Rui Manuel Aragonez Marques
Retratos de Gente em Procissão
de, Aragonez Marques
Para os católicos, a Páscoa é a festa mais importante do seu
calendário litúrgico. Antecede-a a Semana Santa, e, por sua vez, em Portalegre
antecede esta a Procissão dos Passos do Senhor.
É a manifestação religiosa que mais devotos e devoção concentra
e congrega em Portalegre.
O Rui Aragonês, como sempre o tratámos, assiste à Procissão.
Todavia, está anos fora de Portalegre, e quando regressa é no dia da Procissão.
Então vê gentes que há muito não via, gentes que faziam parte do seu imaginário,
da sua infância e juventude. E essa memória traz-lhe recordações que agora quis
partilhar.
«Retratos de Gente em Procissão» é uma história e simultaneamente
estória. Ao sabor do tempo e do lugar, o Rui, agora Aragonez, discorre de fatos
e lendas de Portalegre, e não só. É uma escrita fluida, simpática, amável.
Há ‘ajustes de contas’, principalmente porque as ‘coisas’
nem sempre lhe foram fáceis no CDSA. Mas não é único a fazer as mesmas queixas!
Aqueles tempos que o Rui retrata não eram fáceis em Portalegre, cidade fechada
de um interior onde as diferenças socias eram marcadas e marcantes.
A Portalegre do Rui Aragonez, nove meses mais novo do que eu
e como tal sempre um ano atrás de mim nas escolas, também era a minha. Se para
ele o centro era a Rua do Pirão, que se estendia ao Largo dos Combatentes e
Café Alentejano, a aminha começava na Rua da Pracinha e ia do Largo de S.
Lourenço ao Café Facha. Em comum, o estarmos ambos na cidade antiga.
E é nesta cidade antiga que o Rui é feliz.
De nomes, locais e histórias, assim como das estórias, fala
o Rui. Também conhecemos muito do que narra. Mas é nas suas próprias história
que a escrita do Rui mais vibra. As suas experiências profissionais, as suas
aventuras como agricultor e aviador, enfim, aquilo que ao longo da vida foi
vivendo e construindo, são ditas usando uma ‘segunda pessoa’, o António
Bernardo Gomes Salvador.
Não é um pseudónimo, será uma vezes a sua consciência a
falar, outras é o seu lado de menino que nunca cresceu. E outras o homem que
amou. Salvador levará sempre «a carta a Garcia». Salvador é justo e
compreensivo. Salvador é o Rui quando se sente em Família e entre os Amigos.
O Rui ao longo do livro passa por diferentes estados de religiosidade,
carateriza sociologicamente aquele Portalegre, e dá um testemunho da sua vida,
sem se importar dos julgamentos que dela venham a fazer.
Será «Retratos de Gente em Procissão» um livro datado, um
livro de uma geração? É sempre. Por mais que se não queira, as Memórias são
sempre datadas, localizadas e focalizadas.
Então, que se leia e se guarde esta obra, e dela se diga ser
de um tempo em que o Autor foi feliz.
O Rui fez-nos voltar atrás no tempo, e também nos fez ser
novamente meninos, meninos felizes.
Mário Casa Nova Martins
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