António Martinó de Azevedo Coutinho
V – A História é uma boa mestra.
Nós é que aprendemos mal...
O sismo e o maremoto (hoje diz-se tsunami) que assolaram a devastaram Lisboa no fatídico dia 1 de Novembro de 1755 estão hoje estudados até quase à exaustão. Podemos encontrar versões aproximadas sobre as suas respectivas intensidades, medidas nas escalas hoje correntes, mas um largo consenso foi atingido sobre a extrema violência desse desastre natural.
Carlos Fiolhais, um cientista que me merece o maior respeito, afirmava em recente artigo de jornal (Público, 1 de Abril de 2011) que a magnitude do terramoto no Japão foi superior à do verificado então em Lisboa. Tiveram em comum os gigantescos tsunamis e os focos de incêndio. Em suma, segundo o autor, a terra, a água e o fogo criaram o caos.
Onde existe um flagrante contraste é no número de mortos: embora o Japão seja um país densamente povoado, terão sido vitimados em Lisboa quase o dobro dos habitantes.
Aprendemos todos, a partir do terramoto de há mais de 250 anos, a defender-nos das fúrias da terra. E Fiolhais recorda-nos a acção decisiva do Marquês de Pombal, capaz de reconstruir uma grande urbe arrasada por causas naturais.
Porém, a grande, a abissal diferença entre Lisboa e Tóquio reside na actual desgraça, outrora inimaginável: o acidente nuclear.
O cientista, que não esconde a sua simpatia pela energia nuclear, afirma depois que Fukushima está entre Three Mile Island, onde a radioactividade não se espalhou, e Tchernobyl, onde se difundiu a grande distância uma nuvem radiante. Mas troça com o disparate de se garantir que poeiras “japonesas” teriam já atingido os Açores...
Lembrando a acertada previsão de Pierre Curie -a Humanidade tirará mais bem do que mal das novas descobertas- Carlos Fiolhais passa em revista Hiroshima e Nagasáqui, até chegar à utilização pacífica da energia atómica. E a verdade é que mais de 15% da electricidade consumida no mundo são hoje gerados em centrais nucleares, que o carvão polui mais e provoca inúmeras vítimas entre os mineiros, que o petróleo é uma matéria-prima escassa e que as chamadas energias renováveis são, por enquanto, muito caras e pouco eficientes.
O magnífico artigo conclui, nesta linha lógica de pensamento:
“De modo que não há outro remédio a não ser reforçar a segurança das centrais nucleares. Nada de novo, pois foi, afinal, o que se fez com a construção mais segura após o desastre de Lisboa.”
Podemos discordar, no todo ou em parte, destas afirmações. Porém, não temos o direito de as ignorar, pelas suas serenidade e convicção ou, até, porque dificilmente lhes poderemos contra-argumentar de forma sustentada.
Na actual situação, e esta não se alterará radicalmente nos próximos tempos, existe um consenso lógico e fácil, onde todos encontraremos uma aceitável plataforma: impõe-se a exigência e a obtenção das garantias, autênticas, de que a segurança das centrais nucleares existentes tem de constituir uma preocupção técnica, científica, cívica e política incontornável e prioritária. Entretanto, seja a que preço for, nada mais deve avançar e todos os projectos alusivos devem manter-se como tal, no papel.
As pesquisas sobre as energias alternativas, renováveis, deverão pouco a pouco traduzir-se numa utilização mais acessível e mais funcional, ao serviço quotidiano de todos nós. Veja-se o que acontece presentemente com os automóveis eléctricos.
Por enquanto não me apetece ter um; espero mudar, já “amanhã”, de opinião...
António Martinó de Azevedo Coutinho
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