\ A VOZ PORTALEGRENSE: Mário Silva Freire

domingo, março 27, 2011

Mário Silva Freire

PELOS CAMINHOS DA PAZ - 5

Os media e a paz

Os meios de comunicação social tentam acompanhar de perto o desenrolar dos conflitos. Às vezes, a sua proximidade com as partes em litígio é tal que, eles próprios, integram as forças de um dos lados e, por isso, passam a ser parte desses mesmos conflitos. O Iraque tem sido um palco real para todas estas situações. Esta proximidade com as partes, no entanto, não ajuda a fazer uma descrição imparcial do que está a acontecer. Ora os media raramente invocam o discurso do adversário, do inimigo, na cobertura de uma guerra. Eles, salvo as honrosas excepções, são as vozes do lado em que se encontram.
O reducionismo é uma outra característica revelada pelos media. Eles destacam um aspecto da realidade e, depois, identificam esse aspecto particular com a totalidade. Assim, falar em islamismo é, hoje, quase igual a falar em fundamentalismo. E falar em fundamentalismo é, praticamente, falar em terrorismo. Ora, no islamismo fala-se na promoção e na prática da paz pelos seus fiéis.
Os media fazem ainda da guerra um assunto totalizante, isto é, elegem-na como um acontecimento quase único da actualidade. Veja-se a invasão em Timor e a guerra do Iraque. A maior parte dos jornais televisivos, os noticiários radiofónicos e as primeiras páginas dos grandes jornais eram preenchidos com esses assuntos. Toda a outra realidade era remetida para plano secundário, quase não existindo.
No entanto, os media podem ser uma oportunidade para construir a paz. Quando eles põem a nu os interesses que estão subjacentes a uma lógica de guerra e, com os quais, se tenta justificar uma intervenção militar, estão a construir a paz. Quando eles denunciam uma falsa ética de defesa de valores, como sejam os da liberdade e da democracia, para justificar uma guerra que não respeita uma cultura nem os povos que lhes dão corpo, estão a colaborar para a construção da paz. Quando eles abrem noticiários sobre um tratado de paz ou sobre intervenções que contribuíram para uma maior aproximação entre povos, estão a construir a paz. Quando eles promovem a notoriedade de pessoas que são actores de paz, estão a construir a paz.
Mas não se pense que só órgãos de comunicação social nacionais podem ser factores de guerra ou de paz. Também os órgãos de comunicação local e regional podem ter esses papéis. Eles, no ambiente em que se situam, geram a guerra quando pactuam com a injustiça, quando propalam propositadamente mentiras, quando insinuam calúnias, quando urdem intrigas. Mas eles, igualmente, constroem a paz quando se põem ao lado dos mais fracos, quando denunciam conluios, quando informam com rigor, quando dão relevo aos actos de paz.
Mário Freire