Mário Silva Freire
CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XVII
Uma educação básica para a vida?
Observo uma estatística publicada em vários jornais de 31 de Agosto deste ano de 2010, e verifico que a percentagem de jovens desempregados, com menos de 25 anos, era em Junho de 2009 de 20,0%; passado um ano, neste mês de Junho, essa percentagem atingia o valor de 21,1%. Estes valores correspondem, aproximadamente, ao dobro da população desempregada maior de 25 anos.
Ora, vivemos num tempo em que o Estado, mais do que em épocas anteriores, tem gasto no sector da educação. Refira-se que, dado de 2006, Portugal foi o sexto país da União Europeia a 27 em que a despesa anual em instituições de ensino público e privadas representava uma das maiores proporções do PIB per capita: 27,8%. O valor médio na EU-27 desta medida situou-se em 25,2%.
Que significado podem ter estes números?Para além de um desemprego estrutural que está relacionado com uma economia altamente competitiva, globalizada, tecnológica, desumanizada, pondo em primeiro lugar o lucro, julgo existirem em Portugal aspectos que dificultam a empregabilidade dos jovens, no que se refere ao sistema de ensino.
Referir-me-ei, nesta crónica, apenas ao ensino básico
Diria, em primeiro lugar, que o nosso sistema de ensino básico, de nove anos, não é facilitador da empregabilidade. É certo que, nos últimos anos, este sistema introduziu uma componente mais prática. Este aspecto poderia facilitar o acesso ao mercado de emprego para uma significativa faixa de jovens, especialmente para aqueles que não tencionassem prosseguir estudos. Parece-me, contudo, que muitos dos cursos propostos, por um lado, não têm muito a ver com as necessidades profissionais sentidas nas regiões onde eles são leccionados e, por outro, a sua organização não se adequa às características do público destinatário.
Outro factor não facilitador da empregabilidade seria a falta de exigência que invade o nosso sistema de ensino básico. Uma parte significativa de alunos que não prossegue estudos sai do básico sem conhecimentos, sem competências e sem hábitos de trabalho e de disciplina. Ora, quem vai entregar um posto de trabalho a uma pessoa que não lhe merece confiança nos vários aspectos que o exercício de uma profissão requer?
Claro que falar-se de exigência não significa falar-se de reprovação. Mas, para que as duas palavras não sejam sinónimas torna-se imperioso desenvolver, para os alunos que não pretendem prosseguir estudos, um sistema de ensino básico flexível, motivador, profissionalizante, em articulação com o mundo do trabalho. Só assim, esses os alunos, com uma grande componente de natureza profissional, poderiam ganhar confiança em si próprios, não serem constantemente confrontados com o fracasso e adquirir aquelas capacidades técnicas e humanas que os tornariam profissionais responsáveis e pessoas integradas na sociedade.
Mário Freire
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