António Martinó de Azevedo Coutinho
Ficaram expostas atrás algumas notas de protesto... e de esperança!
Um dia virá, e bem depressa, em que o nosso primeiro ministro mergulhará os pés na água quando saltar da cama e só então vai perceber que as suas desastradas políticas fizeram inclinar -definitivamente- o país para o mar...
Um qualquer meridiano tornar-se-á então eixo vertical do rectângulo (outra “jangada de pedra” de Saramago?) e todo o litoral mergulhará no oceano, enquanto nós, aqui no Norte Alentejano, passaremos a contar com uns 3000 e tal metros (!) de altitude no pico de São Mamede. Entretanto, uns certos “visionários” tinham andado décadas a prever (e temer!) este fenómeno a que chamavam “assimetrias” e “desertificação do interior”. Palavrões!
A passada “evaporação” do Ramal de Portalegre, a presente “diluição” do Ramal de Cáceres e a mais do que provável futura “sublimação” da Linha do Leste constituem instrumentos primorosos desta sucessiva política de cortes cegos, onde são desprezados os mais legítimos interesses das populações tradicionalmente mais abandonadas. Neste particular, Sócrates, Lopes, Barroso, Guterres, Silva, Soares, Balsemão, Amaral, Carneiro, Pintasilgo, Pinto, Costa, Azevedo, Gonçalves ou Carlos, em quase nada se distinguiram de Caetano ou Salazar, quanto ao clássico ou comum “esquecimento” dos direitos daqueles que estão longe, que são poucos, que por isso pouco votam e que, portanto, pouco contam.
É por estas e por outras que cada vez vou ganhando maior apreço por todos aqueles que não calam a sua revolta, mesmo que pareçam minúsculos Quixotes lutando contra gigantes. Afinal, a própria Declaração dos Direitos do Homem, livremente aceite e praticada em todas as Democracias, consigna a liberdade de expressão, portanto também de crítica, como inerente a todos os seres humanos. No entanto, por fácil comodismo, por mera “distracção” ou por deliberado calculismo, não costumamos ser seus praticantes habituais.
Nesta concreta preocupação, que a todos afecta mesmo quando dela nos julgamos isentos, vão-se juntando algumas vozes -delas deixei atrás ligeira nota-, num coro ainda ligeiro, que pode e deverá tornar-se mais forte, e firme, na defesa da nossa região e de todos nós.
Existem os canais e aqui os lembro, sem qualquer hierarquia, porque nesta emergência tal não conta. Na ausência de órgãos de comunicação impressos, os blogues (alguns blogues, registe-se!) estão a desempenhar a sua função comunicacional, chegando mais longe e com apreciável poder de penetração e de difusão. É o caso de Fórum Marvão (http://forummarvao.blogspot.com/) e de Notícias de Castelo de Vide (http://noticiasdecastelodevide.blogspot.com/) que, a partir das problemáticas específicas dos respectivos concelhos e embora não sendo suas vozes oficiais, veiculam geralmente notícias e opiniões interessantes e oportunas. Naturalmente, nem a um nem a outro escapou este momentoso caso, pelo que nas suas quotidianas intervenções já por diversas vezes se fizeram judicioso eco das preocupações tanto autárquicas como privadas, individuais ou colectivas.
Creio que esta legítima campanha continuará, pois ela é mobilizadora de todas as vontades, se possível unidas na defesa dos interesses do Norte Alentejano e não só.
Por ali se divulgaram algumas oportunas tomadas de posição das duas autarquias, de Marvão e Castelo de Vide, ambas profundamente empenhadas nesta cruzada. A simples título de exemplo, citam-se a proposta de classificação, como imóveis de interesse público, da Estação da CP da Beirã e dos edifícios anexos, por parte da Câmara Municipal de Marvão, ou uma moção de protesto, alusiva, oportunamente aprovada pela Assembleia Municipal de Castelo de Vide.
Entre as autarquias locais envolvidas, deve distinguir-se a persistente acção da Junta de Freguesia da Beirã, na plena consciência de que, com plena confirmação histórica, a localidade deve a sua existência e o seu progresso ao caminho-de-ferro. Trata-se portanto, neste caso, da luta pelo próprio direito à vida, no sentido mais rigoroso da expressão.
Dispondo também de uma página na NET (http://www.jf-beira.pt/main.asp), por esta podemos ter acesso a informação específica sobre a sua intervenção.
Como era natural, também o Fonte Nova e o Alto Alentejo, semanários com prestígio na região, publicaram textos sobre a momentosa problemática.
Porém, a instituição que merece um destaque especial, pela sua persistência, pela sistemática divulgação de oportunas tomadas de posição, pelas propostas concretas que sucessivamente tem apresentado, pela inteligência e pela modernidade reveladas, é o GAFNA - Grupo de Amigos da Ferrovia Norte Alentejana. A sua página, rica de informação (http://www.gafna.net/) merece uma urgente visita e, depois, um assíduo contacto.
As intervenções do Grupo, que de há anos vem lutando pela defesa, manutenção e fortalecimento do serviço público e do óbvio factor de progresso que o Ramal de Cáceres representa, não se têm limitado a criticar os sucessivos desmandos oficiais praticados, avançando com alternativas, sob a forma de propostas concretas muito oportunas e judiciosas, que vale a pena conhecer, discutir e... apoiar. Aliás, como a sua própria designação significa e abarca, o Grupo também acredita numa sempre possível “ressurreição” do nosso Ramal de Portalegre, e igualmente luta por este objectivo.
Portanto e em suma, a nossa sina é esta: na futura geografia ferroviária estatal, não há lugar para o Alentejo nem para Trás-os-Montes, com mais uns cortes avulsos por aqui e por acolá. Por exemplo, todos também sabemos, pela comunicação social, o que se passa com o Metro Mondego. Foi ali que, a propósito de todo este absurdo descalabro, um autarca afirmou, alto e bom som: - “Mais vale encerrar o interior e vai tudo para o litoral.”
Cada um que escolha. Por mim, já insinuei uma clara opinião pessoal; prefiro resistir em terra firme, nesta onde nasci e vivo, pois não estou interessado no exílio e, ainda menos, no suicídio por afogamento!
(... e pouca-terra, pouca-terra, até ao descarrilamento fatal)
António Martinó de Azevedo Coutinho
O último dos vídeos aqui reproduzidos contém as declarações de Paulo Fonseca, membro do GAFNA – Grupo de Amigos da Ferrovia Norte Alentejana. Aqui, ele define sumariamente os seus objectivos essenciais e resume as actividades que, ao tempo, a associação tinha já concretizado. É interessante constatar a lógica cumplicidade estabelecida com a Junta de Freguesia da Beirã, que aliás deu origem à série de vídeos, agora parcialmente reproduzidos, com a devida vénia. Vale a pena consultar a página do GAFNA patente na InterNet, sobretudo no grave momento que se vive perante ameaças que, concretizadas, mais agravariam a vida da nossa esquecida e abandonada região...
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