\ A VOZ PORTALEGRENSE: Luís Pargana

quarta-feira, maio 26, 2010

Luís Pargana


DESABAFOS XVIII

A Cidade de Portalegre fez anos

No passado dia 23 de Maio, comemoraram-se 460 anos desde que Portalegre se tornou cidade, por carta régia do Rei D. João III.
E quando se faz anos, faz-se uma festa. Comemora-se. Portalegre comemorou o seu dia de anos com o trabalho generoso das suas associações culturais e colectividades. Os Ranchos Folclóricos, da Boavista e dos Fortios, as Bandas Filarmónicas Euterpe e Alegretense, o Grupo de Cantares de Portalegre – “O Semeador”, a Escola de Artes do Norte Alentejano, a Associação Cultural Sons do Campo, o Coro Infantil dos Assentos, o Grupo de Teatro de Portalegre, a Associação Juvenil Verdade, o Centro Popular de Trabalhadores do Atalaião, a Associação Velhas Guardas de S. Mamede, os grupos desportivos Estrela e Portalegrense, a Academia de Ténis, o Ginásio Andebol Clube, o Clube de Atletismo, o Portalegre Basquete Clube e ainda a CERCI Portalegre ou a Associação Comercial, foram algumas das instituições que de forma abnegada, com a qualidade do seu trabalho, e a generosidade do seu empenho e dedicação, deram corpo e substância às comemorações do Dia da Cidade de Portalegre, possibilitando que a Cidade festejasse o seu Aniversário.
Apesar do Movimento Associativo Cultural de Portalegre viver, presentemente, uma situação financeira de grande dificuldade, as Festas da Cidade deste ano serviram para mostrar a sua capacidade de realização, e comprovar a sua imprescindibilidade para uma estratégia sustentada de desenvolvimento local.
Espera-se, agora, que a Câmara Municipal olhe de outra forma para as associações e colectividades do concelho, repensando a sua política de apoios e aprofundando as parcerias que emergiram deste programa de comemorações.
Em jeito de desabafo deixo ainda duas notas relacionadas com o Dia da Cidade:
- A primeira para dizer que, este ano, a Câmara Municipal atribuiu 8 medalhas de mérito na sessão solene do Dia da Cidade, em vez das 75 que distribuiu no ano passado, em plena febre pré-eleitoral.
Mesmo assim, duas foram para reparar “esquecimentos” de anos anteriores: a da Escola Secundária Mouzinho da Silveira que apesar dos seus mais de 160 anos ao serviço da educação, não coube na lista de condecorações do ano passado e, a título póstumo, a de Joaquim Miranda, que fez parte do primeiro grupo de eurodeputados portugueses, desde a adesão à CEE, tendo também sido o mais reconhecido a nível mundial por todos os quadrantes políticos e que, por acaso nasceu em Portalegre, aqui tinha residência e família, foi autarca, e cidadão interventivo.
Ora, na verdade, a Câmara de Portalegre, presidida por Mata Cáceres, recusou a atribuição desta medalha a Joaquim Miranda quando este estava já gravemente doente. Levou mais de 5 anos a reconhecer o erro, ignorando recomendações unânimes da própria Assembleia Municipal, e deixou passar todo o mandato de maioria absolutíssima, sem qualquer reposição da justiça. Fê-lo agora num mandato plural que, como sabemos, são sempre os melhores mandatos em Portalegre. Costuma dizer-se que “vale mais tarde que nunca”. Para Joaquim Miranda já foi tarde de mais.
- A segunda nota vai para os despedimentos na empresa Selenis. Em pleno período de Festas da Cidade, a Selenis dispensou 20% dos seus trabalhadores, o que significa uma grave perturbação do tecido social do concelho, com cerca de 30 famílias afectadas. Não falando já das implicações na actividade produtiva da empresa e das consequências que acarretam para o seu futuro.
Num momento de crise e de recessão económica, quando é fundamental aumentar a produção e as exportações, esta é uma notícia suficientemente má para ensombrar qualquer festa ou comemoração na nossa cidade.
Há quem diga que esta crise mundial que afecta, sobretudo os países periféricos da zona euro, foi “programada” para reduzir salários e aumentar as mais-valias da especulação financeira. A este propósito, Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia, veio afirmar que para cumprir os critérios impostos pelos países mais ricos, Portugal e os países periféricos teriam que caminhar para um corte salarial face à Alemanha, na ordem dos 20 a 30%. Krugman acrescenta não acreditar que este tipo de correcção seja possível, pelo que defende que o problema está no modelo de moeda única criado com o euro, que considera inviável.
Eu, por mim, acho que é altura de todos nós demonstrarmos a nossa indignação pela forma como somos desconsiderados nos nossos direitos e no nosso trabalho. Esse é, também, o objectivo da Manifestação Nacional marcada para o próximo Sábado em Lisboa.
É tempo de exigirmos uma vida melhor neste País que é nosso e no qual, afinal, mandamos tão pouco.
25 de Maio de 2010
Luís Pargana