Portugueses em «As Aventuras de Tintin»
Oliveira da Figueira
Portugueses em «As Aventuras de Tintin»
Dentro do imaginário de Hergé estão identificadas três personagens ligadas a Portugal. São elas o Senhor Oliveira da Figueira, que surge em três aventuras, o Professor Pedro João dos Santos que aparece em «A Estrela Misteriosa», e o repórter do Diário de Lisboa, cujo nome não é pronunciado, em «Tintin no Congo».
Porém, há uma personagem em «A Ilha Negra» que tem o apelido Müller. Ora este apelido é idêntico ao de Adolfo Simões Müller.
Dadas as excelentes relações entre Georges Remi e Adolfo Simões Müller, de amizade e de edição, a escolha deste apelido para a personagem do Dr. J. W. Müller no livro «L’Ile Noire» poderá ter sido propositada, como homenagem ao director de «O Papagaio». Mas, dado o percurso pessoal e profissional de Simões Müller, não há a mais pequena semelhança entre o carácter da personagem de Hergé, o líder do bando de falsificadores de notas, e o próprio Adolfo Simões Müller.
No livro «Tintin au Congo», Tintin acabara de chegar ao Congo, e na manhã seguinte recebe no hotel onde se hospedara três jornalistas.
Todos tentam que a reportagem que Tintin irá fazer seja publicada no seu respectivo jornal. O jornalista americano do New York Evening Press oferece 5.000 dólares, querendo de imediato entregar como adiantamento pelo trabalho 1.000 dólares a Tintin. O jornalista inglês do Daily Paper oferece 1.000 libras pelo exclusivo. O jornalista português do Diário de Lisboa, tratando Tintin por vossa Excelência, oferece 50.000 escudos. E face a estas propostas ‘adversárias’, o jornalista americano dobra a sua proposta, oferecendo então 10.000 dólares.
Contudo, Tintin recusa todas as propostas, dizendo já estar comprometido com outros jornais para o exclusivo da reportagem em causa.
No livro «L’Étoile Mystérieuse», um dos eminentes sábios europeus é português. Chama-se Pedro Joãs Dos Santos e é apresentado como o célebre físico da Universidade de Coimbra.
Ao longo da aventura, o Professor Pedro João dos Santos surge várias vezes, porém, nunca pronuncia uma palavra. E, nas duas vezes em que os seis cientistas estão junto a Tintin, justamente à mesma mesa, a primeira vez no primeiro almoço tomado a bordo e mais tarde numa importante reunião, Tintin dá a direita, sinal de respeito, ao Professor da Universidade de Coimbra.
Em «Les Aventures de Tintin», o português Oliveira da Figueira é um comerciante de Lisboa que Tintin encontra pela primeira vez em «Os Cigarros do Faraó». Tendo um verdadeiro jeito para a venda, consegue “impingir” a Tintin todo um conjunto de mercadorias completamente inúteis… O mesmo faz a todos os seus clientes árabes… Tem a loja no Khemed, um emirado árabe imaginário que parece situar-se nas margens da península arábica. Tintin volta a encontrá-lo em «O País do Ouro Negro» e indirectamente em «As Jóias de Castafiore». O Senhor Oliveira da Figueira está sempre disponível para salvar Tintin, e tem o hábito de oferecer aos seus Amigos um copo de vinho português…
No livro «Les Cigares du Pharaon», Tintin é apresentado pelo capitão do navio ao senhor Oliveira da Figueira, de Lisboa. De imediato o comerciante começa a exercer a sua arte, vendendo a Tintin toda uma panóplia de inutilidades. Mas tarde, em pleno deserto, Tintin assiste a uma sessão de vendas a um conjunto de árabes, que o apelidam de “o Branco que vende tudo”.
No livro «Tintin au Pays de l’Or Noir», Oliveira da Figueira, a dado momento da aventura, desempenha um papel importante.
Tintin encontra o senhor Oliveira da Figueira á porta do seu estabelecimento. Vestido à árabe, Tintin não é de imediato reconhecido pelo amigo, que a início o trata por jovem príncipe. Mas face á presença de Tintin, Oliveira da Figueira, pleno de felicidade, oferece-lhe um bom vinho de Portugal, do sol do seu país.
Tintin pede a Oliveira da Figueira que o introduza em casa do professor Smith, ao que este acede, e já lá dentro apresenta-o aos funcionários da casa como o seu sobrinho Álvaro, acabado de chegar de Portugal. Diz que ele é órfão, um pouco simples, e ao começar a contar a vida do sobrinho, dá-lhe a deixa que permite a Tintin afastar-se.
Enquanto Tintin se confronta com o professor Smith e continua o seu caminho, está Oliveira da Figueira a entreter os seus ouvintes com a dramática história da vida o sobrinho. Depois vai-se embora, e ao questionar para si próprio sobre o que irá acontecer a Tintin, cruza-se com Milou, que tenta apanhar, mas que lhe foge.
No livro «Les Bijoux de La Castafiori», Oliveira da Figueira não está presente. Mas Tintin refere-se a ele, porque Oliveira da Figueira envia a Moulinsart um telegrama, sendo mesmo um dos primeiros a felicitar o capitão Haddock pelo seu “casamento” com a Diva Bianca Castafiore. Nele, Oliveira da Figueira apresenta as suas mais entusiásticas felicitações.
Temos em Oliveira da Figueira uma das personagens favoritas da obra de Hergé. Representa bem o espírito empreendedor e o do viajante português de outrora, que conquistou novos Mundos ao Mundo.
Também é com júbilo que vemos Hergé escolher um professor da Universidade de Coimbra, a nossa Universidade, para tão importante aventura científica. É com agrado que vemos um jornalista e um jornal português ombrear com o jornalista e o jornal americano e com o jornalista e o jornal inglês. E dizemos que fomos leitores de Adolfo Simões Müller na nossa juventude.
Mário Casa Nova Martins
Nota:
_ Trabalhámos para esta pesquisa nos álbuns em francês e nas edições a cores, da Casterman.
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