\ A VOZ PORTALEGRENSE: Convento de Santa Clara de Portalegre-VII

sexta-feira, janeiro 11, 2013

Convento de Santa Clara de Portalegre-VII

DOS MONUMENTOS ÀS PESSOAS - VII
 
O Distrito de Portalegre, N.º 5792, 30 de Julho de 1982
 
O Convento de Santa Clara e as suas Imagens
 
O Menino Jesus «falador» e o «Senhor da Paciência»
 
Quem visita o nosso Museu Municipal encontra entre as imagens que ali estão patentes algumas que vieram do Convento de Santa Clara.
Extinta a «Casa de Regeneração» com o pretexto ou razão de não reunir as condições para nele funcionar o internato ali instalado, esse foi o motivo invocado pela Direcção Geral de Assistência, as Imagens como objectos de reconhecido valor foram trazidos para o Museu – outros segundo nos consta ainda lá se encontram, não sabemos em que condições armazenados.
Entre as Imagens que vieram para o Museu – cremos que a mais valiosa é a bela Imagem de Nossa Senhora das Dores, atribuída a Machado de Castro – encontram-se outras duas ligadas a uma profunda devoção, dentro e fóra do Convento: é a do «Menino Jesus – falador» e a do «Senhor da Paciência».
Na vida de Soror Izabel do Menino Jesus aparecem-nos as seguintes referências a estas Imagens. Comecemos pela do Menino Jesus: Creio que terá sido a partir precisamente do diálogo da Imagem do Menino Jesus adquirido por aquela Religiosa e guardado por ela numa caixa que se terá guardado no Convento de Santa Clara a tradição do «Menino Jesus falador».
Assim ficou escrito no livro da Vida da referida Abadessa: «O Menino Jesu, que eu mandei fazer para ter nelle a posse, e para resguardo o tive algum tempo em huma caixa. Estando eu em certa ocasião orando, com o pensamento no Menino Jesu, me disse: Que elle não roubava corações metido na caixa, com que se me fez preciso fazê-lo manifesto, ond está sobre a estante no meio do Côro, para ser amado de suas Esposas. Agora pede o seu amor, lhe dem seus corações, que amor que morres por amor, deu na morte o coração. Esta mesma obrigação tem as suas Esposas para acreditarem o seu amor; que a fineza de quem ama, he dar o coração, por quem deu a vida por seu amor; e para as almas Esposas de Christo, terem amor a Deos, he preciso ter oração, que assim como o sangue corre pelas veias, assim a oração, tem muitas veias para correr o amor de Deos; que as virtudes que nascem do amor Divino, são como morgados, que passam de huns a outros; e para que a reforma vá adiante, me deu o Senhor a saber, que sempre se faça Prelada espiritual, que trate de oração e virtudes. Pois, assim como todo o sangue, que tem o corpo humano, se reparte pelas veias, assim todas as orações, e obras de virtude, que tem a Prelada, se communicão as suas subditas. He esta Prelada como Agnus Dei do Convento, que tira os pecados às Religiosas com as suas orações, e obras meritórias».
Vida de Soror Izabel do Menino Jesus, Pág. 93, n.º 72.
Refere-se Soror Izabel do Menino Jesus à Imagem do Senhor da Paciência que, tal como a Imagem de Nossa Senhora das Dores e o Menino Jesus- falador, se encontra no Museu Municipal, nos termos que se seguem – Pág. 92 e n.º 71: «Primeiramente tenha-se em muita veneração o Senhor da Paciência, que temos no dormitório, que me deu o Senhor a entender, estando em oração, que se tem salvado muitas Religiosas, por chegarem a seus Divinos pés, pedindo misericórdia de suas culpas; dizendo mais, que se a dita Imagem, andando annos, o temporal a gastar, pondo-se deforme, e incapaz de ser venerada, se faça outra na mesma forma, para que sempre se conserve a devoção».
Aliás, esta devoção era comum à Cidade de Portalegre – ou irradiava do Convento para a Cidade – o que é mais natural – ou recebida no Convento a partir da Cidade.
Tenha-se presente a existência de antiquíssima rua da ainda vila de Portalegre com a sua rua da «Paciência» - séc. XIII, ou a devoção da cidade e região pelo Senhor Jesus do Bonfim cuja expressão se aproxima do Senhor da Paciência.