\ A VOZ PORTALEGRENSE: Crónica de Nenhures

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Crónica de Nenhures

Memórias de Freitas do Amaral
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Quando terminámos a leitura do segundo volume das “memórias” de Diogo Freitas do Amaral, ficámos com pena do autor.
É que o esforço para provar a sua verticalidade ideológica leva-o a cometer todo um excesso de piruetas para mesmo assim dizer que ora é “centrista”, ora de “centro-esquerda”. Mas nunca de direita.
Já era conhecida a re-construção da sua vida política. Apoiado por Américo Thomaz, depois por Marcello Caetano, que o considerava seu discípulo, ambos traiu. “Recuperado” pelo regime saído da Revolução dos Cravos, é convidado a fundar um partido de direita, uma direita aceite pelos “revolucionários”. Acede, mas gera uma entidade política híbrida, que não era nem de esquerda, nem de direita. Aí a sua sanidade ideológica começa a dar sinais de insanidade política.
Fica-se da leitura do livro que Freitas do Amaral nunca compreendeu o seu papel em todo o processo político em que foi figura pública e que retrata neste volume, de 1976 a 1982. A sua dependência estratégica de Adelino Amaro da Costa era total. De uma enorme fragilidade emocional, Freitas do Amaral foi-se deixando manipular primeiro por Amaro da Costa e depois por Francisco Sá Carneiro.
Que não se diga que Freitas do Amaral é um político volúvel. Mas é sem dúvida um político frágil, inseguro. Medíocre. É comparável a Marcello Caetano, um Académico de alto valor, mas que foi um político fraco. Assim é Freitas do Amaral, uma “cópia” de Caetano.
Muitos exemplos se colhem da leitura do livro, acerca da incompetência política de Freitas do Amaral. Ele nunca conseguiu perceber que o CDS ao coligar-se com o PS, este tinha que “virar à esquerda”. Deixou-se enredar na tese de acidente em Camarate, com as consequências que tal facto trouxe para a não resolução do crime e punição dos responsáveis. Nos delicados momentos de decisão, nunca tomou a decisão que era a certa. A partir da morte de Amaro da Costa é visível o desnorte das suas intervenções, decisões e actos políticos. O fascínio por Sá Carneiro iria conduzir à dissolução do CDS no PPD/PSD, mas tal era também um desígnio de Amaro das Costa, “apresentado” como católico progressista e do centro-esquerda, e a bête noire da ala direitista do CDS. Mas ataca, com justiça e verdade…, Maria de Lurdes Pintasilgo, esquecendo que Amaro da Costa “comungava” muito das ideias de Pintasilgo em relação à Igreja Católica…
Freitas do Amaral considera como a sua “obra-prima” a “sua” Lei de Defesa Nacional. Sobre ela disserta abundantemente, e sente o maior consolo pelo facto de ainda hoje ela estar em vigor com um mínimo de alterações.
Mas o seu anticomunismo é visceral. Mas não é bem um anticomunismo real, porque depois irá ter no seu percurso pessoal e político as melhores relações com a extrema-esquerda do Bloco de Esquerda, e não só. É o PCP o seu maior “medo”, quiçá reminiscência de uma juventude e maioridade dentro do Estado Novo, ele sim doutrinalmente anticomunista, e onde via o PCP como o seu principal inimigo interno e o comunismo como o externo.
Em todo este período de 1976 a 1982, Mário Soares é reverenciado, quanto a António Ramalho Eanes fica-se pela “metade”, e Francisco Pinto Balsemão é zurzido. Sente-se magoado com o CDS, que não lhe pediu para não deixar a liderança. É contínua a crítica aos direitistas do partido que ajudou a fundar. De facto, já era um homem “só”. A sua estratégia fez com que perdesse amigos, como por mais de uma vez o afirma, mas também perdeu o partido.
O envio da sua fotografia para a sede do PS por parte da gente de Paulo Portas, um acto indigno!, que em futuro volume certamente Freitas do Amaral falará, significa a sua solidão política. O sucesso que foi a sua candidatura à Presidência da Republica, outro facto que no futuro trará à memória, diluiu-se com os erros políticos que veio a cometer.
Feitas do Amaral é hoje um político que não conquistou o respeito quer da direita, quer da esquerda. Se o tem do tal centro de que tanto fala, gosta e reivindica, talvez. Mas o centro em política é um lugar imaginário, logo, que viva a imaginação de Diogo Freitas do Amaral!
Mário Casa Nova Martins