\ A VOZ PORTALEGRENSE: António Martinó de Azevedo Coutinho

domingo, dezembro 07, 2008

António Martinó de Azevedo Coutinho

CROMOS DA BOLA – II
(1949/50)
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Tinham decorrido cinco anos. A guerra “clássica”, a quente e em directo, tinha dado lugar a outra, fria e em diferido.
O Mundo, a Europa, Portugal e a nossa Portalegre respiravam um pouco melhor, embora os ambientes depressivos ainda se fizessem sentir, urbi et orbe.
As grandes festas comemorativas do 4.º Centenário da Elevação de Portalegre a Cidade sacodem, um pouco, a tradicional modorra local.
A zona norte da cidade, acima do Rossio, começa a agitar-se, com as obras do novo Mercado Municipal e com as urbanizações laterais do Passeio Público. A sociedade civil urbana responde com a constituição do Grupo Amigos de Portalegre, que prestará relevantes serviços. D. António Ferreira Gomes, um bispo sem medo, passa por aqui, quase de fugida, a caminho do Porto...
Futebolisticamente, a nossa Selecção Nacional é agora liderada por um novo seleccionador, portalegrense de adopção, Armando Sampaio. O balanço desta época, porém, não é mais brilhante que os anteriores: em Génova, 1-4 com a Itália; cá, 1-1 com a Espanha (com mais um golo do inevitável Peyroteu); depois, também cá, a única vitória, sobre o País de Gales (3-2, sendo um dos golos assinado pelo elvense Domingos Carrilho Demétrio “Patalino”); finalmente, mais uma derrota por 0-1, em Dublin, frente à Irlanda.
Após as retiradas de Armando Sampaio e de Peyroteu, pouco ou nada melhorará de imediato: 1-5 e 2-2 com a Espanha (lá e cá); 3-5 perante a Inglaterra (no Estádio Nacional) e 2-2, também intra-muros, contra a Escócia.
Em Portalegre, o Estrela tinha acabado de ascender à III Divisão Nacional. Quanto ao Desportivo, dotado nesta época de uma das suas melhores equipas de sempre, quase atinge a fase final do Nacional da II Divisão, apenas disso sendo impedido por uma “escorregadela” em Montemor-o-Novo. É interessante recordar aqui os nomes desses inesquecíveis atletas “azuis”: Martelo; Santos, Laima e Lagem; Coutinho e Mourão; Parra, Moreno, Canário, Machado e Almeida.
A Fábrica Universal, entretanto, continuara a função de difundir por todo o país os nomes e as fotos dos nossos futebolistas mais famosos, como de costume embrulhando os seus conceituados caramelos.
Época a época, a organização de António E. Brito tinha vindo a apresentar a relação de todas as equipas dos respectivos campeonatos da 1.ª Divisão Nacional, tendo-lhe acrescentado, em 1947, uma inédita caderneta dedicada aos Emblemas Desportivos (que talvez um dia aqui possa ser divulgada!) e vai agora (em 1950) juntar-lhe a colecção Azes do Pedal, recheada de ciclistas.
Cinco anos, em futebol, é quase uma eternidade.
O nosso principal campeonato continua a contar com 14 equipas, só que há algumas diferenças quanto ao “elenco” de há cinco anos. Mantêm-se Sporting, Benfica, Belenenses, Porto, Atlético, Académica, Guimarães, Setúbal, Olhanense e Estoril. O Sport Lisboa e Elvas transformara-se em O Elvas – Club Alentejano de Desportos (continuando a contar com Patalino) e tinham entrado Braga, Covilhã (onde jogava Roqui, que depois marcaria lugar de destaque e qualidade no futebol portalegrense) e Lusitano (o de Vila Real de Santo António). Os “despromovidos” tinham sido Boavista, Famalicão e Oliveirenese...
Agora, confrontando os presentes elencos das mesmas cinco equipas com os aqui divulgados há uma semana, podemos notar algumas interessantes diferenças. Para além das óbvias manutenções, devemos, a título de exemplo, destacar o seguinte:
No Sporting, colmatando a saída de Peyroteu, o rico manancial africano envia-lhe Juca e Mário Wilson. Este, porém, bem depressa rumará a Coimbra... Mas a grande aquisição dos verdes chamava-se Travassos, que se tornará um dos mais talentosos jogadores lusos de todos os tempos. Carlos Canário vai retirar-se em breve, a 2 de Setembro de 1951...
Quanto ao Benfica, a primeira diferença é desde logo o lugar da baliza, onde Mário Rosa substitui Martins. Félix e Rosário são caras novas no plantel encarnado, onde a mudança mais significativa, por suceder ao carismático avançado Espírito Santo, dá pelo nome de Melão.
Os Belenenses vão sentir as faltas de Capela e Vasco, nas redes e na defesa, para onde entram Caetano e Figueiredo. Também Amaro, Quaresma, José Pedro e Rafael darão lugar a novos como Rebelo, Narciso, Duarte ou Diógenes.
O Porto sofre também uma sensível renovação. Alguns titulares carismáticos (Alfredo, Octaviano, Araújo, Correia Dias ou Catolino) cederão os seus lugares a jovens que se afirmarão no futuro, como Virgílio, Gastão, Vital, Monteiro da Costa ou Vieira.
Na Académica, a grande novidade é a chegada de Capela, vindo de Belém, para as redes. Aliás, excepto Azeredo e o nosso bem conhecido Bentes, toda a restante equipa é radicalmente renovada, o que na Coimbra “estudante” desses tempos se percebe com facilidade.
Também a renovação gráfica patente na qualidade dos cromos é evidente. A sua maior dimensão permite um melhor registo dos pormenores dos rostos representados, tendo sido os fundos, as legendas, os títulos e o próprio tratamento global da página objecto de cuidados especiais.
Como curiosidade final, destaca-se o facto de, às 14 equipas de Futebol que integravam o Campeonato Nacional da época 49/50, a caderneta Desportistas de Portugal juntar 4 famosas equipas de Hóquei em Patins desse tempo: Grupo Desportivo de Paço de Arcos, Hóquei Club de Sintra, Sport Lisboa e Benfica e Club de Futebol Benfica.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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Equipas
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Associação Académica de Coimbra, época 1949/50

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Clube de Futebol «Os Belenenses», época 1949/50

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Sport Lisboa e Benfica, época 1949/50

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Futebol Clube do Porto, época 1949/50
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Sporting Clube de Portugal, época 1949/50
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Post Scriptum - Ver:
CROMOS DA BOLA - I - (1944/45)