Mário Silva Freire
PELOS CAMINHOS DA PAZ – 2
A paz e a justiça na economia e no trabalho
A sociedade contemporânea confronta-se, hoje, com problemas que, até há relativamente pouco tempo, não existiam. Trata-se, por um lado, do desenvolvimento das tecnologias de informação. Elas vieram trazer uma nova maneira de gerir as empresas e o próprio Estado. E essa maneira nova traduz-se em que as economias de agora, com menos pessoas a gerar riqueza, conseguem produzir mais.
Por outro lado, esse mesmo desenvolvimento acarretou a globalização dos mercados. Hoje, compra-se e vende-se em qualquer parte do planeta e vão-se adoptando, gradualmente, idênticos processos de gestão. Por isso, as economias competem entre si sem obstáculos de fronteiras. Ora, a competição exige a racionalização dos custos e estes têm reflexos no desemprego. Existe hoje um desemprego estrutural, isto é, não há postos de trabalho, por maior desenvolvimento que tenham as economias, que consigam absorver o número de pessoas que se encontram no mercado de emprego.
O trabalho assalariado e dependente tornou-se, por isso, num bem escasso e, de igual modo, a relação laboral conheceu uma acentuada perda do poder negocial por parte dos trabalhadores.
É neste quadro que emergem questões novas que podem ir contra a paz. Elas suscitam o interesse e o empenho de todos os que recusam a inevitabilidade dos fenómenos sociais, tais como o desemprego estrutural, o trabalho precário, os baixos salários a par da acumulação, cada vez maior, da riqueza produzida.
Por isso se fala, hoje, numa nova concepção do trabalho, para além da que se limita ao simples trabalho assalariado. Assim, o trabalho tem que incluir a educação dos filhos, a prestação de cuidados na família, a formação pessoal, a prestação de serviços à comunidade. Há que integrar, pois, este conceito de trabalho nos mecanismos da repartição da riqueza e da organização das sociedades, numa altura em que se antevê que irão sendo cada vez menores as oportunidades de trabalho para todos os activos que o procuram.
Torna-se necessário encontrar novas formas de regulação do mercado a nível nacional e supra nacional, a fim de que as situações de grande desigualdade e de exclusão social, fomentadoras de violência, não se acentuem.
Mário Freire
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