\ A VOZ PORTALEGRENSE: António Martinó de Azevedo Coutinho

segunda-feira, dezembro 13, 2010

António Martinó de Azevedo Coutinho

A aliança entre banda desenhada e publicidade constitui um capítulo interessante das relações estabelecidas entre um veículo e uma intenção, ou um suporte e um conteúdo.
Sem qualquer pretensão de desenvolver uma tese completa sobre o tema, a abordagem a alguns aspectos teóricos e práticos destas relações pode ser aqui esboçada, tendo como pretexto próximo o caso Astérix/McDonald’s.
Ao levar uma determinada mensagem ao conhecimento do público consumidor, o agente publicitário visa, ao mesmo tempo, informar e convencer. O seu fim último será concretizado na compra ou utilização do produto ou serviço publicitado. O êxito da campanha depende disto, em última análise.
Uma das características fundamentais da publicidade consiste no aproveitamento, mais ou menos habilidoso, da tendência geral do público para se deixar influenciar pelo prestígio do “mensageiro”, o transmissor ou portador da mensagem. Daí que a publicidade se tenha “lembrado” de utilizar a personalidade -embora ficcional- dos “heróis de papel” da BD. E, até, de abusar dela!
Sendo normalmente bastante explícita, a publicidade em banda desenhada também pode englobar uma componente encoberta, ou subliminar, ainda que esta modalidade seja bem mais frequente na propaganda propriamente dita. Como, aliás, é óbvio...
Como produto de consumo, a BD serve-se ela própria da publicidade, não escapando ao desempenho -muito frequente- de simultâneo agente e objecto das práticas do marketing comercial.
Uma variada temática tem sido alvo preferencial da banda desenhada publicitária: artigos escolares, artigos de recreio, alimentação e bebidas, produtos culturais diversificados como livros, filmes, discos, vídeos, programas, jogos e outros materiais informáticos, programas radiofónicos, etc., a própria banda desenhada e a sua “mitologia”, zonas turísticas, a banca e a bolsa, serviços e organizações diversas...
As campanhas publicitárias que envolvem a banda desenhada costumam desenvolver-se a vários níveis, que por sua vez podem interpenetrar-se. Registam-se quatro modos distintos da utilização do suporte BD por parte da publicidade:
- A banda desenhada propriamente dita, quer através das aventuras e séries habituais, quer através de curtas histórias especialmente criadas para o efeito;
- O prestígio das personagens, isoladamente, desligadas do seu “habitat” natural, ou seja, das histórias propriamente ditas;
- A reputação dos desenhadores, suficientemente reconhecível e conotável pelo seu estilo peculiar, ainda que desligado das personagens da BD que criaram;
- A “mitologia” da banda desenhada, traduzível na simples utilização de títulos, grafismos específicos, elementos da linguagem, símbolos, rostos e/ou nomes da personagens, etc.
Uma brevíssima passagem pelo universo da BD publicitária ou, melhor, da publicidade pela BD revela-nos a banalidade do quotidiano, aqui e ali salpicado por casos interessantes e, mesmo, invulgares. A esta luz, o caso McDonald’s nem mereceria qualquer referência especial.
O aproveitamento do suporte BD pela publicidade nem sequer é recente. Da experiência de todos os que têm lido os quadradinhos através dos tempos ressaltam exemplos diversos, ainda que nem sempre devidamente realçados como disso merecedores, saindo portanto da normalidade.
Nas histórias vindas de gerações passadas podemos recensear alguns dos casos interessantes, assim como noutros suportes publicitários envolvendo a BD, nos diversos níveis de utilização atrás enunciados.
António Martinó de Azevedo Coutinho