António Martinó de Azevedo Coutinho
Os cifrões são, de facto, uma motivação fundamental nas relações entre a BD e a publicidade. É, foi e será sempre assim.
Tintin e o Crédito Agrícola (francês, naturalmente!) foram bons aliados, como se prova nas gravuras juntas.
O próprio Tintin, só por si, alimentou durante muitos anos um comércio muito diversificado, sobretudo através de cupões impressos, disponíveis nas suas próprias edições, os quais serviam para adquirir com descontos uma infinidade de produtos. Também foram tomadas inúmeras outras iniciativas avulsas, como concursos, associando a marca Tintin a determinado tipo de artigos. Aqui, a relação publicitária (nada original, aliás) dizia respeito a marcas ou produtos comerciais relativamente modestos, sem grande nomeada. No entanto, a expressão económica destas sucessivas campanhas promocionais deve ter sido significativa pois estas mantiveram-se activas durante anos, sobretudo nas décadas de 40 e 50.
O universo fascinante criado por Hergé foi naturalmente o mais apetecido pelas redes do marketing publicitário por óbvios motivos que se prendem à imensa popularidade atingida pelas personagens, pelas histórias, pelo original estilo da linha clara, pelo próprio criador, pelo mito, afinal.
Desde os primeiros aos últimos tempos da vida profissional, autónoma, de Hergé, a publicidade fez parte integrante das suas preocupações e dos seus objectivos. As campanhas desenvolvidas em torno do lançamento dos seus novos álbuns e de outras produções anexas sempre foram muito cuidadas, até ao mais ínfimo pormenor.
Tintin e os seus companheiros de jornada venderam de tudo, desde histórias desenhadas a filmes, de peças de teatro a queijo, de automóveis a cosméticos, de calendários a chocolates e até cigarrilhas -imagine-se!-, assim invadindo o campo polémico do tabagismo, já atrás escalpelizado...
Mas também outros heróis da BD europeia, assim como os incontornáveis Astérix ou Lucky Luke, os Schtrumpfs ou Blake & Mortimer, assim como os super-heróis americanos, tanto se venderam a si próprios como ajudaram a vender bicicletas, relógios, esferográficas, motos, detergentes, leite em pó, refrigerantes, seguros, etc.
A polémica desencadeada pela intervenção de Astérix ao serviço da cadeia McDonald’s perderá uma boa parte do seu significado quando inserida num universo muito vasto e bastante complexo, de que se foi aqui patenteando uma pequena, embora curiosa, parcela. Como nos icebergues, também neste particular a parte maior fica oculta sob interesses dificilmente imagináveis.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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