\ A VOZ PORTALEGRENSE: Mário Silva Freire

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Mário Silva Freire

CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO - XXVII

Crenças e expectativas na aprendizagem

É das relações entre as pessoas e de estas com as instituições que nascem as crenças e as expectativas. Todos nós temos as nossas crenças que não são, necessariamente, de natureza religiosa. Acreditamos em alguns dos nossos amigos, acreditamos que dado tratamento é que nos vai curar, acreditamos que é um certo partido político que nos vai salvar ou, então, não acreditamos em nenhum deles... Por outro lado, na família, no emprego, no grupo de amigos..., estamos sempre à espera que uns e outros façam isto ou aquilo. Esperamos sempre algo de alguém ou alguma coisa.
São estas crenças e expectativas que, transferindo-se para os que aprendem e para os que ensinam, irão condicionar muitos dos seus procedimentos. A este propósito, é elucidativa a peça Pigmalião, baseada num livro de Bernad Shaw e do qual foi extraído o filme My Fair Lady. Este conta a história de Eliza (Audrey Hepburn), uma vendedora de flores de classe baixa. Num dia chuvoso aparece na sua vida um professor rico, solteirão, Henry Higgins (Rex Harrison). Ele faz uma aposta com um amigo: que consegue transformar aquela rapariga pobre e que fala o pior calão de Londres, numa dama delicada, que pronuncia as palavras correctamente. Eliza, concordando com a proposta que lhe é feita, passa, então, a ser uma aluna que tenta, com muito trabalho e empenhamento, responder às expectativas do seu professor: aprender a falar correctamente e, ainda, a comportar-se como uma dama. E, na verdade, consegue transformar-se numa senhora culta que fala com elegância o inglês e se confunde com as damas de alta sociedade nas recepções dadas nas embaixadas. De tal modo a sua transformação foi radical que o professor acaba por se enamorar dela e com ela casar.
Relativamente aos alunos, se eles não acreditarem que conseguem aprender determinada matéria, por mais esforços que fizerem, não o conseguirão. Para isso, os professores são elementos fulcrais na aprendizagem, na medida em que, a par das suas competências pedagógicas e científicas, devem transmitir a crença de que os seus alunos são capazes de atingirem os seus objectivos. Quem parte já derrotado para uma tarefa, dificilmente sairá dela vencedor, por mais fácil que ela seja.
Não basta, no entanto, transmitir ao aluno, ao filho, ao colaborador… que ele é capaz de executar a tarefa. Igualmente eu, como pai ou mãe, professor, dirigente, tenho que acreditar naquilo que transmito. Formulando expectativas elevadas, tentarei nos meus comportamentos (ainda que, por vezes, inconscientemente), proporcionar as condições para que essas expectativas se concretizem.
Enfim, acreditando em mim ou em alguém, manifesto o meu querer e querer… é poder!
Mário Freire