Mário Silva Freire
CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XXXVI
Dar tempo para começar a conhecer
Há uma certa tendência, no nosso sistema de ensino, de fazer programas extensos, que abranjam muitas matérias. Ora, raramente, a quantidade é compatível com a qualidade. Um ensino que vise abarcar muita matéria fica-se, normalmente, pela superficialidade. E o que é superficial, facilmente desaparece. A muita quantidade de matéria implica um aceleramento nas respectivas aprendizagens. Será que aprender bem e depressa são realidades compatíveis? Só as aprendizagens bem conseguidas conseguem ser duradoiras. O facto de haver muita informação para ser aprendida não significa que ela se transforme, necessariamente, em conhecimento. Então, quando é que há um autêntico conhecimento?
No conhecimento podem estabelecer-se diferentes níveis. Quando, simplesmente, enumero datas, evoco acontecimentos, reconheço pessoas ou situações, enuncio regras, etc., estou a utilizar uma maneira primária de conhecer e ela baseia-se, essencialmente, na memória. Tal não significa que este modo primário do conhecimento tenha menor importância; pelo contrário, ele constitui a base onde irão assentar outros aspectos mais elaborados do conhecimento.
A título exemplificativo, porque é que uma significativa parte dos nossos alunos tem dificuldades em Matemática? Simplesmente, porque eles nem sequer atingiram esse estádio primordial do conhecimento que se baseia, essencialmente, na memória. Eles, não tendo exercitado a memória através da prática do cálculo mental, da memorização da tabuada… ficam impedidos de acederem a aprendizagens posteriores mais complexas que requerem múltiplos automatismos inscritos na memória.
Ora, este primeiro nível do conhecimento requer tempo. Há necessidade de fazer repetições, mostrar um tema segundo vários aspectos para que ele possa ser devidamente evocado em todas as suas características. A partir daqui, começa, então, a construir-se um novo nível de conhecimento. Dele se tratará na próxima crónica.
Mário Freire
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