\ A VOZ PORTALEGRENSE: Jaime Crespo

sábado, novembro 20, 2010

Jaime Crespo

Intervenção de Jaime Crespo no encontro preparatório da Greve Geral de 24 de Novembro de 2010
Encontro do dia 13 de Novembro de 2010
É preciso organizar para esta luta contra o desemprego
Vou pontuar esta minha intervenção sob dois pontos:
1 – Alertar para a situação comatosa a que as políticas governamentais e as estratégias empresariais conduziram o interior do nosso país, utilizando como exemplo o meu distrito natal, Portalegre;
2 – Aclarar a necessidade de unir na mesma luta, todos os trabalhadores, os do setor público e os do setor privado, combatendo a divisão promovida pela intoxicação da opinião pública, promovida pelos governantes e empresários.
Nas empresas públicas há a responsabilidade direta do Estado. Mas não podemos esquecer a situação de muitas empresas privadas, algumas individuais – que não são mais do que trabalhadores a recibo verde, que se registam como empresários “em nome individual”, nas quais o Governo e seus departamentos tem obrigações reguladoras mas das quais se demitem vergonhosamente, deixando os trabalhadores, desamparados, joguetes do bel-prazer do patronato.
Se a situação é má no litoral, nas regiões do interior é gravíssima. É o caso do distrito de Portalegre, que mais se poderia dizer que “fechou para obras”.
Ao deixar desaparecer as empresas ligadas às atividades tradicionais, os lanifícios e a transformação da cortiça, até a vetusta arte da tapeçaria de Portalegre, arte única no Mundo, se encontra em perigo iminente de fecho e as tecedeiras têm mesmo já salários em atraso, as novas empresas que entretanto se têm instalado, seguem a política do investimento “salta-pocinhas”, duram enquanto duram os benefícios fiscais, os apoios autárquicos e, no caso de empresas agrícolas ou empreendimentos turísticos megalómanos, apenas servem para sacar dinheiro dos fundos comunitários deixando no terreno autênticos circos de elefantes brancos.
Há dois anos fechou naquele distrito a fábrica da Johnson Control’s, acabando com cerca de mil postos de trabalho diretos e ainda os postos de trabalho de cerca de duas dezenas de empresas que funcionavam como subsidiárias desta.
Já no corrente ano, foi a Delphi, em Ponte de Sôr. Nesta, podemos recordar a ênfase dada à ação das direções sindicais no processo de negociação dos despedimentos. Alguns dos dirigentes sindicais vieram gabar-se de ter conseguido “as melhores indemnizações possíveis”.
Por outro lado, a Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social, inquirida pelo Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, recomenda aos trabalhadores que sofrem a peste dos salários em atraso, trabalhadores das empresas exploradoras de granitos, em Alpalhão, concelho de Nisa, Granisan, Granitos Maceira e Singranova, as duas últimas pertencentes ao grupo empresarial do Comendador Francisco Ramos, com sede social em Pêro Pinheiro, onde também os trabalhadores sofrem de salários em atraso e que esbarraram perante a intransigência do senhor Comendador em negociar qualquer outra situação que não a insolvência das empresas. De realçar que a dívida a alguns trabalhadores (empresários em nome individual) atinge já os nove meses, diz a Ministra que recorram à Alta Autoridade para as Condições de Trabalho e peçam o despedimento com justa causa para terem direito ao subsídio de desemprego, caindo assim na roda do desemprego, não movendo uma palha para garantir a continuidade dos postos de trabalho.
Ainda em Nisa, a empresa Municipal Ternisa, complexo termal, tem mais de dois meses de salário em atraso aos seus trabalhadores, prejuízos a rondar os 500 000,00€ e enorme dívida a fornecedores.
Esta semana serão mais oitenta trabalhadores da empresa Selenis, em Portalegre que reforçarão a equipa dos desempregados.
Pela parte governamental, esta, resolveu brindar o Distrito que recorde-se é um dos mais envelhecidos do País, contando a nível distrital com mais de 40% da sua população composta por pensionistas e é também um dos mais despovoados, a caminhar célere no sentido da desertificação, o que fez o Governo?
Fechou centros de saúde, sendo o caso mais simbólico o fecho da maternidade de Elvas, encerra escolas, postos de Correios, postos da G.N.R., faz a junção de vários serviços públicos, encerrou representações de serviços centrais em Portalegre, Elvas e Ponte de Sôr, encerra carreiras de transportes públicos, deixando a população envelhecida sem acessos às sedes de concelho ou dependentes de boleia de familiares ou amigos ou recorrendo ao serviço de táxis.
A própria Segurança Social, para o transporte de doentes, recorre diariamente ao serviço de táxis, tornando esta atividade de tal forma apetecível que pelo trespasse de um lugar na praça de Estremoz foram pedidos 150 000,00€.
É pois necessário e urgente organizar para esta luta contra as falências, o desemprego, a precariedade, a mobilidade, enfim, pelo direito a um trabalho com direitos, toda a massa trabalhadora, do setor público ou do setor privado.
Jaime Crespo