Mário Silva Freire
CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO
O acompanhamento dos filhos
Costuma dizer-se, nos dias que vão correndo, que os pais pouco acompanham os filhos nas suas vidas, dentro e fora da escola. E, para isso, encontram-se várias justificações: stress da vida diária, falta de tempo, preocupações de natureza financeira, funcionamento familiar perturbado, confiança dos pais no sistema de ensino que permite a passagem de ano dos seus filhos (quase) sem estudar...
Ora, se os filhos são ainda crianças e adolescentes, nenhuma destas razões enunciadas, per se, consegue ser suficientemente forte para justificar tal falta de acompanhamento, embora circunstâncias adversas da vida a possam compreender. Acontece que o acompanhamento escolar da parte dos pais não implica, necessariamente, que eles saibam as matérias que os filhos andam a estudar. Diria, até, que são as tarefas que não exigem esse conhecimento as que maior importância têm. Assim, o que pode impedir os pais de, à hora de uma das refeições, solicitarem dos filhos que digam o que de significativo se passou dentro e fora da sala de aula? Fazer perguntas sobre colegas e professores e sobre aquilo que andam a estudar nas diferentes disciplinas é um modo de os pais acompanharem a vida escolar dos filhos. Questioná-los sobre os amigos que têm é tentar compreendê-los para melhor os ajudar.
Claro que o colocar estas e outras questões relacionadas implica circunstâncias que, infelizmente, nem sempre são fáceis de reunir. Assim, os filhos tomam as refeições ao mesmo tempo que os pais ou, pelo menos, com um dos progenitores? Se tal acontecer, há ambiente minimamente adequado (TV desligada, telemóvel ausente, MP3 e iPod longe, consola distante…) para que as perguntas possam ser feitas e cabalmente respondidas? Existe uma autoridade suficientemente madura que permita ouvir as respostas, mesmo as mais surpreendentes ou inadequadas, sem que as emoções saltem de imediato, inibindo, assim, à partida, qualquer abertura ao diálogo com os filhos? Existe uma sabedoria suficientemente evidente que permita retirar dos acontecimentos relatados as conclusões devidas? E brincar ou jogar com os filhos, num ou noutro fim-de-semana, dar um passeio a pé, contar uma história, são actos impossíveis de realizar?
Enfim, as pequenas coisas de um dia a dia numa família minimamente funcional que podem contribuir para gerar pessoas felizes e cidadãos responsáveis!
Mário Freire
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