Mário Silva Freire
CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XXXVII
Compreender e aplicar o conhecimento
Foi referido na última crónica que era necessário dar tempo para se começar a conhecer. E que este começar, assentando, essencialmente, na memória, era apenas um primeiro nível de conhecimento. Ora, aprender não é, apenas, ser-se capaz de reproduzir acontecimentos, datas, etc.
O aluno tem que passar a um nível de compreensão da informação recebida e isso implica a possibilidade de interpretar os dados que reteve, estabelecendo relações entre os diferentes elementos que constituem a informação, poder expressar numa outra linguagem, por exemplo audiovisual, gráfica… essa mesma informação e, até, de fazer prognósticos baseados nas tendências percebidas. É este tipo de operações mentais, feitas a partir da informação recolhida, que permite afirmar que a mesma está compreendida.
Mas ter compreendido uma matéria significa, necessariamente, ter êxito na resolução de um problema respeitante à mesma? Ora, trabalhos de investigação têm demonstrado que nem sempre o facto de se compreender uma abstracção nos dá garantias que o indivíduo seja capaz de aplicá-la correctamente.
Para resolver um problema é necessário que o aluno domine a abstracção suficientemente bem, recorrendo a elementos que lhe são familiares para reestruturar o problema dentro de um contexto que lhe seja familiar ou que tenha analogias com modelos que ele conheça. Terá, depois, que classificar o problema dentro de um tipo já conhecido, seleccionar a abstracção (teoria, regra, lei) e, finalmente, fazer a aplicação da abstracção para a solução do problema.
Como se vê, estes dois níveis do conhecimento, a compreensão e a aplicação, situados para além da simples memorização, não podem ser alcançados a não ser com tempo e… preparação do professor. Só trabalhando a informação a diferentes níveis é possível que os alunos consigam aprender de uma maneira consolidada; só proporcionando aos alunos oportunidades de eles porem à prova as suas capacidades mentais, dando-lhes condições para as desenvolverem, se consegue obter uma aprendizagem duradoira e eficaz.
Mas o conhecimento, para ser integral, não se resume a estes três níveis já referidos. Na próxima crónica tratar-se-ão dos que faltam.
Mário Freire
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