\ A VOZ PORTALEGRENSE: Mário Silva Freire - "Crónicas de Educação" II

sexta-feira, março 05, 2021

Mário Silva Freire - "Crónicas de Educação" II

PRÓLOGO

Os textos que compõem este trabalho resultam de 200 crónicas que foram publicadas no Diário Insular, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, entre Dezembro de 2011 e Dezembro de 2015, sob o título genérico de Crónicas de Educação. Tratando-se de um jornal generalista, com incidência nas notícias locais ou regionais mas, também, nacionais, ele possuía, igualmente, um grupo de colaboradores que, sem deixarem de dar o carácter insular às suas crónicas, as enquadravam numa perspectiva mais global.

As crónicas que agora se apresentam, aproveitando certas datas ou circunstâncias que iam ocorrendo no todo nacional mas, também, noutros lugares, sem descurar a realidade açoriana, tentaram olhar para variados caminhos da educação. Apresentando estes textos uma perspectiva pessoal do autor, decorrentes do estudo e da sua experiência, eles assentaram, igualmente, em fontes credíveis, quer nacionais, como as Publicações, os Estudos e os Relatórios do Conselho Nacional de Educação, quer internacionais, como estudos provindos da OCDE, WISE, UNICEF, Le Café Pédagogique

Por outro lado, muitas dessas crónicas, começadas a ser publicadas no centenário da Implantação da República, tomaram como referência ideias pedagógicas inovadoras de que os pedagogos da 1ª República foram arautos. Ora, muitos desses conceitos pedagógicos, postos em forma de lei, mas nem sempre levados à prática, continuam, neste final da segunda década do século XXI, a ter plena actualidade. Por isso se inicia este livro com a enunciação de algumas dessas ideias e a referência a alguns desses pedagogos.

Desde o tempo em que estas crónicas começaram a ser publicadas até à actualidade acelerou-se a mudança tecnológica. E esta mudança estendeu-se a todos os sectores da actividade humana. Cada vez mais se diz que estamos a viver a Quarta Revolução Industrial, apoiada pela indústria 4.0, a qual permite que as máquinas trabalhem em conexão umas com as outras e os processos possam automatizar-se como nunca antes aconteceu. A inteligência artificial, com as consequências de natureza social que dela advêm, quer no conteúdo, quer na organização do trabalho, estão já à vista. Basta dizer-se, a título exemplificativo, que no Japão, em certos centros de acolhimento de idosos, o acompanhamento destes é feito, com êxito, por robots, sendo estes preferidos aos humanos pelos utentes.

Aquele conceito de ter o mesmo emprego ao longo da vida já está ultrapassado. Vai-se mudando de emprego à medida das oportunidades que vão surgindo, de acordo com os interesses, as competências e os valores de cada um. Por outro lado, a existência de um lugar fixo de trabalho já não é condição para se servir a comunidade. No exercício de muitas funções não se torna exigível a presença física num determinado local de trabalho e o seu exercício pode ser feito de casa, de espaços partilhados ou, até, de uma maneira nómada.

Vive-se em plena sociedade do conhecimento e este está acessível a qualquer um na internet. Ele está mudando em cada hora que passa. Por isso se fala na aprendizagem ao longo da vida.

Por outro lado, as inovações que se verificam no domínio das tecnologias digitais atingem hoje uma sofisticação tal que uma criança ou adolescente se encontram capazes de as utilizar, com todos os benefícios e inconvenientes decorrentes desse uso. Por isso, a UNICEF, no seu documento Children in a Digital World, de 2017, identifica as oportunidades mas, igualmente, os perigos a que as crianças e os adolescentes estão expostos quando usam o online.

Igualmente, a escola não pode ficar alheia ao que vai acontecendo na vida real, onde o virtual está omnipresente. Ora, a instituição escolar corre o risco de se divorciar daquela se o uso do virtual, pedagogicamente orientado, não servir para atingir os grandes objectivos educacionais.

Mas nem só do digital vive a educação. Com ele mas, também, para além dele, há as políticas que se levam a cabo pelos governos e as metas que pretendem atingir-se, os valores, a família, as estratégias pedagógicas, os conflitos dentro e fora da escola, os comportamentos dos educadores e dos educandos, enfim, uma plêiade de factos e de circunstâncias que fazem da educação factor decisivo no desenvolvimento da pessoa mas, igualmente, de um país e da sociedade globalizada em que vivemos. Estes temas são, pois, abordados nestas crónicas.

Elas, vistas à distância de quatro anos, pareceram ao seu autor que, devidamente organizadas por grandes temas, poderiam constituir-se num contributo, ainda que modesto, para quem trabalha nos campos da educação. Das crónicas que foram publicadas, algumas foram suprimidas pelo seu carácter mais pessoal; outras, ainda, não figuraram por o seu conteúdo, formalmente diferente, ser repetitivo. Tendo os destinatários características muito diversificadas, tentou-se que elas fossem muito curtas e de linguagem acessível, sem que isso limitasse os factos e a opinião.

Duas dificuldades se colocaram ao autor, ao dar a estas crónicas a forma de livro. Uma, foi a do seu agrupamento por grandes temas e de equilibrar estes na sua extensão, de modo que cada um constituísse uma unidade, ainda que polifacetada. A outra, foi a de incluir dado tema num ou noutro capítulo, dado seu conteúdo verter para vários sectores do acto educativo.

Aqui ficam quatro anos de reflexão semanal sobre alguns modelos, actos e políticas na Educação, agora, de novo, revisitados e tornados disponíveis sob a forma de e-book, na rede researchgate.

O autor, tendo iniciado a sua escrita em jornais no já longínquo ano de 1960, no Diário Insular, agradece ao seu actual director, Dr. José Lourenço, a retoma da sua colaboração, passados que foram mais de 50 anos, e o acolhimento que deu às suas crónicas. Elas pretenderam homenagear, modestamente, a memória daqueles que já partiram, muito especialmente o reitor Dr. Pato François, professores, funcionários e alunos do então Liceu Nacional de Angra do Heroísmo e daqueles que, estando vivos, souberam acolher de um modo carinhoso um jovem inexperiente, vindo do Continente, acabado de sair da Universidade. Talvez esse modo amistoso de receber, num primeiro contacto com uma profissão, tivesse contribuído para que o autor se decidisse a seguir a missão de ser professor.

 

ÍNDICE

PRÓLOGO 10

I – DA EDUCAÇÃO NA Iª REPÚBLICA E ALGUNS DOS SEUS VULTOS AO 25 DE ABRIL 13

Uma exposição comemorativa 14

Avivando a memória 14

A educação cívica e patriótica 15

A mulher e o sistema de ensino 16

O simbolismo da árvore 17

O ensino primário 17

Os liceus 18

O ensino superior 19

O ensino profissional 20

António Aurélio da Costa Ferreira – um ensino para todos 21

Faria de Vasconcelos – a escola dos novos tempos 22

António Sérgio – para uma pedagogia de salvação nacional 24

As novas Escolas do Magistério Primário 25

O que se esperava de um professor do ensino primário 26

Os interesses da criança nas aprendizagens 26

A comunidade e a formação de professores no primário 27

Um novo capítulo da História da Educação em Portugal 28

II - POLÍTICAS E EDUCAÇÃO 29

O comparativismo 30

Dar oportunidades à igualdade 30

Ser professor hoje 31

Participação e autonomia em educação 32

Metas educacionais para reflectir 32

Meritocracia e individualização do ensino – valores sem discussão? 33

 Determinismos, riscos e educação 34

Fragilidades de contexto na escola básica 35

Uma contradição a ultrapassar 35

As omissões de um inquérito educacional de âmbito internacional 36

Interioridade, insularidade e resultados escolares 37

O desafio do saber 38

A importância do 1º ciclo do básico 38

Organização das turmas: acto administrativo ou ideológico? 39

III – DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI 41

Que aluno temos hoje? 42

O virtual e o real 42

O ambiente de aprendizagem do aluno 43

Aprender os media 44

O professor do século XXI 44

A terceira grande revolução da escola contemporânea 45

Os espaços e os tempos 46

Uma tentativa internacional de inovação em educação 47

O ensino no futuro 48

As redes sociais e a escola 48

A comunicação digital entre a escola, os alunos e a família 49

Transformar a escola 50

A escola e as gerações X, Y e Z 51

IV – APRENDER VALORES 53

Pode aprender-se a paz 54

Quem ensina a paz? 54

Combater os estereótipos 55

Educação sexual na escola 56

Promover valores éticos 57

Coerência dos princípios que se defendem com as atitudes que se tomam 58

Educar para a liberdade 58

Educar para a fraternidade 59

Aprender a competir 60 

Que Ecologia para a escola? 61

Ensinem-lhes que a terra é nossa mãe 62

A dimensão transcendente na educação 62

Aprender a sabedoria 63

O valor da educação 64

V – APRENDER COMPETÊNCIAS 66

A leitura e o sucesso escolar 67

A transversalidade da Língua Portuguesa 67

A Matemática: factor crítico na escolha profissional 68

Ensinar-se a curiosidade 68

Despertar a criatividade 69

O cisne negro 70

O importante e o urgente 71

Carpe diem! 72

Usar o pensamento e as emoções no xadrez 72

Desenvolver intelectualmente os alunos 73

Pensar o inabitual para ser competitivo 74

A formação emocional dos professores e dos alunos 74

Desenvolver a autonomia e o compromisso com a cidadania 76

Desejar aprender 76

Aprender a aprender 77

VI – ESTRATÉGIAS DE ENSINO 79

Trabalho e exigência para melhorar os resultados dos alunos 80

Saber fazer perguntas 80

Um teste invulgar 81

Precisamos de tempo para aprender! 82

Diferenciar a relação pedagógica 82

Aprendizagem através dos pares 83

Aprender a resolver problemas 84

Para um debate eficaz na sala de aula 85

Saber ler os sinais 86

Feedback do professor junto do aluno 87

Para que servem os testes escolares? 87

Trabalhos para casa 88

Um mar de incertezas! 89

Um recurso pedagógico valioso e gratuito 89

O trabalho em equipa nos professores 90

A máquina que transferia informação para o cérebro dos alunos 91

VII – COMBATER O INSUCESSO ESCOLAR 92

Os custos de uma retenção de ano 93

Jardim-de-infância: factor de sucesso na escola e para a vida 93

A estátua que se transformou em mulher 94

Autoconceito e sucesso escola 95

Uma experiência de ensino tutorial 96

A Música na Escola 97

A expressão dramática na escola 98

A culinária na escola 98

A Arte no ensino da Matemática 99

Gostam da escola mas não das aulas 100

O abandono escolar e a escola 101

Aprender a pensar 101

Combater o insucesso escolar com a Psicologia ou com a Pedagogia? 102

VIII – APRENDER A PENSAR E A EMOCIONAR-SE COM A CIÊNCIA 104

Inovação no ensino através das Ciências 105

Ensinar a fazer Ciência 105

Visões 106 

Cientistas de palmo e meio 107 

Um museu para um só mineral 108

O encantamento e o mistério da vida 108

A mão na massa 109

IX - A FAMÍLIA E A ESCOLA 111

A participação dos pais na educação 112

Relações pais-professores 112

A escolaridade dos pais 113

A escola na família 114

A importância dos primeiros anos para o sucesso na escola e na vida 114

A família, a justiça e a educação 115

As redes sociais e os pais 116

Os pais separados e a escola  117

A negligência de supervisão 117

Voltar para casa? 118

A justiça na família e na escola 119

O abandono escolar e a família 120

Os pais que valorizam a aprendizagem dos filhos 121

Os poderes na família e na escola 121

Trabalhos para casa: para quê? 122

Os pais e os trabalhos para casa 123

Por que se começa a fumar? 123

O linguajar dos jovens 124

X – A INDISCIPLINA E A VIOLÊNCIA EM AMBIENTE ESCOLAR 126

Os recreios escolares e os comportamentos dos alunos 127

Os recreios escolares e os auxiliares de acção educativa 127

O preço da indisciplina 128

A co-participação na disciplina escolar 129

Alunos-líderes 129

Poder e autoridade na sala de aula 130

Na tua escola há bullying 131

Ciberbullying 132

O vestuário, os adolescentes e a escola  132

Transformar a culpabilidade em responsabilidade 133

Conflitos na escola e mediação 134

Um caso de mediação 135

XI – TEMPOS LIVRES, VOLUNTARIADO E… CONSTRUIR O FUTURO 136

Ficar amarrado à corrente 137

O conhecimento de si mesmo 137

A vida para além do estudo e da sala de aula 138

Férias com significado 139

Um desafio aos estudantes do ensino superior 140

A escolha da carreira e o papel do aluno 141

Algumas variáveis da escolha 142

As características da personalidade e a gestão da carreira 143

Vias profissionalizantes no ensino 143

A transição do secundário para o superior 144

A empregabilidade jovem e o Programa Erasmus 145

Aprender a estar reformado 146

Aposentados Educadores 146

EPÍLOGO 148

O Autor 150

Dados biográficos 150

Livros publicados 151

Redes digitais a que está associado 152