\ A VOZ PORTALEGRENSE: Jaime Crespo

terça-feira, janeiro 04, 2011

Jaime Crespo



Teoria política e económica ou conversa da treta?

Nos tempos conturbados que vivemos, os patrões, vão, de vitória em vitória, até conseguirem a escravatura total dos seus trabalhadores.
A ironia da situação, é que estas vitórias parciais são conseguidas através de sindicatos (organizações) patronais, organização que alguns deles negam aos trabalhadores. Ou que por defeito de funcionamento, deixaram de merecer a confiança dos mesmos trabalhadores.
No caso português, depois de terem conseguido impedir o aumento do ordenado mínimo para 5oo €, as entidades patronais descobriram agora que um dos principais empecilhos ao desenvolvimento da nossa economia está no valor mínimo de referência que as empresas são obrigadas a pagar como indemnização aos seus trabalhadores em caso de encerramento da mesma. Note-se que esse valor mínimo é de 1 mês de vencimento por cada ano de serviço que o trabalhador prestou à empresa.
E eu, ingénuo, pensando que o problema fundamental das empresas é o seu funcionamento, manter e pagar trabalho, criar lucro e riqueza, reinvestir, atualizar métodos de produção, etc., ou seja, manter-se em funcionamento, mas parece a julgar pela voz dos representantes dos empresários dos vários setores da economia, não, o seu principal problema é fechar e o valor das indemnizações a pagar àqueles que irão enfrentar o monstro do desemprego.
Passemos, para melhor compreendermos do que é que estamos a falar, a exemplos práticos. No meu caso pessoal que trabalho há 20 anos no mesmo posto e tenho um pobre de um ordenado que neste país miserável é considerado acima da média, são 1400 € mensais, o que quer dizer que a ser despedido teria uma compensação de 28000 €, o que aqui entre nós nem chegaria para acabar de pagar as prestações da casa.
Mas como nesta triste terra, a maior parte dos trabalhadores sobrevivem com o ordenado mínimo, neste momento os famigerados 485 €, quer dizer que um trabalhador com os mesmos 20 anos de serviço que eu receberia essa enormidade de 9700 € como prémio de ir para o desemprego. Ridículo não fora verdade, assim é trágico.
Que merda de empresários sustentamos nós que ao fim de uma vida inteira a trabalhar para eles, a ser explorado por eles, fazem birra e não querem pagar 9700 € a que deu couro e cabelo pela empresa?
Segundo o dirigente do sindicato dos empresários do comércio, conhecido como um dos setores que mais mal paga aos trabalhadores mas dos mais exigentes em relação a horários e carga de trabalho, o índice compensatório pelo fecho da empresa (falência, chamemos-lhe qualquer coisa), deverá ser equiparado com o espanhol, ou seja, 0,7 do mês por cada ano de serviço. Esquecendo-se o senhor de referir um ínfimo pormenor de que quaisquer 0,7 do salário mensal em Espanha são superiores ao meu salário mensal total!
Equiparação à União Europeia só no que interessa…
Perante este curto mas exemplificativo escrito já se viu que neste momento, apoiados no governo e ambos cavalgando a crise, os patrões só vão parar quando conseguirem retirar aos trabalhadores todas as regalias que aos segundos custaram muita luta, suor, sangue e lágrimas a conquistar e que os primeiros só concederam com medo do comunismo e com as pontas das unhas agarradas.
É o capitalismo selvagem no seu esplendor.
Aos trabalhadores, a luta continua pela construção do socialismo, assim o queiram fazer, não há outra escolha, ou esta luta ou a escravatura sem direitos.
Jaime Crespo