Mário Silva Freire
CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XXIV
Um exemplo a imitar
Nantes é uma cidade francesa a 50 Kms do Oceano Atlântico com cerca de 270.000 habitantes, alcançando a sua área metropolitana os 804.333 (dados de 2008). Já foi descrita como a cidade europeia com mais vida. Não sei se este título lhe é merecido mas, o que nela tem ocorrido nos últimos anos, no que se refere à educação, parece justificar bem aquela denominação.
Ora, desde há três anos consecutivos que se realizam nesta cidade as chamadas Questões de pais. Não se trata de uma conferência, colóquio ou seminário que aborde esta temática. Não! Do que está a falar-se é de uma mobilização quase geral da comunidade de Nantes para os múltiplos problemas que os pais enfrentam. Assim, neste ano de 2010, essas grandes jornadas educacionais tiveram lugar durante 13 dias, entre 11 e 23 de Outubro, em vários locais da cidade, sempre em parceria com um grande número de associações e de actores que directamente estão ligados à família.
Os objectivos destas “Questões de pais” foram os de mobilizar a cidade e os seus parceiros para apoiar os pais, informá-los e dar-lhes os meios de encontrar profissionais ou outros pais com quem partilhar experiências, opiniões e problemas ou, simplesmente, cada um tentar encontrar as respostas às respectivas questões.
Os temas são variados: relações e comunicação entre pais e filhos; modos de exercer a guarda das crianças; nascimento e primeira infância; relações entre os pais; apoio às famílias; alimentação…
Os temas são tratados de múltiplas maneiras e, este ano, incluiu desde a convencional conferência, com ou sem debate, passando por pequenos grupos onde as pessoas discutiam determinadas situações, tentando encontrar pistas de actuação, até ao cine-debate e ao teatro-debate, em que após a projecção ou teatralização de uma ou várias situações relacionadas com os temas das jornadas, os assistentes eram convidados a emitir as suas opiniões.
Nenhum dos pais está excluído desta grande acção pois ela tem em vista abranger todo o tipo de situações desde os filhos bebés, 1ª e 2ª infâncias, adolescência, até filhos pós-adolescentes.
Aspecto que me surpreendeu foi o de estarem implicadas dezenas de associações: contei 66 no site da organização (www.questionsdeparents.nantes.fr). Saliento, apenas, três para se ter uma ideia do tipo de instituições implicadas nesta grande intervenção da sociedade de Nantes: “Associação contra a alienação parental” que visa a protecção das crianças, na sequência de separações e divórcios, tentando preservar os laços familiares; “Associação da fundação estudantil para a cidade” que faz o acompanhamento de alunos com dificuldades por estudantes voluntários; “Associação sindical de famílias monoparentais e recompostas” que apoia as famílias monoparentais ou recompostas que têm (ou tiveram crianças a cargo).
Numa altura em que quase tudo se exige do Estado, eis aqui uma iniciativa, partindo da chamada sociedade civil, que poderia ajudar a resolver alguns dos muitos dos problemas com que se confrontam muitas das nossas famílias.
Mário Freire
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