António Martinó de Azevedo Coutinho
A incidência da BD nos fenómenos comunicacionais relacionados com a publicidade ganhou um particular destaque nos complexos universos da política. Foi aqui que se verificou uma verdadeira explosão criativa, quer sob a forma de folhetos, brochuras, álbuns, desdobráveis e outras folhas avulsas com histórias desenhadas, quer na forma mais sintética do cartaz ou poster, da simples tira ou do cartoon. Muitos jornais e semanários dos primeiros anos após a Revolução tornaram-se célebres pelas saborosas críticas político-partidárias que publicaram. Algumas personagens e certos criadores ganharam uma aura que fez, de certo modo, evocar os tempos da Primeira República.
A propaganda política foi a tónica que informou uma boa parte destas sátiras. Quem não se lembra do Guarda Ricardo e de Sam (Samuel Torres de Carvalho), que guardaram presença e memória no Diário de Notícias e no Público, por exemplo?
Naturalmente, os partidos políticos usaram e ainda usam bandas desenhadas entre os seus materiais de propaganda, sobretudo em publicações mais específicas. Dada a criatividade inerente, aliada a um certo espírito descontraído, são os partidos da denominada esquerda que mais usam esta forma de comunicação. De notar, o caso curioso da convocatória pública de uma greve da Função Pública ser divulgada através de uma BD inserida nos jornais diários...
A descrição do 25 de Abril e a preservação da memória das suas figuras mais nobres, como o castelovidense Salgueiro Maia, encontraram na BD uma das formas mais populares e mais funcionais. Em “folhetins” com tiras diárias publicadas em jornais ou em álbuns mais elaborados, a saga dos militares de Abril encontrou assim uma publicitação bastante acessível.
As eleições democráticas, sobretudo as primeiras, foram objecto de muitos cuidados prévios, dada a inexperiência da maioria dos eleitores. Um acto cívico que hoje assume uma absoluta naturalidade exigiu, durante alguns anos, um conjunto de apoios, onde a banda desenhada, como excelente meio publicitário, desempenhou um apreciável e reconhecido papel. Os próprios partidos políticos não dispensaram o recurso à sua linguagem na respectiva propaganda. De notar, no exemplo junto, à direita, o traço inconfundível de “mestre” Fernando Bento nas páginas d’A Capital.
Este país é uma história aos quadradinhos... Assim fomos definidos, de forma irónica, pelo saudoso semanário O Jornal. Aliás, numa espécie de metalinguagem digna de mais profundas análises, o “fabulário” da BD fornece(u) abundante material de impossível enumeração completa. Aqui se evocam, por exemplo, diversas personagens da série Tintin, assim como Superman. Mas também Al Capone e o nosso “clássico” Zé Povinho serviram de inspiração ou modelo...
A publicidade, a propaganda e o serviço cívico - em qualquer destas modalidades, a banda desenhada surge integrada nos meios gráficos que comunicaram, comunicam e comunicarão os conteúdos essenciais de Abril em Portugal.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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