José Cutileiro
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CULPAR OS JUDEUS
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Alguns comentadores das atrocidades de Bombaim afirmaram que enquanto Israel ocupasse ilegalmente a margem esquerda do Jordão e isolasse a faixa de Gaza continuaria a haver ataques terroristas contra ocidentais e seus parceiros. Ouvi muitas vezes este argumento, acompanhado de um retraio do Próximo Oriente em que os árabes são vítimas inocentes e os israelitas ocupantes bárbaros.
O argumento é falso. O fito principal de Al-Queda e seus derivados é derrubar regimes árabes não devidamente piedosos. O Ocidente e os judeus só são alvos porque valem como propaganda. Quanto a resolver a questão israelo-árabe, os dois lados terão de fazer concessões: Israel deverá sair dos territórios ocupados, indemnizar os descendentes de palestinianos expulsos e partilhar Jerusalém; os palestinianos deverão aceitar algumas trocas de territórios, indemnizações em vez de retornos e renúncia à violência, incluindo terrorismo. Negociação muito difícil que exigirá todo o peso material e moral dos Estados Unidos para chegar aos compromissos necessários. Se Obama e a sua gente os conseguirem, farão desaparecer uma causa de instabilidade regional e um dos pretextos do novo anti-semitismo, promovido pelo Estado em países árabes - porque distrai dos podres próprios - e alimentado entre europeus por pendor antigo. O anti-semitismo de hoje não se afasta muito da maneira tradicional de tratar os judeus na Europa.
A imprensa europeia condena justamente colonatos judeus ilegais e o cerco de Gaza (sem levar em conta os mísseis que de lá partem), mas raramente lembra que a existência do Estado de Israel é constantemente posta em causa não só pelo Presidente do Irão mas também por programas de ensino, discursos políticos, telenovelas, artigos de jornal, conversas de sociedade e de rua em quase todo o mundo árabe. Uma invenção anti-semita do fim do século XIX - “Os Protocolos dos Sábios do Sião” - que pretendia ser acta de reunião secreta de judeus e maçons em Basileia em 1807, onde fora planeado o domínio do mundo pêlos israelitas, muito apreciado na Rússia czarista e na Europa Central dos anos 30, passa hoje outra vez por verdade histórica no Médio Oriente, onde muita gente não acredita que o Holocausto tenha tido lugar e quase toda a gente acredita que as torres de Manhattan foram derrubadas pela Mossad (os judeus que lá trabalhavam saíram uma hora antes dos aviões as deitarem abaixo “como toda a gente sabe”).
Um torturador argentino do tempo dos generais dizia que Marx tentara destruir o conceito cristão da sociedade, Freud o conceito cristão da família e Einstein o conceito cristão de tempo e espaço. O judeu era o inimigo. Mesmo que nem sempre com tanta pretensão intelectual, sentimento semelhante persiste em muitos peitos, dos Urais ao Cabo da Roca. Tribunos populistas animam-no em tempos de recessão, como animam proteccionismo e nacionalismo exacerbado. É adubo ideal para fazer brotar novos fascismos, de direita ou de esquerda.
O argumento é falso. O fito principal de Al-Queda e seus derivados é derrubar regimes árabes não devidamente piedosos. O Ocidente e os judeus só são alvos porque valem como propaganda. Quanto a resolver a questão israelo-árabe, os dois lados terão de fazer concessões: Israel deverá sair dos territórios ocupados, indemnizar os descendentes de palestinianos expulsos e partilhar Jerusalém; os palestinianos deverão aceitar algumas trocas de territórios, indemnizações em vez de retornos e renúncia à violência, incluindo terrorismo. Negociação muito difícil que exigirá todo o peso material e moral dos Estados Unidos para chegar aos compromissos necessários. Se Obama e a sua gente os conseguirem, farão desaparecer uma causa de instabilidade regional e um dos pretextos do novo anti-semitismo, promovido pelo Estado em países árabes - porque distrai dos podres próprios - e alimentado entre europeus por pendor antigo. O anti-semitismo de hoje não se afasta muito da maneira tradicional de tratar os judeus na Europa.
A imprensa europeia condena justamente colonatos judeus ilegais e o cerco de Gaza (sem levar em conta os mísseis que de lá partem), mas raramente lembra que a existência do Estado de Israel é constantemente posta em causa não só pelo Presidente do Irão mas também por programas de ensino, discursos políticos, telenovelas, artigos de jornal, conversas de sociedade e de rua em quase todo o mundo árabe. Uma invenção anti-semita do fim do século XIX - “Os Protocolos dos Sábios do Sião” - que pretendia ser acta de reunião secreta de judeus e maçons em Basileia em 1807, onde fora planeado o domínio do mundo pêlos israelitas, muito apreciado na Rússia czarista e na Europa Central dos anos 30, passa hoje outra vez por verdade histórica no Médio Oriente, onde muita gente não acredita que o Holocausto tenha tido lugar e quase toda a gente acredita que as torres de Manhattan foram derrubadas pela Mossad (os judeus que lá trabalhavam saíram uma hora antes dos aviões as deitarem abaixo “como toda a gente sabe”).
Um torturador argentino do tempo dos generais dizia que Marx tentara destruir o conceito cristão da sociedade, Freud o conceito cristão da família e Einstein o conceito cristão de tempo e espaço. O judeu era o inimigo. Mesmo que nem sempre com tanta pretensão intelectual, sentimento semelhante persiste em muitos peitos, dos Urais ao Cabo da Roca. Tribunos populistas animam-no em tempos de recessão, como animam proteccionismo e nacionalismo exacerbado. É adubo ideal para fazer brotar novos fascismos, de direita ou de esquerda.
in, Expresso, 06 de Dezembro de 2008
PRIMEIRO CADERNO 35
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