António Martinó de Azevedo Coutinho
É chegado o termo desta série.
Embora correndo o mundo, com realce para a nossa Europa, onde alíás nasceu o pretexto para analisar brevemente o complexo fenómeno que une BD e publicidade, será reconfortante terminar este trabalho em casa.
Exemplos, singelos mas autênticos, como os que hoje encerram esta curta análise poderiam seguramente ser colhidos um pouco por toda a parte. Nas escolas, nas autarquias, em associações ou grupos desportivos, culturais e recreativos, pratica-se com frequência e com naturalidade a comunicação pública das respectivas actividades.
A fotografia, o simples desenho e também a banda desenhada servem de ilustração nos folhetos, folhas volantes ou cartazes utilizados. Alguns destes trabalhos atingem níveis estéticos e/ou comunicacionais de certa qualidade, tornando-se interessantes peças de design. Naturalmente, dada a débil divulgação, dado o limitado âmbito do seu alcance, dada a ausência de uma preservação sistemática, a imensa maioria destes exemplares perde-se sem remédio.
Porém, há excepções.
Participei pessoalmente em algumas práticas públicas, sobretudo em dois diferentes contextos: o Centro de Estágios Pedagógicos da Escola Preparatória de Cristóvão Falcão, em Portalegre, e o Centro de Estudos de Banda Desenhada, da Casa de Cultura da Juventude, inserida na Delegação Regional de Portalegre do FAOJ (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis).
Quer numa como na outra destas sedes, foram organizadas diversas iniciativas que implicaram o convite aos eventuais interessados.
Quase todas estas actividades foram levadas a cabo em tempos ainda gloriososo, quando muitos de nós acreditávamos, convictamente, que poderíamos contribuir activamente para construir, de facto, um País melhor. O nosso entusiasmo, nesses anos finais da década de 70 e nos iniciais de 80, constituía uma força colectiva cuja real eficácia as desoladoras realidades hoje patentes desmentem quase em absoluto. Mas sonhávamos, fazíamos coisas e disso ficaram alguns vestígios...
Como é o caso deste cartaz, em duas folhas de formato A4, sucessivamente expostas na Escola: Água mole em pedra dura... e ...Tanto dá até que fura!
Os seus títulos dão exacta conta das nossas convicções na época.
Quanto ao Centro de Estudos de Banda Desenhada, a prática era semelhante, tanto nos processos como na dinâmica, embora sem as cargas e obrigações curriculares da realidade escolar oficial. Também nos seus instrumentos de comunicação, colaboração em jornais, revista própria, autocolantes, posters, convites para realizações públicas e outros, era usada, coerentemente, a BD.
O último exemplo resume na perfeição tudo aquilo que se procurou aqui deixar enunciado quanto às potencialidades da aliança BD/Publicidade aplicada a uma causa concreta, sobretudo quando desligada de qualquer intenção de comércio, de propaganda ou de lucro material e político.
A imagem final consiste numa montagem constante dum curto folheto elaborado ao nível do Centro de Estágios (Educação Visual) da E. P. de Cristóvão Falcão, preenchendo a sua dupla página central. Tratava-se do convite para uma série de colóquios sobre a linguagem, os conteúdos e as finalidades da BD, numa época em que a desconfiança colectiva sobre esta modalidade comunicativa era ainda uma realidade. Daí a provocação (local) constituída pela representação de uma vibrante manif freneticamente empolgada frente ao Governo Civil de Portalegre, perante a estupefacção dos dois “heróis” da historieta que compunha a totalidade do convite...
Com esta manifestação do poder local -perdão, das implicações locais do poder da BD- evoco simbolicamente a manifestação gaulesa contra o uso indevido (!?) de um mito nacional ao serviço da poderosa globalização capitalista.
Exagero por exagero, sinceramente, prefiro o portalegrense, mais modesto talvez, mas também mais honesto.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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