\ A VOZ PORTALEGRENSE: Carlos Manuel Faísca

terça-feira, dezembro 14, 2010

Carlos Manuel Faísca

Salários

Ao nível dos salários, e como seria espectável, existe uma muito maior estabilidade por comparação com os preços.
Os salários que aqui apresentamos correspondem a ofícios pagos à jorna, isto é, diariamente. Dentro desta lógica, recolhemos dados salariais de trabalhadores especializados como carpinteiros, pedreiros, canteiros, pintores, etc., e de trabalhadores indiferenciados que realizavam todo o tipo de tarefas físicas, referidos nas fontes como trabalhador, servidor ou simplesmente como homem.
Procurámos evitar analisar profissões que possuíssem associados ao vencimento determinados benefícios concedidos pelo empregador e que dificilmente se poderiam contabilizar. Por exemplo, é comum surgirem nas fontes, para profissões como Físico ou Cirurgião, benefícios como a oferta do arrendamento de uma habitação cujo preço de mercado não é referido, ou pagamentos em géneros pouco especificados como um quarto de carneiro ou três quartos de porco. Também o Reitor, os Lentes da Universidade e outros funcionários da mesma administração recebiam propinas, em dinheiro ou em trigo, consoante os exames que faziam. Neste caso seria necessário contabilizar, para cada ano, para cada faculdade, para cada cadeira e para cada lente, o número de estudantes matriculados nos exames.
Numa primeira fase, recolhemos informação sobre os salários nominais dos trabalhadores especializados e não especializados. Facilmente chegamos à conclusão que este valor pouco se alterou ao longo do século. Verificamos um aumento geral, embora tímido, do valor dos salários, com a excepção dos trabalhadores especializados da capital. Assinale-se também a existência de uma diferença significativa dos valores dos salários entre as duas cidades, com os trabalhadores lisboetas a auferirem salários superiores, aumento esse que se acentua principalmente após a década de 50 de 1600. (Gráfico 2)

Gráfico 2 – salários nominais no séc. XVII (Lisboa e Coimbra)

No entanto, se tivermos em conta a desvalorização da moeda, todos os salários considerados acabam por baixar durante o séc. XVII. Naturalmente, os salários mais penalizados são aqueles com menor aumento do seu valor nominal durante este período, ou seja, à cabeça surgem os salários dos trabalhadores conimbricenses e com uma menor queda, os salários dos trabalhadores especializados lisboetas. (Gráfico 3)

Gráfico 3 – Salários (gr. Prata) no séc. XVII (Lisboa e Coimbra)
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Retrato económico do Portugal de setecentos: casos de Lisboa e Coimbra.