Mário Silva Freire
PELOS CAMINHOS DA PAZ – 4
Aprender a paz na escola
A escola, apesar de todas as dificuldades que atravessa, constitui um espaço de liberdade e de acolhimento. Nela, como alguém dizia, ainda não se encontram filas de espera. Ela é, sem dúvida, um local de integração social onde convivem várias etnias, géneros e condições sociais. É ali, na escola, onde os diferentes convivem entre si, que o racismo e a xenofobia são combatidos diariamente. Estes factos são, pois, construtores da paz. Se temos hoje uma sociedade mais aberta, isso deve-se à escola.
Mas ter uma escola aberta e acolhedora não constitui condição suficiente para construir a paz.
Ora, os alunos passam mais tempo social na escola do que na família. No entanto, aquela instituição diz que não tem tempo para outras aprendizagens para além daquelas que os programas prescrevem. Contudo, o ensino na escola não é, apenas, o ensino das disciplinas. Ela tem que entender que o ensino das disciplinas é um meio de visar valores mais elevados. E tem, também, que perceber que, para além das disciplinas, existem os recreios, o modo como os professores se relacionam com os alunos, como estes se relacionam entre si e como todos os outros tipos de relacionamentos têm lugar. É nesta miscelânea de conhecimentos e de relacionamentos que pode ter lugar (ou não) a aprendizagem da paz.
Perguntar-se-á: como é que o ensino das disciplinas poderá contribuir para a aprendizagem da paz? Ora, qualquer ramo do saber tem sempre a ver com o homem. É ele que constrói o conhecimento; é ele que o aplica. Mas essa aplicação nem sempre serve para o desenvolvimento da humanidade. Por vezes, esse conhecimento serve para destruir os seus semelhantes e a própria Natureza. Assim, na História, que acontecimentos e que conceitos nela se estudam referentes à guerra e à paz? E como teria sido a História se não tivesse havido guerras? E como é possível destruir um ser humano, com toda a sua complexidade de estruturas e de funções que a Biologia nos ensina, com as suas capacidades de respirar, de se alimentar, mas, também, de agir, de amar e de pensar? E que dizer do Português, com o recurso a textos que poderiam constituir, devidamente trabalhados, exercícios sobre o valor da paz? As disciplinas poderão ser sempre encaradas como contributos do esforço do homem para o desenvolvimento da humanidade. Mas este desenvolvimento, visando uma maior compreensão do homem e do Universo, só em paz pode ser alcançado.
A escola tem que ser, também, um espaço privilegiado da aprendizagem de atitudes de paz, dentro e fora da sala de aula. A relação professor-aluno está imbuída de desigualdade de poder e isso gera, por vezes, a agressividade e o conflito. O aluno tem que aprender, através dos comportamentos e atitudes que observa, que a justiça, a tolerância, a promoção dos princípios democráticos e a solidariedade são praticados dentro da escola e que estes valores podem ser, também, por si experimentados.
Mário Freire
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