\ A VOZ PORTALEGRENSE: Isenção

sexta-feira, novembro 10, 2006

Isenção

SER DE DIREITA "é viver entre zinabres, bolores e cotões", sustenta o escritor Mário de Carvalho

Nunca houve uma só esquerda. As diversas fontes doutrinárias, os cismas ideológicos, as praxis políticas, as alianças tácticas - a História está cheia de vultos de esquerda em lados contrários da barricada. Sociais-democratas e anarquistas, trotskistas e maoístas, guevaristas e ecologistas - todos se reclamam herdeiros daqueles radicais que se sentaram ao lado esquerdo da Assembleia Nacional Francesa de 1789.
Por algum motivo, ao longo dos tempos parecia ser mais fácil definirem-se na oposição às ideias dos que se sentaram mais à direita na assembleia de Versalhes que marcou a Revolução Francesa e as futuras distinções da Ciência Política.
O escritor Mário de Carvalho, por exemplo, assenta parte do depoimento que prestou ao DN exactamente nessa dicotomia: "Não sei como se pode ser de direita. É viver e pensar entre zinabres, bolores e cotões. A direita não tem, nem nunca teve, princípios: tem preconceitos. A direita não tem, nem nunca teve, propostas: tem slogans. A direita não defende nem nunca defendeu causas: mas interesses. A direita não cria ideias: inventa pretextos. A direita não expressa razões: faz propaganda. A direita é a imagem donosso atraso, responsável e promotora do que há de mais boçal, retrógrado e deprimente na sociedade portuguesa. Quando alguém se clama de direita (e é de ressalvar que, individualmente falando, há na direita gente estimável e respeitável a muitos títulos) assume um lastro de opressão, violência, ignomínia, mentira, obscurantismo, que pesa através dos séculos e que nos vem diminuindo e amesquinhando até aos nossos dias.”
Hoje em dia, muitas esquerdas se revêem nestas palavras. Mas outras talvez não as subscrevam.
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Manuel Azinhal no post de hoje intitulado “Ser de esquerda” faz referência ao debate que o DN de hoje traz nas suas páginas 2 e 3 do caderno principal.
Da sua leitura, fez o Magnífico Senhor de ‘O Sexo dos Anjos’ perfeita análise.
Apenas transcrevemos este texto que não vem assinado, mas que se pressupõe ser dos responsáveis do trabalho, Fernando Madaíl e Pedro Correia.
Fazemo-lo porque consideramos ser importante a sua divulgação. Porquê? Porque o que lá é dito, se por um lado não merece resposta, por outro, mostra a categoria intelectual de quem o escreveu e daqueles que nele se revêem.

MM