Mário Silva Freire - "Crónicas de Educação" II
PRÓLOGO
Os textos que compõem este trabalho resultam de 200 crónicas
que foram publicadas no Diário Insular,
Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, entre Dezembro de 2011 e Dezembro de 2015,
sob o título genérico de Crónicas de
Educação. Tratando-se de um jornal generalista, com incidência nas notícias
locais ou regionais mas, também, nacionais, ele possuía, igualmente, um grupo
de colaboradores que, sem deixarem de dar o carácter insular às suas crónicas,
as enquadravam numa perspectiva mais global.
As crónicas que agora se apresentam, aproveitando certas
datas ou circunstâncias que iam ocorrendo no todo nacional mas, também, noutros
lugares, sem descurar a realidade açoriana, tentaram olhar para variados
caminhos da educação. Apresentando estes textos uma perspectiva pessoal do
autor, decorrentes do estudo e da sua experiência, eles assentaram, igualmente,
em fontes credíveis, quer nacionais, como as Publicações, os Estudos e os
Relatórios do Conselho Nacional de
Educação, quer internacionais, como estudos provindos da OCDE, WISE,
UNICEF, Le Café Pédagogique…
Por outro lado, muitas dessas crónicas, começadas a ser
publicadas no centenário da Implantação da República, tomaram como referência
ideias pedagógicas inovadoras de que os pedagogos da 1ª República foram
arautos. Ora, muitos desses conceitos pedagógicos, postos em forma de lei, mas
nem sempre levados à prática, continuam, neste final da segunda década do
século XXI, a ter plena actualidade. Por isso se inicia este livro com a
enunciação de algumas dessas ideias e a referência a alguns desses pedagogos.
Desde o tempo em que estas crónicas começaram a ser
publicadas até à actualidade acelerou-se a mudança tecnológica. E esta mudança
estendeu-se a todos os sectores da actividade humana. Cada vez mais se diz que
estamos a viver a Quarta Revolução
Industrial, apoiada pela indústria 4.0, a qual permite que as máquinas
trabalhem em conexão umas com as outras e os processos possam automatizar-se
como nunca antes aconteceu. A inteligência artificial, com as consequências de
natureza social que dela advêm, quer no conteúdo, quer na organização do
trabalho, estão já à vista. Basta dizer-se, a título exemplificativo, que no
Japão, em certos centros de acolhimento de idosos, o acompanhamento destes é
feito, com êxito, por robots, sendo estes preferidos aos humanos pelos utentes.
Aquele conceito de ter o mesmo emprego ao longo da vida já
está ultrapassado. Vai-se mudando de emprego à medida das oportunidades que vão
surgindo, de acordo com os interesses, as competências e os valores de cada um.
Por outro lado, a existência de um lugar fixo de trabalho já não é condição
para se servir a comunidade. No exercício de muitas funções não se torna
exigível a presença física num determinado local de trabalho e o seu exercício
pode ser feito de casa, de espaços partilhados ou, até, de uma maneira nómada.
Vive-se em plena sociedade do conhecimento e este está
acessível a qualquer um na internet. Ele está mudando em cada hora que passa.
Por isso se fala na aprendizagem ao longo da vida.
Por outro lado, as inovações que se verificam no domínio das
tecnologias digitais atingem hoje uma sofisticação tal que uma criança ou
adolescente se encontram capazes de as utilizar, com todos os benefícios e
inconvenientes decorrentes desse uso. Por isso, a UNICEF, no seu documento Children in a Digital World, de 2017,
identifica as oportunidades mas, igualmente, os perigos a que as crianças e os
adolescentes estão expostos quando usam o online.
Igualmente, a escola não pode ficar alheia ao que vai
acontecendo na vida real, onde o virtual está omnipresente. Ora, a instituição
escolar corre o risco de se divorciar daquela se o uso do virtual,
pedagogicamente orientado, não servir para atingir os grandes objectivos
educacionais.
Mas nem só do digital vive a educação. Com ele mas, também,
para além dele, há as políticas que se levam a cabo pelos governos e as metas
que pretendem atingir-se, os valores, a família, as estratégias pedagógicas, os
conflitos dentro e fora da escola, os comportamentos dos educadores e dos
educandos, enfim, uma plêiade de factos e de circunstâncias que fazem da
educação factor decisivo no desenvolvimento da pessoa mas, igualmente, de um
país e da sociedade globalizada em que vivemos. Estes temas são, pois,
abordados nestas crónicas.
Elas, vistas à distância de quatro anos, pareceram ao seu
autor que, devidamente organizadas por grandes temas, poderiam constituir-se
num contributo, ainda que modesto, para quem trabalha nos campos da educação.
Das crónicas que foram publicadas, algumas foram suprimidas pelo seu carácter
mais pessoal; outras, ainda, não figuraram por o seu conteúdo, formalmente
diferente, ser repetitivo. Tendo os destinatários características muito diversificadas,
tentou-se que elas fossem muito curtas e de linguagem acessível, sem que isso limitasse
os factos e a opinião.
Duas dificuldades se colocaram ao autor, ao dar a estas
crónicas a forma de livro. Uma, foi a do seu agrupamento por grandes temas e de
equilibrar estes na sua extensão, de modo que cada um constituísse uma unidade,
ainda que polifacetada. A outra, foi a de incluir dado tema num ou noutro
capítulo, dado seu conteúdo verter para vários sectores do acto educativo.
Aqui ficam quatro anos de reflexão semanal sobre alguns
modelos, actos e políticas na Educação, agora, de novo, revisitados e tornados
disponíveis sob a forma de e-book, na
rede researchgate.
O autor, tendo iniciado a sua escrita em jornais no já
longínquo ano de 1960, no Diário Insular,
agradece ao seu actual director, Dr. José Lourenço, a retoma da sua
colaboração, passados que foram mais de 50 anos, e o acolhimento que deu às
suas crónicas. Elas pretenderam homenagear, modestamente, a memória daqueles
que já partiram, muito especialmente o reitor Dr. Pato François, professores,
funcionários e alunos do então Liceu Nacional de Angra do Heroísmo e daqueles
que, estando vivos, souberam acolher de um modo carinhoso um jovem
inexperiente, vindo do Continente, acabado de sair da Universidade. Talvez esse
modo amistoso de receber, num primeiro contacto com uma profissão, tivesse
contribuído para que o autor se decidisse a seguir a missão de ser professor.
ÍNDICE
PRÓLOGO 10
I – DA EDUCAÇÃO NA Iª REPÚBLICA E ALGUNS DOS SEUS VULTOS AO 25 DE ABRIL 13
Uma exposição comemorativa 14
Avivando a memória 14
A educação cívica e patriótica 15
A mulher e o sistema de ensino 16
O simbolismo da árvore 17
O ensino primário 17
Os liceus 18
O ensino superior 19
O ensino profissional 20
António Aurélio da Costa Ferreira – um ensino para todos 21
Faria de Vasconcelos – a escola dos novos tempos 22
António Sérgio – para uma pedagogia de salvação nacional 24
As novas Escolas do Magistério Primário 25
O que se esperava de um professor do ensino primário 26
Os interesses da criança nas aprendizagens 26
A comunidade e a formação de professores no primário 27
Um novo capítulo da História da Educação em Portugal 28
II - POLÍTICAS E EDUCAÇÃO 29
O comparativismo 30
Dar oportunidades à igualdade 30
Ser professor hoje 31
Participação e autonomia em educação 32
Metas educacionais para reflectir 32
Meritocracia e individualização do ensino – valores sem
discussão? 33
Determinismos, riscos
e educação 34
Fragilidades de contexto na escola básica 35
Uma
contradição a
ultrapassar 35
As omissões de um inquérito educacional de âmbito internacional 36
Interioridade, insularidade e
resultados escolares 37
O desafio do saber 38
A importância do 1º ciclo do básico 38
Organização das turmas: acto administrativo ou ideológico? 39
III – DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI 41
Que aluno temos hoje? 42
O virtual e o real 42
O ambiente de aprendizagem do aluno 43
Aprender os media 44
O professor do século XXI 44
A terceira grande revolução da escola contemporânea 45
Os espaços e os tempos 46
Uma tentativa internacional de inovação em educação 47
O ensino no futuro 48
As redes sociais e a escola 48
A comunicação digital entre a escola, os alunos e a família 49
Transformar a escola 50
A escola e as gerações X, Y e Z 51
IV – APRENDER VALORES 53
Pode aprender-se a paz 54
Quem ensina a paz? 54
Combater os estereótipos 55
Educação sexual na escola 56
Promover valores éticos 57
Coerência dos princípios que se defendem com as atitudes que se tomam 58
Educar para a liberdade 58
Educar para a fraternidade 59
Aprender a competir 60
Que Ecologia para a escola? 61
Ensinem-lhes que a terra é nossa mãe 62
A dimensão transcendente na educação 62
Aprender a sabedoria 63
O valor da educação 64
V – APRENDER COMPETÊNCIAS 66
A leitura e o sucesso escolar 67
A transversalidade da Língua Portuguesa 67
A Matemática: factor crítico na escolha profissional 68
Ensinar-se a curiosidade 68
Despertar a criatividade 69
O cisne negro 70
O importante e o urgente 71
Carpe diem! 72
Usar o pensamento e as emoções no xadrez 72
Desenvolver intelectualmente os alunos 73
Pensar o inabitual para ser competitivo 74
A formação emocional dos professores e dos alunos 74
Desenvolver a autonomia e o compromisso com a cidadania 76
Desejar aprender 76
Aprender a aprender 77
VI – ESTRATÉGIAS DE ENSINO 79
Trabalho e exigência para melhorar os resultados dos alunos 80
Saber fazer perguntas 80
Um teste invulgar 81
Precisamos de tempo para aprender! 82
Diferenciar a relação pedagógica 82
Aprendizagem através dos pares 83
Aprender a resolver problemas 84
Para um debate eficaz na sala de aula 85
Saber ler os sinais 86
Feedback do professor junto do aluno 87
Para que servem os testes escolares? 87
Trabalhos para casa 88
Um mar de incertezas! 89
Um recurso pedagógico valioso e gratuito 89
O trabalho em equipa nos professores 90
A máquina que transferia informação para o cérebro dos
alunos 91
VII – COMBATER O INSUCESSO ESCOLAR 92
Os custos
de uma retenção de ano 93
Jardim-de-infância: factor de sucesso na escola e para a vida 93
A estátua que se transformou em
mulher 94
Autoconceito e sucesso escola 95
Uma experiência de ensino tutorial 96
A Música na Escola 97
A expressão dramática na escola 98
A culinária na escola 98
A Arte no ensino da Matemática 99
Gostam da escola mas não das
aulas 100
O abandono escolar e a escola 101
Aprender a pensar 101
Combater o insucesso escolar com a Psicologia ou com a Pedagogia? 102
VIII – APRENDER A PENSAR E A EMOCIONAR-SE COM A CIÊNCIA 104
Inovação no ensino através das
Ciências 105
Ensinar a fazer Ciência 105
Visões 106
Cientistas de palmo e meio 107
Um museu para um só mineral 108
O encantamento e o mistério da vida 108
A mão na massa 109
IX - A FAMÍLIA E A ESCOLA 111
A participação dos pais na educação 112
Relações pais-professores 112
A escolaridade dos pais 113
A escola na família 114
A importância dos primeiros anos para o sucesso na escola e na vida 114
A família, a justiça e a educação 115
As redes sociais e os pais 116
Os pais separados e a escola 117
A negligência de supervisão 117
Voltar para casa? 118
A justiça na família e na escola 119
O abandono escolar e a família 120
Os pais que valorizam a aprendizagem dos filhos 121
Os poderes na família e na escola 121
Trabalhos para casa: para quê? 122
Os pais e os trabalhos para casa 123
Por que se começa a fumar? 123
O linguajar dos jovens 124
X – A INDISCIPLINA E A VIOLÊNCIA EM AMBIENTE ESCOLAR 126
Os recreios escolares e os comportamentos dos
alunos 127
Os recreios escolares e os auxiliares de acção educativa 127
O preço da indisciplina 128
A co-participação na disciplina escolar 129
Alunos-líderes 129
Poder e autoridade na sala de aula 130
Na tua escola há bullying 131
Ciberbullying 132
O vestuário, os adolescentes e a escola 132
Transformar a culpabilidade em responsabilidade 133
Conflitos na escola e mediação 134
Um caso de mediação 135
XI – TEMPOS LIVRES, VOLUNTARIADO E… CONSTRUIR O FUTURO 136
Ficar amarrado à corrente 137
O conhecimento de si mesmo 137
A vida para além do estudo e da sala de aula 138
Férias com significado 139
Um desafio aos estudantes do ensino superior 140
A
escolha da carreira e o papel do aluno 141
Algumas variáveis da escolha 142
As características da personalidade e a gestão da carreira 143
Vias profissionalizantes no ensino 143
A transição do secundário para o superior 144
A empregabilidade jovem e o Programa Erasmus 145
Aprender a estar reformado 146
Aposentados Educadores 146
EPÍLOGO 148
O Autor 150
Dados biográficos 150
Livros publicados 151
Redes digitais a que está associado 152
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