\ A VOZ PORTALEGRENSE: Imprensa local

sexta-feira, novembro 12, 2010

Imprensa local

Imprensa local

Deve-se ao director da revista A Cidade, António Adriano de Ascenção Pires Ventura o estudo mais elaborado sobre a imprensa local de Portalegre, se bem que já tenha passado mais de três décadas desde a sua publicação, daí a sua presente não actualização. Em Publicações Periódicas de Portalegre (1836-1974), o Autor faz a história da imprensa escrita, tarefa que estará sempre em contínua actualização. Além do mais, esta obra, saída dos prelos em Maio de 1991, há muito que se encontra esgotada. Toda a pesquisa sobre esta temática tem obrigatoriamente como ponto de partida este trabalho, e o conjunto de informações que fornece permite traçar um ligeiro perfil dos principais órgãos de comunicação social escrita portalegrense ao longo do século XIX e século XX. Infelizmente, a Biblioteca Municipal de Portalegre não tem no seu arquivo o conjunto destas publicações, e mesmo em relação aos principais jornais, as colecções estão muito incompletas, enquanto da maioria dos restantes, nem rasto.
Nos três primeiros quartos do século XX em Portalegre, além de O Distrito de Portalegre, três outros jornais são referência, A Plebe, A Rabeca e A Voz Portalegrense.
A Plebe publica-se até 1932. Em Monarquia apoiava os Progressistas, e na República torna-se o órgão do Partido Republicano Português. Segundo António Ventura, ao longo de 36 anos de vida, A Plebe é uma fonte de informação do quotidiano portalegrense, editando por vezes números especiais e comemorativos, assinalando efemérides e homenageando figuras gradas locais.
A Voz Portalegrense atinge até certa altura destaque em Portalegre. Inicia a publicação regular em 1931 e termina em 1964. Manuel António Tapadinhas é director e editor dos primórdios até 1949, passando a partir dessa data a ser órgão oficioso do regime, o Estado Novo, o que contribui para um alheamento da população em relação ao semanário.
A Rabeca tem percurso diferente, sempre se posicionou como jornal republicano e de oposição ao Estado Novo. A partir de 1920 João Diogo Casaca assume, por inteiro, a direcção. Embora ainda se publique um número por ano, para que os proprietários mantenham a posse do título, não deixa de ser triste o fim deste importante semanário, às mãos de gente que não respeitava pessoas e instituições, num período de radicalismo entre Abril de 1974 e o final desse ano, quando os socialistas de Portalegre assumem o seu controle. A partir dessa data passa a jornal de facção, e tal como acontecera com A Voz Portalegrense, perde peso na sociedade e é sem surpresa que deixa de sair formalmente a 6 de Outubro de 1988.
No último quartel do século passado, em 1984, surge um novo título que se vai impor no panorama da imprensa local e regional, o Fonte Nova. Hoje o Fonte Nova marca um estilo próprio de estar no mundo da comunicação social escrita. Privilegiando a informação em relação à opinião, criou um espaço na imprensa local. É feito à imagem do seu director e fundador, Aurélio Bentes Bravo, um homem ligado às artes visuais. O sucesso comercial, levou-o a deixar de ser semanário e a passar a bissemanário, para agora voltar a semanário face à crise éconómica que flagela o país e principalmente a região de Portalegre.
O último número de O Distrito de Portalegre data do dia em que fazia 126 anos, o dia 28 de Maio de 2010.
O Distrito de Portalegre, semanário, bissemanário e novamente semanário, Monárquico e depois Republicano, assumira a qualidade de órgão da Diocese de Portalegre e Castelo Branco quando uma figura da igreja católica local o comprou e depois o doou à Diocese.
Todavia, nunca deixou de ser um jornal local, por vezes regional, mas que nunca abarcou a Diocese, repartida por regiões do Alto Alentejo, Beira Baixa e Ribatejo.
Mantinha duas partes distintas, ambas sob a tutela do director, a religiosa e a laica. O Distrito de Portalegre, ultrapassara qualquer tipo de conjuntura política, económica ou social, assim como mudança de administração e de direcção, porque a sua situação estatutária permitia-lhe não depender do mercado.
A sua longevidade, a sua função, a sua História, mereciam outra dignidade no momento em que deixou de ser publicado. Também os conselheiros que aconselharam o bispo da Diocese para que este se decidisse pelo fecho do jornal, prestaram ao mau serviço à igreja, aos católicos e à comunidade portalegrense. Assim como o próprio bispo.
Em 1 de Novembro de 2006 saia um novo semanário intitulado Alto Alentejo. De cariz regionalista, é director e simultaneamente proprietário Manuel Isaac Correia.
Este jornal procura e divulga a notícia dentro e fora dos muros de Portalegre e os artigos de opinião são da responsabilidade de gente de toda a região.
Com um grafismo actual, é indiscutivelmente um produto vendável, crescendo cada ano que passa a sua influência como órgão regional.
Escreveu-se sobre seis jornais de referência na História de Portalegre.
Quatro, A Rabeca, A Voz Portalegrense, Fonte Nova e Alto Alentejo, têm um pormenor em comum. Constituem sucesso comercial e de aceitação pela comunidade, enquanto os fundadores, e simultâneamente directores, estão à sua frente. Desses, dois não conseguiram sobreviver à saída daquelas figuras carismáticas, e o terceiro e o quarto mantêm tiragens altas.
Quando acabou, A Plebe era um jornal político, ligado ao republicanismo da Primeira República, que nada contribuíra para o desenvolvimento de Portalegre e que no fundo dividira as Famílias Portalegrenses.
O Distrito de Portalegre tinha todas as condições para continuar a ser publicado. Com uma gestão correcta e uma direcção que compreendesse os fins e os objectivos da publicação, seria possível encontrar o equilíbrio financeiro e tornar de uma vez viável a sua existência.
Com este enunciado, pretendeu-se dar uma visão particular do actual panorama dos média em Portalegre, no que concerne à imprensa escrita, com recurso também à análise de publicações entretanto desaparecidas, mas que em tempos da sua existência constituíram fortes referências.
De quando em vez, aparecem em Portalegre novos projectos na área da imprensa escrita, mas pelas mais diversas razões não conseguem vingar. O mercado publicitário de Portalegre, e da região, é fraco, e com a actual crise económica que o país atravessa, o seu espaço de manobra ainda mais se retrai. Nesta conjuntura, maior é o risco de investimento em áreas como a da comunicação social. Contudo, o aparecimento de um novo projecto regional será sempre de saudar.
Mário Casa Nova Martins