Mário Silva Freire
CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XVIII
A escolha de um curso superior
e a realização profissional
Vou observando as estatísticas referentes ao número de licenciados desempregados e ao número de alunos que procuram uma licenciatura e vejo quanto desconexa é essa relação. Assim, de acordo com o Instituto do Emprego e Formação Profissional, oito dos quinze cursos mais procurados pelos estudantes do ensino superior são os que têm as mais altas taxas de desemprego. Só para exemplificar, cursos como os de Gestão, Psicologia, Sociologia, Direito, Comunicação Social, Enfermagem, Contabilidade, Engenharia Civil… apesar do elevado número de desempregados, continua a suscitar o interesse por parte de muitos alunos. A que se deverá tal circunstância? Atribuo este desacordo entre a oferta e a procura, fundamentalmente, a três factores.
Um primeiro, talvez o de maior importância, e já abordado nestas crónicas, tem a ver com a Matemática. É sabido que esta disciplina é suporte de um amplo leque de cursos, de índole teórica mas também de ordem tecnológica. Ora, quando os alunos rejeitam a Matemática, necessariamente estão a eliminar dos seus horizontes aqueles tipos de cursos. Vê-se, pois, quanto o campo profissional fica limitado, para além da sua importância como disciplinadora e organizadora da mente, quando aquela disciplina é excluída.
Um outro factor, também de grande importância, é o da falta de informação. Parece difícil de entender que um aluno que pretende ingressar no ensino superior, não considere, para além das competências, capacidades e interesses que julga ter, o grau de empregabilidade das profissões relacionadas com o curso que pretende frequentar. É certo que hoje, com Bolonha, a licenciatura pode ser, apenas, um primeiro passo na escolha profissional. De qualquer modo, ainda que os alunos prossigam estudos, não irão, certamente, desviar-se de modo muito significativo da base de conhecimentos anterior. É certo, também, que vivemos numa sociedade de grandes mutações e o que hoje não é bom, talvez, amanhã, o seja. Pode ser uma esperança para quem abarca um sector sem futuro à vista!
Indicaria, ainda, um outro factor de escolha: o da moda e a conotação que tem a designação do curso. Um curso ser escolhido por alguns leva, também, a que outros o façam. E o ser escolhido é, às vezes, uma questão, apenas, da palavra ou da expressão que o representa. Não é por acaso que, algumas vezes, se altera a designação de um curso para o tornar mais atraente, embora os seus objectivos e conteúdos, com alguns retoques, permaneçam na mesma. Há cursos cujo nome remete para um certo imaginário não necessariamente condicente com a realidade a que conduz.
Enfim, a escolha de um curso superior é um acto complexo que, assentando nos conhecimentos e capacidades adquiridas ou, pelo menos, percepcionadas pelo próprio, vai mobilizar aspectos racionais e emocionais para a sua concretização. É na ponderação de todas estas componentes que pode resultar no dar do primeiro passo, mais ou menos próximo, mais ou menos longínquo, para a realização profissional e pessoal.
Mário Freire
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