Luís Filipe Meira
Rodrigo
Leão no CAEP
Em Clima
de Austeridade
*
Rodrigo
Leão regressou a Portalegre no último sábado, se a memória não me atraiçoa foi
a terceira vez que pisou o palco do CAEP, o que de alguma forma é demonstrativo
que há público em Portalegre para a música deste excelente compositor.
Leão vive neste final de ano um momento
importante na sua carreira. É já no princípio da próxima semana que irá fazer
os dois Coliseus, 2ª feira no Porto e 3ª feira em Lisboa, concertos que terão a
participação especial de Beth Gibbons
dos Portishead, Neil Hannon dos Divine
Comedy e Scott Matthew. Concertos que servirão também de apresentação para
a compilação Songs (2004 – 2012) a
ser editada no próximo dia 3 de Dezembro. Este disco, que poderá ser o primeiro
passo de uma trilogia, reúne, para além de um pequeno instrumental, dez canções
cantadas em inglês, sendo três inéditas e as outras sete extraídas dos álbuns Cinema (2004), Mãe (2009) e A Montanha Mágica (2011).
Ora com
tudo isto, apesar da noite de chuva e dos constrangimentos financeiros
conhecidos, era perfeitamente natural que houvesse algumas expetativas no ar. A
sala apresentou-se bem composta, com a nave principal praticamente cheia e as
laterais meio ocupadas, por um público de meia idade, mais ou menos conhecedor da
obra e que, aparentemente sabia ao que ia, ou talvez não…
Rodrigo
Leão apresentou-se com um ensemble
mais pequeno do que o habitual, 2 violinos, violoncelo, acordeão e ele próprio
ao piano. Esta formação, normalmente utilizada para showcases em salas mais pequenas, apresenta um reportório
praticamente instrumental com apenas duas canções no encore, Alfama e o já clássico Pássion na voz de Celina da Piedade.
É
verdade que os instrumentais de Rodrigo Leão são de uma beleza rara, alguns, de
um ritmo festivo e contagiante, outros, sendo que a interpretação é sempre
irrepreensível. No entanto a grande riqueza da música de Rodrigo Leão assenta
no cruzamento e na conciliação de elementos de origens várias. A música de Leão
é construída a partir de uma base clássica com um toque levemente pop em
ambiente festivo por vezes, mas apresentando também um lado nostálgico em que a
presença da portugalidade é constante. Quero eu dizer, que, na minha opinião, a
música de Rodrigo Leão só atinge a sua real dimensão e a sua plenitude quando
apresenta o equilíbrio das duas vertentes, a nostálgica e a festiva, e para
este equilíbrio ser consistente necessita de canções no alinhamento. E foi o
que o concerto do CAEP não teve. As duas canções finais - muito bem cantadas
por Celina da Piedade, diga-se – não apagaram a sensação de desconforto que ao
longo do concerto se foi instalando, pela falta de uma voz que trouxesse mais
equilíbrio à prestação. Diria que faltou a pitada de sal
ao manjar, a cereja em cima do bolo.
E não será por acaso e como referi atrás, que
Leão vai editar um disco de canções reconhecendo assim o valor que estas têm no
contexto da sua obra.
O
compositor que vê este álbum como uma sistematização de um lado mais pop que a
sua obra inaugurou em “Cinema” e a
que tem voltado regularmente com resultados apaixonantes. E isto porque, como o
próprio Rodrigo Leão sublinha, “a pop
sempre existiu na sua música, essa
vertigem pela canção de recorte mais transparente, capaz de se instalar nas
cabeças e nos corações de todos que a ouçam “.
Não
obstante todas estas considerações não tenho dúvidas em reconhecer a excelência
do concerto.
Mas que houve por ali uma sensação meio
desconfortável, também não tenho dúvidas.
Luís Filipe Meira
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home