António Martinó de Azevedo Coutinho
CROMOS DA BOLA – IV
(sem data, apenas na memória)
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(sem data, apenas na memória)
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O pretexto - em que o Mário simpaticamente me implicou - foi o dos cromos da bola. Com efeito, entendi este compromisso - gostosamente aceite - como desafio (ou provocação!?) para aqui desfiar algumas velhas e já quase esquecidas notas há muito arquivadas na memória de tempos idos.
O pior é que estas coisas da memória são como as cerejas; a gente puxa por uma e outras vêm agarradas...
Carlos Canário, António Bentes, Manuel Martelo e Domingos Demétrio “Patalino” foram aqui evocados, como legítimos representantes do futebol norte-alentejano. É claro que há outros, mas estes foram os que vieram “agarrados” aos tais cromos, ao tal pretexto original.
Como eles são parte significativa do complexo fenómeno socio-desportivo que levou gerações e gerações a gostar, a sério, do futebol, não resisto a relatar aqui, como espécie de “anexo” a esta curta série de testemunhos pessoais, algumas outras notas (ia mesmo a escrever: cerejas!)...
Tive a ventura de contactar, ao vivo, com Carlos Canário. Em finais de 1981, eu, o António Ventura e o Aurélio Bentes com ele conversámos em Portalegre, para a entrevista depois publicada no número dois da revista A Cidade. Dessa interessante conversa, também protagonizada pelo seu irmão Cristóvão, temido goleador do Desportivo, guardo ainda hoje a bela lembrança de um homem superior e, ao mesmo tempo, simples. Não vale a pena recapitular, aqui e agora, as declarações de um dos mais notáveis futebolistas do seu tempo. Basta reler o texto, acessível em qualquer biblioteca que disponha da colecção da revista (1.ª série).O pior é que estas coisas da memória são como as cerejas; a gente puxa por uma e outras vêm agarradas...
Carlos Canário, António Bentes, Manuel Martelo e Domingos Demétrio “Patalino” foram aqui evocados, como legítimos representantes do futebol norte-alentejano. É claro que há outros, mas estes foram os que vieram “agarrados” aos tais cromos, ao tal pretexto original.
Como eles são parte significativa do complexo fenómeno socio-desportivo que levou gerações e gerações a gostar, a sério, do futebol, não resisto a relatar aqui, como espécie de “anexo” a esta curta série de testemunhos pessoais, algumas outras notas (ia mesmo a escrever: cerejas!)...
Evoco, apenas, um dos títulos que destacámos: Às vezes treinávamos de relógio na mão para o treinador não se esquecer que tínhamos de ir trabalhar. Quem assim falava tinha sido jogador efectivo de um dos clubes de topo do nosso futebol, internacional consagrado e, ao mesmo tempo, vulgar empregado num armazém de mercearia...
Não restam dúvidas de que então, pela honra -autêntica- de vestir a camisola branca com riscas verdes horizontais e um leão estampado ou a camisola encarnada com uma águia sobre o coração, muita gente pagaria em vez de receber...
Não restam dúvidas de que então, pela honra -autêntica- de vestir a camisola branca com riscas verdes horizontais e um leão estampado ou a camisola encarnada com uma águia sobre o coração, muita gente pagaria em vez de receber...
Carlos Canário era o médio-direito que, no meio campo, compunha o jogo que os cinco violinos dianteiros depois “tocavam”. Jogou no Sporting entre 1938 e 1951, conquistando 16 títulos e integrando dez vezes a selecção nacional. Em caso de necessidade jogava no ataque e, aí, chegou a marcar 16 golos numa só época, dos mais de 90 que contou durante os 14 anos da sua carreira no SCP.
No dia 2 de Setembro de 1951 poria termo a este percurso como futebolista profissional, mas aceitou reatá-lo no ano seguinte para substituir o lesionado Juca, a expresso pedido dos dirigentes leoninos na altura. Só arrumou definitivamente as botas, quando Juca recuperou e voltou aos relvados. Comentários para quê?
Quanto a Bentes, antes do mais uma revelação, surpreendente ou talvez não!
Em boa e rigorosa verdade, António de Deus Costa de Matos Bentes de Oliveira é natural da freguesia de S. João do Souto, Braga, onde nasceu a 29 de Agosto de 1927. A generalidade dos documentos e textos desde sempre divulgados a propósito, inclusive na Internet, consideram-no como portalegrense de gema...
Assim o chamei também, mas deliberadamente, não só porque a família, desde o “patriarca” seu avô, António Bentes de Oliveira, se fixou em Portalegre desde 1911, como sobretudo por ter sido aqui que o “rato atómico” nasceu para o futebol.
Depois desta inconfidência, eis um episódio interessante a propósito dos primeiros pontapés de Bentes no seio do futebol lagóia.
Em 1944, tinha então 17 anos, ele jogava no Desportivo, apenas em desafios particulares, pois não tinha idade oficial para integrar a equipa júnior! Quando o clube “clandestinamente” o integrou no campeonato distrital desta categoria foi logo depois “vítima” da não homologação do respectivo título, conquistado em vão...
No entanto, suprema contradição, ao ser constituída nessa mesmíssima época (1944-45) a selecção sénior de Portalegre, Bentes foi escolhido como titular efectivo, alinhando a interior esquerdo...
Com os seus 164 cm de altura, Bentes foi um gigante, na Académica de Coimbra, onde jogou desde os 18 anos. Disputou 354 jogos envergando a camisola negra e “assinou” 214 golos, pelo que é o melhor marcador de sempre da história da Briosa.
Em boa e rigorosa verdade, António de Deus Costa de Matos Bentes de Oliveira é natural da freguesia de S. João do Souto, Braga, onde nasceu a 29 de Agosto de 1927. A generalidade dos documentos e textos desde sempre divulgados a propósito, inclusive na Internet, consideram-no como portalegrense de gema...
Assim o chamei também, mas deliberadamente, não só porque a família, desde o “patriarca” seu avô, António Bentes de Oliveira, se fixou em Portalegre desde 1911, como sobretudo por ter sido aqui que o “rato atómico” nasceu para o futebol.
Depois desta inconfidência, eis um episódio interessante a propósito dos primeiros pontapés de Bentes no seio do futebol lagóia.
Em 1944, tinha então 17 anos, ele jogava no Desportivo, apenas em desafios particulares, pois não tinha idade oficial para integrar a equipa júnior! Quando o clube “clandestinamente” o integrou no campeonato distrital desta categoria foi logo depois “vítima” da não homologação do respectivo título, conquistado em vão...
No entanto, suprema contradição, ao ser constituída nessa mesmíssima época (1944-45) a selecção sénior de Portalegre, Bentes foi escolhido como titular efectivo, alinhando a interior esquerdo...
Com os seus 164 cm de altura, Bentes foi um gigante, na Académica de Coimbra, onde jogou desde os 18 anos. Disputou 354 jogos envergando a camisola negra e “assinou” 214 golos, pelo que é o melhor marcador de sempre da história da Briosa.
Um episódio, apenas, bastará para definir o perfil moral de António Bentes. No dia 18 de Maio de 1947, em Elvas, o árbitro lisboeta Abel Ferreira acabara de validar um “golo” da sua autoria. A bola estava bem dentro da baliza elvense, mas entrara por um buraco na rede lateral. O pseudo-marcador assume então a pronta iniciativa de esclarecer o juiz da partida, sendo o pretenso e falso golo de imediato anulado. A Académica, no final, perdeu o desafio por 3-2! Este belo gesto de Bentes valeu-lhe, da parte de amigos e admiradores, um doutoramento póstumo “honoris causa”, pela “Faculdade da Verdade Desportiva”... Repito-me: comentários para quê?
Na próxima crónica, a última da série, recordarei Martelo e Patalino.
Na próxima crónica, a última da série, recordarei Martelo e Patalino.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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