\ A VOZ PORTALEGRENSE: Águas Mansas (1963)

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Águas Mansas (1963)

Em Ponta Delgada, retrata Horácio Bento a luta pela água de rega necessária à sobrevivência dos canaviais, bem como a rivalidade empresarial existente na laboração dos engenhos de canas-de-açúcar. O herói, Pedro de Guimarães, personagem de contornos autobiográficos, é o fio condutor que desdobra o romance em duas partes, decorrendo a acção entre 1913 e 1958.
Na primeira parte, as personagens, desde os industriais locais à vendeira bêbeda, palpitantes de realismo, evoluem em torno do problema central e vital que a gestão da água constitui para a freguesia, ao ritmo dos mais variados mexericos e rivalidades inerentes à sua distribuição. À margem desses remoinhos, há o despertar de Pedrinho para a vida e, neste despertar, entra a Constança, seu idílio romântico, que a mãe do rapaz vê com maus olhos por ser de condição social inferior.
Na segunda parte, Pedro Guimarães vai cursar medicina em Lisboa, abordando o problema de um estudante provinciano vivendo na capital. O leitor assiste então “ao desenraizamento ideológico da terra por parte do estudante, se bem que só à superfície, porque no seu íntimo, tudo permanece...”. É também nesta fase da vida que o herói se inicia nos jogos da sedução e na consumação dos desejos, nomeadamente com Leonor, a sobrinha do Sr. Refoios, indivíduo tradicionalista, quando não caricatura simpática de um passadista, em casa de quem está hospedado. Morre o Sr. Refoios, Pedro conclui o curso. No final, regressa o Dr. Guimarães à terra natal após muitos anos de ausência, casado de fresco e bem apessoado. A aldeia que deixou não é a mesma; desprendem-se então das páginas um perfume de nostalgia.
[Graziela F. Camacho]
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AS PERSONAGENS
Pedro Guimarães: filho de família de bens. Tem uma psicologia romântica, entrega-se a uma vida interior intensa e à volúpia do sentimento amoroso.
Sr. Guimarães: pai de Pedro. Industrial que investe num engenho a vapor.
Constança: Filha de pobres caseiros. A sua relação com Pedro é vista como uma aberração social pelos pais de Pedro.
A avó de Pedro: “sem cópia, sem mimetismo servil inclui-se na galeria literária daquela tia Doroteia do Minho, imortalmente esculpida no romance de Júlio Dinis” (Agrippino Grieco)
Germano Teixeira: dono de engenho de aguardente do Lugar da Fonte. Avarento, finório, mas de bom coração, capaz de intervir para defender os labregos que para ele trabalham. De carácter invejoso e falso. Personagem sensual, dado aos prazeres da vida. Tem um caso com a amante do Engenheiro.
Manuel Filipe: o outro fabricante de aguardente. Proprietário do engenho da Pedra Funda. É ganancioso, manhoso e calculista.
Caboz: mendigo.
Gregória: taberneira de origem brasileira, o tipo da ninfomaníaca alcoólica que se prostitui e que acabará mal.
A prima Teodora: mulher do campo bilhardeira.
Leonor: a sobrinha do Sr. Refoios. Libidinosa. Personagem fialhesca.
Sr. Refoios: É o indivíduo tradicionalista, afectado, cerimonioso.