Luís Filipe Meira
Os
Trabalhadores do Comércio no CAEP
O
Show duns “Gaijos du Porto”
O CAEP abriu as
portas a um dos grupos mais antigos e em atividade do pop/rock português, os
Trabalhadores do Comércio. Já lá vão 32 anos desde que Sérgio Castro e Álvaro
Azevedo, dois músicos da banda de hard
rock “Arte & Ofício”, decidiram partir para um projeto paralelo assente
na linguagem popular e brejeira utilizada nos bairros populares da cidade do
Porto. Histórias de faca e alguidar, carregadas de sentido de humor e crítica
social, embaladas em sons pop/rock, algumas delas contadas ou cantadas pela voz
de um puto reguila de 8 anos de idade, levaram que os Trabalhadores do Comércio
atingissem razoável sucesso durante a década de 80 com singles bem esgalhados
como “Chamem a Polícia”, “A Cançom Que o Abô Minsinou”, “A
Chabala do Meu Curaçom”, “Apunhalaste a Minha Mãe”, “Taquetinho Ou Lebas
Nu Fucinhu”.
Sucesso que os levaria ao Festival da Canção em 1986 que acabariam por vencer com “Tigres de Bengala”. Quatro
Lps de originais e duas compilações além dos singles citados, foi a
produção dos Trabalhadores até 96. Mas a vida de músico é pouco gregária e nada
sedentária o que levou à paragem mais ou menos tática da banda, para que os
seus elementos dessem asas a outros projetos. Nos últimos anos houve nova
aproximação que deu origem ao álbum “Iblussom” (2007) e ao recente “Das
Turmantas há Buoua Isperansa”, Livro-CD, espécie de espólio, que além de
temas originais, tem um livro com a história e imenso material sobre estes 32
anos de carreira da banda de Sérgio Castro e Álvaro Azevedo.
Foi no âmbito da digressão que promove “Das Turmantas há Buoua
Isperansa”, que os Trabalhadores do Comércio aterraram no palco do Grande
Auditório do CAEP no último sábado. Recebidos por muito pouca gente, não mais
de 60/70 pessoas, os Trabalhadores dignificaram o nome, ignoraram o aspeto
desolador de uma sala vazia diante de um palco cheio com sete músicos e
atiraram-se ao trabalho, como se a sala estivesse cheia. Ultrapassado algum constrangimento
inicial, os espetadores também se sentem desconfortáveis numa sala quase vazia,
e com um início em ritmo funk bem batido, os “gaijos du Porto”
arrancaram para um concerto de se lhe tirar o chapéu. Entre a memória e a
atualidade, entre o r&b e a soul passando pelo rock puro e duro até ao
blues e mesmo ao jazz aqui e ali, se foi fazendo um concerto de nível elevado
com os músicos, excelentes por sinal, a fruírem o momento e a puxarem pelas
cinco ou seis dezenas de maduros que ali estavam, mas que não se fizeram
rogados a cantar, participar e a divertirem-se. Os músicos ficaram felizes, a
malta não teve razões para chorar o preço do bilhete, antes pelo contrário, foi
feliz para casa e ninguém gritou “Chamem a Policia, que eu não
Pago”, não gritaram mas cantaram…
Um luxo a noite do último sábado no CAEP com o show desses Gaijos du Porto.
Luís Filipe Meira
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