\ A VOZ PORTALEGRENSE: "Grandes Portugueses"

segunda-feira, janeiro 22, 2007

"Grandes Portugueses"

Bordéus, de Édouard Manet (1871)
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O “justo” injusto
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Parece que o país “parou”, não para ver “a banda passar”, mas para se preocupar com um concurso sem o menor critério científico, sem o menor valor pedagógico, em suma, um programa de entretenimento que “mistura” a seriedade com a mais descarada leviandade. Só assim se percebe que em cem “grandes Portugueses” figurasse gente como um entertainer alemão de sexualidade ambígua, um presidente de um clube de futebol a contas com a justiça, e toda uma série de gente menor de um país em forte crise de identidade.
Para “baralhar” ainda mais este espectáculo televisivo de nível circense, como o “vencedor” não agradava ao establishment, os organizadores inventaram uma “segunda volta”, na qual participam os dez mais votados.
De entre estes surge um nome que causou, à partida, a maior estranheza. De seu nome Aristides de Sousa Mendes, funcionário diplomático, conhecido em meios restritos, a primeira questão que se colocou é o porquê da sua votação.
Todavia, foi fácil perceber as razões de e para tal facto.
Aristides de Sousa Mendes era Cônsul na cidade francesa de Bordéus, em plena Guerra Civil Europeia. Perante o avanço das tropas alemãs em solo francês, um número crescente de gente fugia daquele cenário de guerra, procurando sair do país. Então, Aristides começa ininterruptamente a passar vistos para Portugal, sem o menor critério e à revelia das ordens do Estado português.
Eis que surge a “lenda”, na qual Aristides de Sousa Mendes “salva” mais de trinta mil judeus do holocausto nazi.
É verdade que com aqueles vistos muita gente a contas com os mais variados problemas foi salva dos invasores, mas também dos invadidos, uma vez que quem pudesse pagar, tinha direito ao dito visto. Quanto a nacionalidades dos indivíduos a quem foram passados vistos, eram as mais variadas, não sendo possível precisar o número correspondente a cada uma delas. Mas aqui entra a comunidade judaica mundial, ao defender aquele número de judeus salvos pelo dito.
Todo aquele não judeu que salvou judeus do holocausto é um “justo”, logo Aristides de Sousa Mendes é um “justo”.
Para recordar a “barbárie nazi”, nada melhor que aproveitar um concurso, mesmo de baixo nível intelectual, e levar aos “altares” o “justo” Sousa Mendes. E sendo uma comunidade em termos numéricos insignificante, se bem que em termos de influência política e económica determinante, há que gizar o estratagema para se conseguir os votos necessários para que o “desconhecido” Aristides surja em cena. Será que não houve moedinha ou cartão que não tivesse sido introduzida/o nas ranhuras de todas as cabines públicas por esse “mundo” fora? O certo é que Aristides aí está, e em boa companhia, o seu defensor é o advogado José Miguel Júdice.
Agora, o pior é a verdade dos factos! A insuspeita revista «Sábado», fala em crónicos problemas de dinheiro, o director do semanário «Expresso», sob pseudónimo, faz uma rábula sobre o “justo”, e apenas Jaime Nogueira Pinto parece defender Aristides. Mas será mesmo assim?
O que Nogueira Pinto escreve, “Sousa Mendes é uma figura menos polémica, com uma acção humanitária. Sem inimigos.», poderá ter duas “leituras”: uma conduz à diminuição da personagem, querendo dizer que ela é inócua porque quem não tem inimigos, será ou “invisível” ou “tonto”; outra é a desvalorização do acto, porque acções humanitárias qualquer um poderá tê-las feito num qualquer momento da sua vida, sem que para tal seja um "justo".
Por fim, recorde-se que o Estado português, considerando que Aristides de Sousa Mendes foi vítima do Estado Novo, concretamente de Oliveira Salazar, indemnizou a família Sousa Mendes, pecuniariamente. Contudo, que se saiba, o Estado de Israel ou qualquer comunidade ou entidade judaica, não proporcionou ao longo da vida de Aristides de Sousa Mendes, ou à sua família, qualquer apoio financeiro ou de qualquer espécie.
MM