A Inquietude do Tempo
Chegámos a Coimbra já depois de 1974, pelo que apenas conhecemos os anos que mediam entre a Crise Estudantil de 1961 e o 25 de Abril de 1974 através de testemunhos orais por terceiras pessoas.
Agora as Edições Afrontamento editam um livro intitulado «Anos Inquietos – Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974)», da responsabilidade de Maria Manuela Cruzeiro (Investigadora. Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais) e Rui Bebiano (Historiador. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais).
O livro é constituído por sete entrevistas a outros tantos ex-Alunos da Academia. Os seus nomes são, por ordem do índice: Eliana Gersão (Eliana Augusta Sanches de Castilho Gersão Alarcão e Silva), Fernando Martinho (Fernando Jaime Alves Dias Martinho), Carlos Baptista (Carlos António Magalhães Antunes Baptista), Pio de Abreu (José Luís Pio da Costa Abreu), Fátima Saraiva (Maria de Fátima da Silva Monteiro Saraiva), José Cavalheiro (José Roberto Tinoco Cavalheiro) e Luís Januário (Luís Carlos Januário Santos).
Todos eles são ilustres desconhecidos para as gerações que lhes sucederam na Academia e hoje nomes que nada dizem enquanto sociedade civil.
Mas têm uma “história” para contar e têm algo em “comum”. A “história” reporta-se aos anos em que frequentaram a Academia e o que têm em comum é a “oposição” ao Regime. Dado que este livro apenas retrata uma face da questão, colocamos as palavras História e Oposição entre aspas. É que a História constrói-se com imparcialidade, através da recolha de informação de todas as partes envolvidas, e este livro é parcial, porque só fala de ou dá voz a uma dessas partes, quiçá a mais aguerrida mas não certamente a mais representativa. Por outro lado, a Oposição ao Regime aqui apresentada é apenas a Oposição Comunista, e ao Estado Novo não existiu apenas a Oposição dos Comunistas, mas também houve sectores da Igreja contra o Regime, e no campo Laico, havia Monárquicos e Republicanos oposicionistas, como também Socialistas, anarquistas, Democratas Cristãos e até gente de Direita, e todos eles ao tempo representados na Academia.
Mas, outro aspecto que ressalta da leitura do livro, é que “a montanha pariu um rato”… Como, aliás, seria de esperar, e em dois sentidos. Em primeiro lugar, a parcialidade dos entrevistados apenas poderia dar uma imagem muito parcial do tempo de análise que abarca o livro (recusamos a chamar-se “estudo”), diríamos, imagem sectária. Em segundo lugar, o amargo da frustração que foi o acordar dos “amanhãs que contam”… É nítido em muitas das respostas, que de certeza tiveram “tratamento” posterior, o desencanto quanto ao que surgiu após Abril de 1974. Também se compreende, e de certeza esse não era o objectivo dos “democratas” e “pluralistas” organizadores do livro, que afinal a repressão não era como a lenda negra quis fazer crer, existindo, é certo, repressão, ela até era elitista, tratando “bem melhor” os estudantes que o proletariado…
Com o que acabámos de expor, espera-se que surjam novos leitores do livro, porque não deixa de ser um testemunho de uma época da Academia de Coimbra, sem bem que sectária. Mas abre portas para que gente mais séria intelectualmente promova, aí sim, um Estudo sobre estes anos e onde tenha a palavra, através da própria vivência, protagonistas de todos os sectores da Academia. Isso, sim, será História!
Agora as Edições Afrontamento editam um livro intitulado «Anos Inquietos – Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974)», da responsabilidade de Maria Manuela Cruzeiro (Investigadora. Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais) e Rui Bebiano (Historiador. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais).
O livro é constituído por sete entrevistas a outros tantos ex-Alunos da Academia. Os seus nomes são, por ordem do índice: Eliana Gersão (Eliana Augusta Sanches de Castilho Gersão Alarcão e Silva), Fernando Martinho (Fernando Jaime Alves Dias Martinho), Carlos Baptista (Carlos António Magalhães Antunes Baptista), Pio de Abreu (José Luís Pio da Costa Abreu), Fátima Saraiva (Maria de Fátima da Silva Monteiro Saraiva), José Cavalheiro (José Roberto Tinoco Cavalheiro) e Luís Januário (Luís Carlos Januário Santos).
Todos eles são ilustres desconhecidos para as gerações que lhes sucederam na Academia e hoje nomes que nada dizem enquanto sociedade civil.
Mas têm uma “história” para contar e têm algo em “comum”. A “história” reporta-se aos anos em que frequentaram a Academia e o que têm em comum é a “oposição” ao Regime. Dado que este livro apenas retrata uma face da questão, colocamos as palavras História e Oposição entre aspas. É que a História constrói-se com imparcialidade, através da recolha de informação de todas as partes envolvidas, e este livro é parcial, porque só fala de ou dá voz a uma dessas partes, quiçá a mais aguerrida mas não certamente a mais representativa. Por outro lado, a Oposição ao Regime aqui apresentada é apenas a Oposição Comunista, e ao Estado Novo não existiu apenas a Oposição dos Comunistas, mas também houve sectores da Igreja contra o Regime, e no campo Laico, havia Monárquicos e Republicanos oposicionistas, como também Socialistas, anarquistas, Democratas Cristãos e até gente de Direita, e todos eles ao tempo representados na Academia.
Mas, outro aspecto que ressalta da leitura do livro, é que “a montanha pariu um rato”… Como, aliás, seria de esperar, e em dois sentidos. Em primeiro lugar, a parcialidade dos entrevistados apenas poderia dar uma imagem muito parcial do tempo de análise que abarca o livro (recusamos a chamar-se “estudo”), diríamos, imagem sectária. Em segundo lugar, o amargo da frustração que foi o acordar dos “amanhãs que contam”… É nítido em muitas das respostas, que de certeza tiveram “tratamento” posterior, o desencanto quanto ao que surgiu após Abril de 1974. Também se compreende, e de certeza esse não era o objectivo dos “democratas” e “pluralistas” organizadores do livro, que afinal a repressão não era como a lenda negra quis fazer crer, existindo, é certo, repressão, ela até era elitista, tratando “bem melhor” os estudantes que o proletariado…
Com o que acabámos de expor, espera-se que surjam novos leitores do livro, porque não deixa de ser um testemunho de uma época da Academia de Coimbra, sem bem que sectária. Mas abre portas para que gente mais séria intelectualmente promova, aí sim, um Estudo sobre estes anos e onde tenha a palavra, através da própria vivência, protagonistas de todos os sectores da Academia. Isso, sim, será História!
MM
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