Fernando Correia Pina
Dia após dia
Dia após dia, à mesma hora,
passo nos mesmos sítios, cumprimento
as mesmas pessoas. Sei agora
que um cigarro aceso em movimento
dura desde a esquina do Café Alentejano
até à porta de casa.
Tornei-me pateticamente previsível
nos dias úteis. Invisível nos outros,
nos fins de semana em que fico em casa
a pensar nas coisas que tenho para fazer
e nunca faço.
Padeço de niilismo intermitente:
cedo ou tarde, penso, ninguém saberá
quem fui ou que aspecto tinha
e eu não serei nada.
Às vezes ao cruzar o largo da sé
tenho a sensação de não existir
se ninguém estiver a olhar para mim
a não ser aquele vulto atrás das vidraças
da catedral que talvez seja deus
preocupado com os pombos que lhe estragam
os telhados da casa.
Mas é tudo indistinto.
Talvez que um dia
o vento me cole um papel ao rosto
e nesse papel esteja escrita
uma qualquer banalidade
que me faça sorrir e atravessar
triunfalmente as Portas do Crato
deslumbrado com a leveza das nuvens barrocas
que pairam sobre a Penha
e a minha alma, finalmente,
se reconcilie comigo e eu com o mundo.
Dia após dia, à mesma hora,
passo nos mesmos sítios, cumprimento
as mesmas pessoas. Sei agora
que um cigarro aceso em movimento
dura desde a esquina do Café Alentejano
até à porta de casa.
Tornei-me pateticamente previsível
nos dias úteis. Invisível nos outros,
nos fins de semana em que fico em casa
a pensar nas coisas que tenho para fazer
e nunca faço.
Padeço de niilismo intermitente:
cedo ou tarde, penso, ninguém saberá
quem fui ou que aspecto tinha
e eu não serei nada.
Às vezes ao cruzar o largo da sé
tenho a sensação de não existir
se ninguém estiver a olhar para mim
a não ser aquele vulto atrás das vidraças
da catedral que talvez seja deus
preocupado com os pombos que lhe estragam
os telhados da casa.
Mas é tudo indistinto.
Talvez que um dia
o vento me cole um papel ao rosto
e nesse papel esteja escrita
uma qualquer banalidade
que me faça sorrir e atravessar
triunfalmente as Portas do Crato
deslumbrado com a leveza das nuvens barrocas
que pairam sobre a Penha
e a minha alma, finalmente,
se reconcilie comigo e eu com o mundo.
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