portas a todas as mulheres que buscavam a Paz no despojamento de si mesmas; como nos conventos dos Franciscanos, a procuravam tantos desiludidos das seduções duma sociedade que, pelo menos, em relação a certas classes, já se poderia chamar «consumista».
Depois de Lamego, cujo convento se transferiu, como dissemos, para Santarém, surgem imponentes construções como a do Convento de Santa Clara de Coimbra, em 1319; o de Vila do Conde, em 1398; o de Portalegre - sóbrio, mas digno, como se conclui, pelo que resta do seu Claustro, em 1376; o da Madre de Deus, de Lisboa, em 1508; o de Jesus de Setúbal, de 1490.
Não terá sido estranha à relativa procedência, dada a Portalegre, na expansão deste 2.º Ramo da «Família Franciscana», a presença dos Franciscanos desde 1275, entre nós, mas a fundação do Convento deve a sua concretização, como já dissemos, à Rainha D. Leonor Teles, cuja generosidade, neste caso, merece registo.
Padre Anacleto Martins
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