\ A VOZ PORTALEGRENSE: Mário Silva Freire

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Mário Silva Freire

CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XXVI

Aposentados educadores

Não! As palavras não estão trocadas. O que se trata é de pessoas de várias formações académicas e profissões e que, uma vez aposentadas, resolveram colocar os seus conhecimentos e experiências, benevolamente, a ensinar os outros. Foi com este espírito que nasceu em 1990 uma associação, em França, denominada de “Agrupamento de Aposentados Educadores sem Fronteiras”.
Tal como na crónica anterior, é o espírito de voluntariado que dá corpo a esta organização. Agora, não são os estudantes a ensinar mas aqueles que já chegaram ao fim da sua carreira profissional e que entendem que ainda têm muito para dar, ensinando.
Esta Associação, o GREF, conta com mais de 500 associados em actividade, oriundos dos sectores da educação, da formação de adultos, do trabalho social, da economia... As suas actividades situam-se em França mas, também, no estrangeiro, principalmente em países em desenvolvimento.
A Educação para o Desenvolvimento é uma das vertentes a que esta Associação dá maior ênfase. Assim, em território francês, desenvolveu acções em vários domínios como o da animação pedagógica, educação para a cidadania, colaboração com instituições locais…, visando públicos variados, especialmente, os juvenis.
Mas estes aposentados educadores também intervêm fora da Europa. A título exemplificativo, em África, eles formam alfabetizadores, dão formação a responsáveis por casas de acolhimento de crianças, ensinam higiene e saúde a mães, proporcionam a reinserção de jovens descolarizados…
Enfim, com esta crónica e a anterior pretendeu-se pôr em relevo uma atitude que, infelizmente entre nós, portugueses, ainda não está suficientemente interiorizada e, consequentemente, praticada que é a do voluntariado.
O voluntariado é um agente de transformação social. Ao assentar na doação de tempo e de conhecimentos, o trabalho voluntário faz apelo a um novo paradigma de relação entre as pessoas. Numa época de liberalização económica, em que os interesses individuais parecem sobrepor-se aos valores, o voluntariado apresenta à sociedade uma outra maneira de relacionamento inter-pessoal que não passa, necessariamente, pelas actividades lucrativas e interesseiras.
O trabalho voluntário não deve substituir as acções do Estado ou aliviar as instituições governamentais das suas obrigações. Muito menos, ainda, ele não deverá ser entendido como estratégia para reduzir custos. Mais do que suavizar as situações de carência, o voluntariado servirá, fundamentalmente, para aprofundar as mudanças positivas no sentido de uma maior igualdade de oportunidades e, assim, constituir-se numa das maneiras de combater as grandes desigualdades sociais.
Mário Freire