Resposta a um Amigo
(José Madrazo)
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Pergunta-me João Marchante, a propósito de um texto meu que acompanhava a efeméride dos trinta e cinco anos da edição de «Portugal e o Futuro»:
_Não considera o ganancioso apetite pelo último Império Ultramarino, por parte dos E. U. A. e da U. R. S. S., como a principal causa para o coup d'État de 1974?...
Vou responder, dando a minha interpretação dos factos, não deixando de dizer quanto me sinto honrado por ter sido interpelado por Alguém que muito admiro e respeito.
_Não considera o ganancioso apetite pelo último Império Ultramarino, por parte dos E. U. A. e da U. R. S. S., como a principal causa para o coup d'État de 1974?...
Vou responder, dando a minha interpretação dos factos, não deixando de dizer quanto me sinto honrado por ter sido interpelado por Alguém que muito admiro e respeito.
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Hoje, a leitura atenta dos arquivos da época, parece não oferecer dúvida que o primeiro momento do denominado Movimento dos Capitães teve razões de ordem corporativa. A insatisfação dos oficiais do quadro face aos oficiais milicianos era real, e de origem monetária motivada pelo processo de progressão na carreira. Num momento seguinte, há a apropriação das reivindicações corporativas para razões de outra ordem, militar e política.
Se bem que quem fizesse a guerra, no teatro das operações, fossem os milicianos, os oficiais do quadro, nos gabinetes, estavam fartos das comissões fora da Metrópole. Sentiam que não podiam ganhar a guerra, mas também sabiam que não a tinham perdido. Na Guiné, e por razões de ordem geográfica mais do que por razões do armamento militar dos guerrilheiros, a situação era diferente. Devido à geografia, havia zonas “abandonadas”, que o PAIGC controlava e onde nas vésperas de Abril de 1974 declarou a independência. Mas esse consentido vazio de controlo por parte do exército português era de ordem táctico-militar.
Por outro lado, há o aproveitamento político por parte de militares ligados ao clandestino PCP, e não só, que vão aproveitar a situação para, no momento certo, transformarem o descontentamento de classe em revolução político-ideológica.
O golpe-de-estado, em 25 de Abril de 1974, é inevitável. Se o livro de Spínola o “acelera”, é uma questão que não tem consenso. É um facto que os militares spinolistas “saem” em 16 de Março de 1974, uma “antecipação” do que ocorreria um mês depois, mas é discutível dizer-se que o livro “deu” a componente ideológica ao MFA. O “Golpe das Caldas” poderia tentar implementar a tese de «Portugal e o Futuro», a Revolução dos Cravos queria a Descolonização, com a entrega do poder aos guerrilheiros que combatiam Portugal e que eram apoiados por diferentes quanto distintos países, que iam da Suécia a Israel, da China à então URSS, e tantos outros como os do denominado Movimento dos Não-alinhados. A posição dos EUA foi clara no tempo de Kennedy, apoio à guerrilha, e ambígua nos tempos de Nixon e Kissinger.
Há um claro “apetite” das duas superpotências de então sobre o Império Colonial Português. A URSS há muito que apostava em termos geopolíticos em África, e os EUA com Kennedy tentaram “recuperar” o tempo perdido. Enquanto a URRS e o seu capitalismo de estado não tinha interesses económicos nas colónias portuguesas, já empresas europeias e americanas estavam presentes.
Contudo, essas empresas americanas e europeias não tinham a liberdade e as oportunidades de negócios no Ultramar português, como em outros novos países africanos, que enquanto recebiam ajuda militar da URSS, viam as suas riquezas naturais serem selvaticamente exploradas por europeus e americanos. Novas formas de colonialismo, que se mantém.
Segundo os arquivos americanos, o governo dos EUA foi apanhado desprevenido. Os serviços secretos americanos não conseguiram prever o que se iria passar, porventura mais preocupados com a Guerra-Fria e com o Chile de Augusto Pinochet. A URSS tinha em Álvaro Cunhal e o PCP a “chave” da fechadura que iria abrir as colónias portuguesas aos seus interesses. É um facto que após a Descolonização o PCP “aceita” o jogo democrático, o seu “tempo” acabara.
Interesses de toda a ordem surgiram após a madrugada de 25 de Abril de 1974. No rescaldo, Portugal “regressou” à Europa, e passou a ser nela um “ponto” ultraperiférico. A URSS implodiu. Os EUA caminham para o seu ocaso, que culminará com a sua fragmentação em Estados independentes.
Se bem que quem fizesse a guerra, no teatro das operações, fossem os milicianos, os oficiais do quadro, nos gabinetes, estavam fartos das comissões fora da Metrópole. Sentiam que não podiam ganhar a guerra, mas também sabiam que não a tinham perdido. Na Guiné, e por razões de ordem geográfica mais do que por razões do armamento militar dos guerrilheiros, a situação era diferente. Devido à geografia, havia zonas “abandonadas”, que o PAIGC controlava e onde nas vésperas de Abril de 1974 declarou a independência. Mas esse consentido vazio de controlo por parte do exército português era de ordem táctico-militar.
Por outro lado, há o aproveitamento político por parte de militares ligados ao clandestino PCP, e não só, que vão aproveitar a situação para, no momento certo, transformarem o descontentamento de classe em revolução político-ideológica.
O golpe-de-estado, em 25 de Abril de 1974, é inevitável. Se o livro de Spínola o “acelera”, é uma questão que não tem consenso. É um facto que os militares spinolistas “saem” em 16 de Março de 1974, uma “antecipação” do que ocorreria um mês depois, mas é discutível dizer-se que o livro “deu” a componente ideológica ao MFA. O “Golpe das Caldas” poderia tentar implementar a tese de «Portugal e o Futuro», a Revolução dos Cravos queria a Descolonização, com a entrega do poder aos guerrilheiros que combatiam Portugal e que eram apoiados por diferentes quanto distintos países, que iam da Suécia a Israel, da China à então URSS, e tantos outros como os do denominado Movimento dos Não-alinhados. A posição dos EUA foi clara no tempo de Kennedy, apoio à guerrilha, e ambígua nos tempos de Nixon e Kissinger.
Há um claro “apetite” das duas superpotências de então sobre o Império Colonial Português. A URSS há muito que apostava em termos geopolíticos em África, e os EUA com Kennedy tentaram “recuperar” o tempo perdido. Enquanto a URRS e o seu capitalismo de estado não tinha interesses económicos nas colónias portuguesas, já empresas europeias e americanas estavam presentes.
Contudo, essas empresas americanas e europeias não tinham a liberdade e as oportunidades de negócios no Ultramar português, como em outros novos países africanos, que enquanto recebiam ajuda militar da URSS, viam as suas riquezas naturais serem selvaticamente exploradas por europeus e americanos. Novas formas de colonialismo, que se mantém.
Segundo os arquivos americanos, o governo dos EUA foi apanhado desprevenido. Os serviços secretos americanos não conseguiram prever o que se iria passar, porventura mais preocupados com a Guerra-Fria e com o Chile de Augusto Pinochet. A URSS tinha em Álvaro Cunhal e o PCP a “chave” da fechadura que iria abrir as colónias portuguesas aos seus interesses. É um facto que após a Descolonização o PCP “aceita” o jogo democrático, o seu “tempo” acabara.
Interesses de toda a ordem surgiram após a madrugada de 25 de Abril de 1974. No rescaldo, Portugal “regressou” à Europa, e passou a ser nela um “ponto” ultraperiférico. A URSS implodiu. Os EUA caminham para o seu ocaso, que culminará com a sua fragmentação em Estados independentes.
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Caro João
O Império acabou. A miríade da Europa acompanhou os sonhos dos vencedores em 25 de Novembro de 1975. Antes, os vencedores de Abril queriam a Ditadura marxista para o Povo Português. Hoje, estamos desesperadamente sós, neste canto da Europa.
Abraço.
O Império acabou. A miríade da Europa acompanhou os sonhos dos vencedores em 25 de Novembro de 1975. Antes, os vencedores de Abril queriam a Ditadura marxista para o Povo Português. Hoje, estamos desesperadamente sós, neste canto da Europa.
Abraço.
Mário
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