\ A VOZ PORTALEGRENSE: Olivença é Portugal

sexta-feira, novembro 10, 2006

Olivença é Portugal

OLIVENÇA E O IBERISMO
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Voltou a estar na moda apontar uma eventual união Portugal-Espanha para resolver os grandes problemas do povo português. Tudo isto partindo de um estudo em que quase 28% dos inquiridos manifestava tal opinião, e que foi referido quase até à exaustão... esquecendo-se que no mesmo estudo quase 70% dos inquiridos acreditava ser Portugal um país viável. (...)
Parece-me ridículo pôr em causa uma independência de 850 anos, que nunca se teria mantido se não fosse sólida e justificada. Já é suficiente, sem discutir se terá sido o caminho correcto, a "dissolução" (relativa...) na União Europeia, onde, como Estado Soberano, temos voz igual aos outros membros. Numa União Ibérica, até essa igualdade se perderia. (...)
Na verdade, aniquilar um País só porque atravessa um momento de crise parece-me ilógico e revelador de falta de confiança... e mesmo de imaginação. Defender que outros vão fazer o que a nós compete fazer é muita ingenuidade. E, já agora, porque defender a opção espanhola? Revelaria mais imaginação (e MUITO maior proveito económico) uma federação marítima ("talassocrática") com a Holanda ou com a Dinamarca, por exemplo...
O facto de partilharmos uma Península com um Estado não nos obriga a unir-nos por motivos "geográficos"... assim como a Suécia e a Noruega não se unem só porque partilham a península escandinava. O facto de se dizer que "Portugal saiu da Espanha", para além de errado (Portugal "saiu" do Reino de Leão, a Espanha não existia), a nada nos obriga também. Os holandeses e os suíços saíram da Alemanha... e não me consta que se defenda a sua reunificação com a pátria original.
Todos estes argumentos escondem uma profunda incapacidade de pensar assuntos sérios com profundidade e num espírito construtivo, e revelam a preguiça de pensar Portugal a partir do que ele é. (...) Talvez o mais preocupante seja verificar que a razão principal, quando não a única, dos que defendem a União Portugal-Espanha, é de natureza económica... ou interesseira. "Se fôssemos espanhóis, ganharíamos mais, já que eles ganham mais". Esta frase aparece em quase todos os inquéritos. (...)
O que se espera, muitas vezes, de uma União Ibérica é que estrangeiros façam por nós aquilo que nós próprios não conseguimos fazer. Uma ilusão. Imaginemos Madrid a subir o nível de vida em Portugal de um momento para o outro. Como iria buscar recursos para tal? Só tirando-os a regiões espanholas, que não o iriam aceitar nunca.
Não se deve esquecer também que a tendência geral seria tirar Centros de Decisão de Portugal (por exemplo, sedes de empresas) para os aproximar de Madrid. Aliás, isso já sucede. E se hoje o Poder político de Lisboa pode tentar contrariar livremente essa dita tendência, muito mais dificilmente o faria não sendo um Poder Independente. (...)
Não se pretende com estes exemplos dizer que se "desconfia das intenções da Espanha", ou que "a Espanha é a bruxa má desta questão". Não. O que se pretende é que se medite seriamente nos riscos que se corre ao abdicar-se de uma Soberania Plena. As lições de 1580-1640, e as da Guerra que se seguiu, deveriam ser muito bem estudadas. (...)
Não creio, também, que o Povo Espanhol esteja "preparado" para tal tipo de União. Infelizmente, muitos encaram-na, ainda que inconscientemente, como uma "reunificação", ou "absorção". Na verdade, 44% dos espanhóis, contra 38%, declarou num estudo recente que Espanha deveria ser o nome de um eventual Estado Ibérico Unificado. E, nesse mesmo estudo, 80% dos inquiridos do País vizinho considerou que a Capital deveria ser Madrid, só 3% opinando por Lisboa.
Parece, pois, que uma União Ibérica levaria, quase seguramente, a uma centralização, directa ou indirecta, de poderes no Centro da Península... e, com o tempo, a uma despersonalização de Portugal.
O exemplo da despersonalização efectuada, e ainda existente, em Olivença, dá que pensar. Quase me atreveria a perguntar a iberistas de vários quadrantes, quando vêem Portugal enquanto província ou Estado integrado numa "Ibéria", se deveria incluir Olivença (e Táliga) dentro do seu espaço, ou se deveria continuar em espaço alheio.
Em termos históricos, e para concluir (e muito mais haveria a dizer), direi que nunca um povo ou um país prosperaram abdicando da sua existência. Nenhum estrangeiro (Espanhol, Francês, Alemão) nos virá "ajudar" sem pedir nada em troca. E sem ter tendência a monopolizar os cargos superiores e mais bem pagos...

Carlos Eduardo da Cruz Luna
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Via mail chegou-nos de Estremoz e enviado pelo próprio Autor este texto, que agradecemos. Uma vez mais, dizemos PRESENTE à Questão de Olivença.
MM