\ A VOZ PORTALEGRENSE: Carlos Manuel Faísca

terça-feira, outubro 12, 2010

Carlos Manuel Faísca

Desmistificando a História – I

O desempenho económico português
e a evolução das contas públicas
durante o século passado

Num período em que tanto se fala de défice das contas públicas e de crescimento económico, gostaria de traçar de uma forma muito geral qual foi o desempenho económico português e a evolução das contas públicas durante o século passado.
Na primeira figura temos a evolução da dívida pública portuguesa comparada com o PIB:

Figura 1 – Evolução da Dívida Pública Nacional
Fonte: 1850-1900: Neves (1994); 1900-1973: Mata e Valério (1994), 1974-2009: AMECO
Gráfico: Santos Pereira (2010)

Segue-se um quadro que compara o PNB português “per capita” relativamente a outros países:

Assim, e tratando-se dados puramente econométricos, podemos concluir com objectividade:
- Em 1913 a distância que separava Portugal dos demais países era provavelmente a maior que jamais tinha sido.
- Durante o período 1950-1973, pela primeira vez Portugal conseguiu acompanhar com sucesso, e até ultrapassar em alguns casos, o ritmo veloz de crescimento das principais economias mundiais.

Isto demonstra inequivocamente que, ao contrário do que me foi mal ensinado na escola, o Estado Novo não foi uma longa noite de atraso e recuo económico. Aliás, os historiadores têm vindo a reconhecê-lo lentamente. Não sou apologista nem defensor do Estado Novo, mas sim da verdade histórica, pelo que em nome da verdade tenho também que referir que se pode sempre argumentar que:
- Com outro regime/governação poder-se-ia ter crescido ainda mais;
- Que o Estado Novo “herdou” um Portugal paupérrimo (herdeiro da Monarquia Constitucional e da I República) e que portanto foi mais fácil obter índices de crescimento maiores. (O que é verdade, mas também existiram muitos outros países nesta situação e que não se desenvolveram a este ritmo).
- Que o crescimento económico ocidental foi excepcionalmente forte neste período, com um especial foco no forte aumento da natalidade e nos “milagres económicos” da Alemanha e Japão. (Contudo, também o tinha sido no final do séc. XIX, e nesse período Portugal afastou-se dos restantes países europeus).
Apesar de todos estes argumentos, em certa medida válidos, a verdade é que o Estado Novo não foi um período de estagnação económica, mas sim o contrário, pelo que, isso é que deveria ser ensinado nas escolas, apresentando-se também os argumentos que referi e provavelmente outros que não mencionei, para uma melhor compreensão deste período do ponto de vista económico. Para finalizar gostaria de recomendar a leitura do I capítulo da obra “O atraso económico português 1850-1930” de Jaime Reis, para uma melhor compreensão daquilo que afirmo.
A bem da verdade histórica,
Carlos Manuel Faísca