Jaime Crespo
Político (s) logos à rasca!
Foi com alegria que vi a Avenida da Liberdade cheia. Oiço na rádio que no Porto se terão juntado cerca de 80 mil pessoas. Por todo o país terão sido cerca de 300 mil a protestar, à boca grande, contra os políticos e as políticas que o país tem rumado.
Esta gente toda remete para o caixote do lixo da História algumas análises que os politólogos do regime (não conheço outros) têm feito nos últimos tempos.
A primeira certeza, por eles espalhada, que cai por terra é a questão da abstenção.
No seguimento das últimas presidenciais, tentou-se desvalorizar o valor da abstenção, transformada em forma de protesto, tentando alegar que o valor em causa não seria afinal tão elevado porque existiriam mais de um milhão de inscritos fantasma. Agora, acusam estes manifestantes de quererem emprego e estabilidade mas de não se darem ao trabalho de irem votar, já lá iremos.
As pessoas abstém-se nas eleições porque o princípio da representatividade foi desvirtuado e não funciona. Neste momento os partidos no governo, Assembleia da República e o próprio Presidente da República, representam-se apenas e só a eles próprios, às suas famílias e aos amigos.
O sistema da Democracia está podre e fenece é pois necessário substitui-lo por um novo paradigma, a participação popular e a solidariedade interclassista.
Um sistema que defenda o povo, “povo somos todos” como dizia o meu saudoso professor de Matemática em Portalegre, Dr. José Nunes, é urgente.
Não se pretende acabar com os partidos políticos nem com os políticos e criar uma ditadura populista. Exige-se-lhes é outra forma de fazer política.
A segunda é a da competência. Dizem, “ah, eles têm muitos cursos e habilitações mas são cursos que não servem para nada”. Errado, além dos diplomas, a maior parte destes jovens tem qualificações e competências que lhes permitem trabalhar nas maiores empresas mundiais, ou centros de investigação internacionais, e alguns têm tomado esta opção. Então um curso de História, Literatura, Filosofia, Relações Internacionais, Jornalismo, entre muitos outros, não tem valor? Que cursos têm valor? Que cursos tiraram os agora comentadores e politólogos?
Para acabar esta parte, haveria outras certezas instaladas que poderia aqui referir, mas não me vou alongar, fica a do comodismo desta geração. Os comentadores formaram a ideia de que estes jovens vivem à pala dos pais porque isso é um luxo que lhes permite mandriar e nada fazer para alterar a sua condição. A resposta foi esmagadora.
Alguns tentam desvalorizar o tamanho do protesto com a alegação de que foram as máquinas aparelhistas do Bloco de Esquerda e do PCP a mobilizar esta gente toda. Quem diz isto nem sequer viu as imagens transmitidas pelas televisões, pois bastava isso para se perceber que os partidos, estiveram lá representados é verdade, mas de forma absolutamente marginal.
Depois desvalorizam os números com a desculpa, ai eles levaram também os pais e os avós. Se é certo que pela Avenida se viram muitas famílias, não é menos verdade que houve um protesto intergeracional, porque, ao fim e ao cabo, com o último código do trabalho, todos passámos a precários. Por outro lado, pessoas mais maduras e a poucos anos de atingirem a idade de reforma, após 30 e mais anos de trabalho, se viram atiradas para o desemprego e a precariedade. Ou seja, é um País inteiro que está à rasca. Por isso, os protestos tiveram a adesão que tiveram.
E a tendência é aumentar.
Alguns lamentaram o fato de num tão grande e global protesto, da extrema-direita aos Anarquistas viram-se bandeiras e símbolos de todos, nem sequer ter havido uma montra partida. Era do que eles estavam à espera para logo apelidarem os manifestantes de arruaceiros e se pedir a repressão policial.
Também aqui tiveram azar.
Jaime Crespo
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