Carlos Manuel Faísca
A Carvoaria do Noroeste Alentejano
O carvão constituiu o principal combustível em Portugal até meados do século XX, tanto no uso doméstico, como na indústria. A exploração de carvão mineral limitou-se, no nosso território, às jazidas de lignite em Rio Maior e no Cabo Mondego e de hulha no Buçaco. Para suprir as necessidades deste combustível, foi então necessário recorrer ao carvão de origem vegetal, produzido a partir de lenha de diferentes tipos de árvores, tendo muitas carvoarias fixado em regiões florestadas juntos de cursos de água navegáveis.
Ora, por um lado, o Noroeste Alentejano (Gavião, Ponte de Sor, Montargil) era constituído por extensos arvoredos, com a predominância de sobreiros e pinheiros, mas também por terras incultas (charnecas). A economia desta zona foi marcada fortemente pelo aproveitamento florestal durante, pelo menos, o início do século XIX. Por outro, o Rio Tejo era navegável até Abrantes, existindo uma rota comercial que ligava a então vila Ribatejana a Lisboa, principal mercado de toda a produção alentejana.
Desta confluência de factores nasceu uma “indústria” e um comércio de carvão, responsável pelo abastecimento do enorme mercado lisboeta. A sua importância era de tal ordem que a população e as autoridades da capital, onde se inclui o Senado da Câmara Municipal de Lisboa mas também “empresários” de diversos ramos, debruçaram-se sobre vários problemas relacionadas com este comércio, durante as primeiras décadas do século XIX, como o combate aos fogos florestais, à desflorestação excessiva e a fixação de quantidades de produção e, consequentemente, do preço destas matérias-primas.
Da exploração florestal extraiam-se dois produtos diferenciados e com aplicações também elas distintas. Das charnecas retirava-se o mato e o tojo, que alimentavam as fábricas de tijolo, cerâmica, telha e cal. A partir dos montados de azinheira e dos pinhais, os galhos daquelas árvores serviam para o consumo doméstico, as padarias e confeitarias.
Para uma leitura mais aprofundada – SILBERT, Albert – Le Portugal Méditerranéen à la fin de l’Ancien Régime. 2ª ed. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1978.
Carlos Manuel Faísca
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