Jorge Luís Lourinho Mangerona
“Small is beautiful”
Não é sem estranheza que passei o primeiro dia de Setembro. Foram trinta e oito primeiros de Setembro com um ritual que os iniciados encaram sempre com apreensão, expectativa e esperança. Refiro-me ao ritual iniciático das reuniões gerais de professores do início de Setembro que, como outras, fazem parte de um cerimonial ritualizado que, nos últimos anos, tem assumido papel determinante na vida das escolas e dos professores. O elevado número de horas passado em reuniões é o resultado da burocratização de uma profissão que, por força de uma avalanche legislativa na maior parte das vezes redundante, se descentrou do seu objecto para se focar em tarefas administrativas, algumas quase kafkianas. A profissão de professor perdeu dimensão pedagógica em favor de tarefas burocráticas e administrativas o que diminuiu a sua importância e tem tido e terá efeitos desastrosos na Educação. Dizer que a Educação é factor e alavanca do progresso e desenvolvimento não basta, é necessário que se passe da propaganda a uma política educativa consistente e focada nas aprendizagens dos alunos, de modo a formar cidadãos conscientes e profissionais competentes. Deixarei para outras oportunidades as charlas do eduquês bem como as vicissitudes dos processos de avaliação dos alunos e dos professores ou da gestão das escolas.
Por hoje abordarei a nova moda: as megaescolas. Não tenho dúvida que os modismos são uma forma de disfarçar a falta de desígnios e de estratégias que têm dominado, o que não é de agora, a política nacional. Não sei se se lembram mas também foi moda o “small is beautiful” nos “longínquos” anos de setenta. Confesso que sou apologista do lema. Baseio-me no saber de experiência feito… Nos anos setenta e oitenta fui professor na Secundária Gabriel Pereira, em Évora, que teria mais de dois mil alunos e de duzentos professores. Uma das expressões mais ouvidas era: “Mas quem é aquele?!”. Era vulgar os professores não conhecerem colegas devido ao seu número, ao horário de funcionamento da escola e á disparidade de cursos existentes. Imagine-se o conhecimento que a direcção da escola tinha dos alunos… Nunca tive turmas de sete alunos como as “estatísticas” apregoam mas, nos últimos dois anos, tive turmas do décimo segundo ano com cerca de catorze e de vinte e dois alunos e em qualquer dos anos a média das classificações foi superior à média nacional, com alunos a atingir classificações brilhantes. Se é verdade que o mérito é dos alunos (também há alunos que trabalham!), a verdade é que a dimensão das turmas tornou mais fácil atingir tais objectivos. Não valerá a pena comparar os resultados destas turmas com uma de que fui director e que chegou, acreditem, aos quarenta e dois alunos; claro que nem todos tinham todas as disciplinas, mas imaginem o que era chegar a uma sala e não haver cadeiras ou o que era o trabalho de director de turma. O número actualmente estipulado de vinte e oito é uma enormidade só possível para quem não tem a mínima noção do que é uma sala de aula…E assim chegamos às “mega…”: megaturmas, megaescolas, megaagrupamentos, pois afinal, embora não haja coragem para afirmá-lo, as economias de escala são “beautiful” e os malandros dos liberais só são maus quando convém. Entretanto corremos o risco de nos afundarmos no Atlântico face ao peso do litoral e à desertificação do interior… Mas a quem é que interessam “meia dúzia” de aldeias ou de cidades em vias de extinção?
Durante anos vigorou a cartilha do ensino diferenciado, da atenção a dar ao aluno enquanto indivíduo, do respeito pela diferença, etc, etc… Mas qual diferença? Qual ensino diferenciado em turmas de trinta alunos ou em escolas de três mil alunos? Um pouco de coragem não ficaria mal e a verdade não ofenderia: “É a economia, estúpido!”.
Jorge Luís Lourinho Mangerona
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