\ A VOZ PORTALEGRENSE: Mário Silva Freire

quinta-feira, março 11, 2010

Mário Silva Freire

CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO
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A doença na família
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Dizia na última crónica que “a indisciplina dentro da sala de aula é um sintoma de doença grave de que o sistema de ensino, muito especialmente o básico, enferma”. Ora, esta doença manifesta-se em múltiplos lugares mas onde ela assume uma virulência contagiosa é na família. É aqui que a criança ou o adolescente, contactando com os modelos que tem diante de si, os pais, tenta imitá-los, para o melhor e para o pior.
Se pai ou mãe são agressivos um para com o outro ou para com os filhos e aplicam em situações semelhantes normas diferentes; se não sabem distinguir o essencial do acessório, recriminando asperamente por algo sem importância mas mantendo-se calados perante desobediência grave; se não conseguem dar ordem aos espaços dentro da casa, mantendo-os desarrumados ao longo do dia; se estão sistematicamente do lado oposto ao dos professores, criticando-os ou, então, mostrando-se alheios ao que se passa dentro da escola ou, até mesmo, fora dela; se não sabem dizer não aos filhos, preferindo ignorar as situações censuráveis do que assumir uma posição firme mas serena, sem violência, então não nos admiremos que os filhos tragam para a escola aquilo que vêem e fazem dentro de casa.
Por isso, a indisciplina que grassa numa grande parte da escola básica tem, em primeira instância, origem na família. É certo que há factores potenciadores, dentro da própria escola, que são geradores de indisciplina. Mas esses factores serão mais facilmente debelados se os alunos trouxerem de casa hábitos de ordem e de respeito pelas regras.
Está a tratar-se, aqui, dos alunos em idade escolar. Mas eles não nasceram aos 6 ou aos 12 anos. Eles trazem atrás de si uma experiência de vida das primeira e segunda infâncias que serão cruciais para as suas capacidades de aprendizagem e desenvolvimento social. E se essas experiências de vida foram traumáticas, seja de abandono, físico ou psicológico, de negligência, de maus-tratos ou outras, então a escola poderia constituir-se como um elemento fortemente compensador dessas desvantagens e ser um potenciador de integração social, contribuindo para uma maior igualdade de oportunidades. Mas estará ela em condições de o ser?
Mário Freire.
in,
O Distrito de Portalegre, 11 de Março de 2010, p.9