\ A VOZ PORTALEGRENSE: Homenagem a Raúl Cóias Dias

sexta-feira, dezembro 12, 2014

Homenagem a Raúl Cóias Dias

Os quatro pontos cardeais
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Raúl Cóias Dias vem residir para Portalegre na véspera de fazer doze anos. Anos depois, descreve a cidade de  Portalegre num parágrafo poético, que à luz de hoje é uma memória passada:
_ “Portalegre” era um tear, cidade branca a fiar, de pulseira e avental, uma tasca em cada esquina e um brilho a senhora fina na ternura do olhar, silêncio de rua antiga, bêcos, roupa a secar, restos de “Duro”, vinho escuro, vestígios de “Bernardim”, écloga de sombra, jardim, “Nossa Senhora da Penha”, “Portalegre, contra sanha: o suor, o vinho, o pão… “Bonfim”, “Santana”, “S. Cristóvão”…” (só mais tarde Atalaião). (1)
Raul Cóias vive os anos sessenta em Portalegre. Estes anos são dos mais importantes para Portalegre, que viu um surto de desenvolvimento e progresso nunca vistos. E também em termos sociológicos é uma década de grandes transformações de mentalidades e costumes.
Com a sua inteligência, Cóias foi percebendo os sinais do tempo e da época, e dela, com forte entusiasmo, diz:
_ “Anos sessenta”. Que ano? “Portalegre”! Que postal! (1)
A memória daquele tempo vivido em Portalegre cidade está no seu magistral poema, justamente intitulado «Poema a Portalegre».
Editado em três parte pelo então bissemanário Fonte Nova, em 22 e 26 de julho e em 19 de agosto de 2000, é dos mais belos textos escritos sobre Portalegre.
De uma pureza, de uma verdade e profundidade, emociona quem o lê.
O retrato que faz das gentes, dos locais, das coisas é admirável, único!
Neste singela homenagem ao Homem, há quatro locais de Portalegre que a ela e à Memória que deixou, lhe estão intimamente ligados. Todos são lugares de culto dos portalegrense que naquela década viveram a cidade.
O Liceu, a Piscina, o Alentejano, a Fontedeira, não necessariamente por esta ordem, são quatro espaços que frequentou e nos quais brilhou. O excelente guarda-redes do Grupo Desportivo Portalegrense, o cliente assíduo do Café Alentejano, o exímio praticante de saltos para a água e o bom aluno, deixaram em quem o conheceu o respeito por uma alma nobre e generosa.
Passados anos após o seu desaparecimento físico, nas gerações que o conheceram, ficou sempre uma recordação forte e permanece viva a sua poesia. Também a figura do desportista é por tantos lembrada, ele que nela tudo poderia ter alcançado. Discreto, cultivou a amizade e recebeu-a dos seus amigos.
Sobre a sua obra, ele próprio diz:
_ É claro que escrevo versos (tenho mesmo vários dispersos por revistas e jornais; fragmentos de sensações, pequenos fados, canções, escritos ocasionais). (1)
Que se faça a recolha dos escritos do Cóias!
Mário Casa Nova Martins
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(1) Fonte Nova, números 788, 789, 791, páginas. 11, 15, 23
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Amanhã, sábado dia 13 de dezembro, Jorge Mangerona, na apresentação da «PLÁTANO - Revista de Arte e Crítica de Portalegre», faz um elogio que é uma Homenagem a Raúl Cóias Dias.
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