Casa do Gaiato
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E sob o influxo do tempo de Natal que celebramos o aniversário da Obra da Rua, concretamente a abertura da primeira Casa do Gaiato, em Miranda do Corvo. Era 7 de Janeiro de 1940.
Um parto que teve uma longa gestação de comunhão de sofrimento com a sorte dos mais Pobres, principalmente as crianças da ruas de Coimbra. Este era bem mais um ponto de chegada que de partida. Era fruto de uma intuição, de um desejo amadurecido: «remediar a sorte dos farrapões das ruas». Um nascimento operado com alegria profunda também: «acabavam-se as horas amargas daquele Setembro sombrio... tinha uma casa para eles...» Era o nascimento da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo. A Obra da Rua passava a uma fase institucional na sua vertente propriamente educativa, com grande originalidade: o auto-governo, uma casa deles, por eles e para eles.
Naturalmente que, como veremos mais tarde, a Obra da Rua não se esgotará aqui, num modelo de educação, em mais um método de educar — pese a sua novidade. Ela irá continuar a ser sobretudo, na esteira do seu Fundador, o exercício de um carisma profético de denúncia e defesa dos direitos dos mais fracos, as crianças, os pobres, os doentes.
As Casas do Gaiato nasceram daquele dinamismo que brotava da alma do Padre Américo: a sua vocação sacerdotal; do seu chamamento de impelido por Deus, consciente de ser apenas um Seu simples instrumento, porque, como ele frequentemente acentuava, «é Deus Quem escolhe a hora e que termina a realização... nós somos apenas executores... é preciso pôr Deus no seu lugar».
Na conceptualização das Casas do Gaiato há, antes de tudo, esta consciência do transcendente, sem a qual, nada. Quão é importante se compreenda esta intuição para não arquitectar acertos metodológicos e pedagógicos de risco. Podemos e devemos «caiar» a casa, «rasgar» janelas ou arejar cubículos sombrios, mas há pedras no edifício educativo que são fundamento e alicerce. Retiradas estas, aquele desmorona-se e desfaz-se.
É a fidelidade a essa dimensão de fé, de ousadia e transcendência que torna possível o amor e escutar o homem na sua verdade e indigência: «deixe-nos ficar consigo» gritavam as crianças pegadas à capa de Pai Américo. No seu clamor, Pai Américo intuía a voz de Cristo, pedindo auxílio. As Casas do Gaiato nasceram desta escuta, desta atenção, como resposta ao sofrimento provocado pelo abandono. Porque se tem abafado o grito das crianças, mesmo antes de nascer, elas têm diminuído em número nas Casas do Gaiato. Muitos dos nascidos na dificuldade de meios e de amor aqui encontrariam a possibilidade de viver. Queremos voltar a ouvir o grito das crianças: «deixe-nos ficar consigo...», «deixem-nos ficar convosco». O Padre Américo reconheceu-o como missão à qual nós queremos ser fiéis também dentro dos princípios que nos regem: o auto-govemo onde os chefes são eleitos pela Comunidade, no seio da qual se exercita, a liberdade, a espontaneidade e a responsabilidade num trabalho comum; onde se cultivam as virtudes humanas da solidariedade, generosidade, camaradagem e amor ao próximo; num ambiente marcadamente familiar, longe da pauta regulamentar, ou do peso sombrio do reformatório; onde o factor natureza-campo desperte para os valores sobrenaturais.
Neste aniversário em tempo de Natal queremos agradecer o amor, o apreço que de tantos sectores da nossa sociedade recebemos. Ao nosso Deus pedimos vocações, a disponibilidade de as acolher, com humildade e caridade, sacerdotes, leigos, senhoras que partilhem a sua maternidade: boas prendas de aniversário, neste Natal.
Um parto que teve uma longa gestação de comunhão de sofrimento com a sorte dos mais Pobres, principalmente as crianças da ruas de Coimbra. Este era bem mais um ponto de chegada que de partida. Era fruto de uma intuição, de um desejo amadurecido: «remediar a sorte dos farrapões das ruas». Um nascimento operado com alegria profunda também: «acabavam-se as horas amargas daquele Setembro sombrio... tinha uma casa para eles...» Era o nascimento da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo. A Obra da Rua passava a uma fase institucional na sua vertente propriamente educativa, com grande originalidade: o auto-governo, uma casa deles, por eles e para eles.
Naturalmente que, como veremos mais tarde, a Obra da Rua não se esgotará aqui, num modelo de educação, em mais um método de educar — pese a sua novidade. Ela irá continuar a ser sobretudo, na esteira do seu Fundador, o exercício de um carisma profético de denúncia e defesa dos direitos dos mais fracos, as crianças, os pobres, os doentes.
As Casas do Gaiato nasceram daquele dinamismo que brotava da alma do Padre Américo: a sua vocação sacerdotal; do seu chamamento de impelido por Deus, consciente de ser apenas um Seu simples instrumento, porque, como ele frequentemente acentuava, «é Deus Quem escolhe a hora e que termina a realização... nós somos apenas executores... é preciso pôr Deus no seu lugar».
Na conceptualização das Casas do Gaiato há, antes de tudo, esta consciência do transcendente, sem a qual, nada. Quão é importante se compreenda esta intuição para não arquitectar acertos metodológicos e pedagógicos de risco. Podemos e devemos «caiar» a casa, «rasgar» janelas ou arejar cubículos sombrios, mas há pedras no edifício educativo que são fundamento e alicerce. Retiradas estas, aquele desmorona-se e desfaz-se.
É a fidelidade a essa dimensão de fé, de ousadia e transcendência que torna possível o amor e escutar o homem na sua verdade e indigência: «deixe-nos ficar consigo» gritavam as crianças pegadas à capa de Pai Américo. No seu clamor, Pai Américo intuía a voz de Cristo, pedindo auxílio. As Casas do Gaiato nasceram desta escuta, desta atenção, como resposta ao sofrimento provocado pelo abandono. Porque se tem abafado o grito das crianças, mesmo antes de nascer, elas têm diminuído em número nas Casas do Gaiato. Muitos dos nascidos na dificuldade de meios e de amor aqui encontrariam a possibilidade de viver. Queremos voltar a ouvir o grito das crianças: «deixe-nos ficar consigo...», «deixem-nos ficar convosco». O Padre Américo reconheceu-o como missão à qual nós queremos ser fiéis também dentro dos princípios que nos regem: o auto-govemo onde os chefes são eleitos pela Comunidade, no seio da qual se exercita, a liberdade, a espontaneidade e a responsabilidade num trabalho comum; onde se cultivam as virtudes humanas da solidariedade, generosidade, camaradagem e amor ao próximo; num ambiente marcadamente familiar, longe da pauta regulamentar, ou do peso sombrio do reformatório; onde o factor natureza-campo desperte para os valores sobrenaturais.
Neste aniversário em tempo de Natal queremos agradecer o amor, o apreço que de tantos sectores da nossa sociedade recebemos. Ao nosso Deus pedimos vocações, a disponibilidade de as acolher, com humildade e caridade, sacerdotes, leigos, senhoras que partilhem a sua maternidade: boas prendas de aniversário, neste Natal.
Padre João
in, O GAIATO, 6/1/2007, p. 1
in, O GAIATO, 6/1/2007, p. 1
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